Capítulo Dezessete

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As roupas largas e escuras não escondiam o porte mediano do intruso, era um pouco mais alto que Luz, cabelo castanho escuro encaracolados em cachos graúdos e sedosos, estavam precisando de  corte pois os fios tinham  cumprimento estranho que dava volume a cabeleira juvenil arrepiada. Não usava nenhum tipo de acessório, nem óculos, relógio ou brincos, talvez em virtude da invasão, ou talvez por gosto mesmo. A primeira era um rapaz simples, com gostos comuns e a pele clara e bem cuidada mostrava que não pegava sol excessivo, talvez até fosse de uma família bem sucedida.

Assim que o personal trainer viu o rapaz perto de Samuel e Luz, o alcançou rapidamente e o agarrou pelo pescoço, lhe deu um soco no nariz, cego de raiva como nos velhos tempos. Xingou meia dúzias de palavrões feios e ameaças sobre como ensinaria um pervertido a respeitar as filhas dos outros.

Luz desatou a chorar, mais por medo de apanhar também do que pela integridade física do suposto namorado. Sempre temeu que um dia Toni cumprisse as promessas que fazia de uma lhe dar uma boa surra.

Samuel precisou intervir e segurar o braço musculoso e tenso do marido. Ao contrcontrárioario do que muitas vezes aconteceu com César, anos atrás, Toni parou no ato, para não machucar o companheiro, pois jamais agridiria Samuel, independente da raiva que sentisse.

A julgar pelas histórias que Samuel ouviu da boca de Viviane anos atrás, se fossem outros tempos, Toni já teria jogado aquele infeliz rapazote na parede, dado um pisão no peito e quebrado um braço pelo menos.

— Toni para com isso! — ordenou Samuel, usando um tom autoritário inédito para todos, pois ninguém nunca o ouviu falar com voz de comando ao marido.

Até Toni se surpreendeu e se distraiu um instante do intruso, encarou Samuel de modo questionador, mas o músico não recuou, pelo contrário, se manteve firme até mesmo no olhar.

— Ele não é um invasor e muito menos um pervertido! Não é Maria da Luz? — concluiu, se voltando para a filha, com a mesma autoridade.

A menina arregalou os olhos primeiro, então abriu a boca mas tornou a fechar. Estava assustada, completamente em pânico, por isso nem respondeu, mas fuzilou Samuel com os olhos azuis, subitamente incendiados de raiva.

— Ele veio ver a Luz, se conhecem. — resumiu Samuel, numa frieza sinistra.

Toni olhou para filha incrédulo e por fim soltou o pescoço do intruso, que tossiu e resfolegou, quase indo ao chão.

— Entra! — ordenou Toni, ainda se recuperando do susto.

Luz olhou para o pai e depois para o rapaz, cheia de temor.

— Eu mandei tu ir para dentro, agora! — falou ainda mais alto.

Muito espantada, Luz deu um passo, mas hesitou, mesmo tremendo de medo olhou outra vez para os três, mas quando encarou Samuel seu olhar foi de pura súplica.

— Vamos entrar todos — anunciou o músico.

— O quê?! —  interveio Toni, perplexo.

Pela primeira vez Samuel mostrou impaciência e algum amargor no rosto.

— Eu estou com frio, meu joelho está doendo, temos que avisar aos outros que está tudo bem e ninguém vai embora sem explicar o que aconteceu.

Sinalizou para que Luz começasse a se mover, quando ela obedeceu encarou o intruso com seu olhar mais frio e cortante e repetiu o gesto, mas o garoto não se moveu. Apenas o encarava de volta inexplicavelmente raivoso.

— Pode ficar aqui sozinho com ele se quiser — desafiou, se referindo a Toni, que ergueu as sobrancelhas em sinal de surpresa com a aura ameaçadora do músico.

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