Trinta e Oito

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O corpo era bonito e sedutor sem dúvida, o tom da pele era muito semelhante e tornava fácil visualizá-lo assim, nessa posição tão obscena. Especialmente porque a cabeça dele foi literalmente colocada naquele corpo, num trabalho de montagem muito bom, mas aqueles insultos escritos com tanta vulgaridade o estavam deixando louco de raiva.

- Tu tá de zueira né? - tentou, ainda se recusando a acreditar naquilo.

- Esse não é exatamente o tipo de brincadeira que eu faria. Quer dizer, eu sei que sou sarcástico as vezes, mas nem tanto - comentou com tranquilidade.

- Filhos da puta! Que merda! A Luz tá recebendo essa porcarias?!

Samuel suspirou, lembrando do seu encontro nada agradável com a Franco mais nova.

- Sim, está e pelo que pude observar, já faz bastante tempo, bem, pelo menos agora algumas atitudes mais negativas dela com relação a mim estão fazendo mais sentido.

- Porra! - Xingou Toni, colocando uma das mãos nos próprios cabelos em sinal de aflição.

A cafeteira desligou, emitindo um som de alerta e Samuel se levantou da cadeira, deixando o moreno entretido com a foto bizarra que havia tomado o cuidado de enviar para si mesmo antes de devolver o smartphone da irmã caçula.

Assim que Samuel serviu os cafés, virou de volta para os armários bicolores em preto e marrom, pegou pratos e colocou na mesa.

- Eu sei, eu também fiquei chocado quando vi. Mas é serio, eu comecei a entender toda essa raiva que ela começou a ter por mim de forma gratuita. - divagou enquanto trazia o refratário com o bolo de banana e farinha de rosca que havia ficado pronto meia hora atrás.

- O quê que uma coisa tem a ver com a outra Samy, qual é...

- Sabe, antes, bem antes dela se interessar pelos pais biológicos e começar a fazer perguntas, nós já não estávamos nos comunicando muito bem. Ela estava rebelde lembra? Você disse que era uma fase... mas eu acho que já estavam começando a implicar com ela na escola. Como eu posso explicar... - refletiu em voz alta, foi colocando pedaços de bolo nos pratos - como quando você me odiava por causa do que o Eduardo fez com você, tudo bem que não é exatamente o mesmo caso, mas se parar para pensar bem, é semelhante em alguns aspectos... quer dizer, o mundo gira, o tempo passa, mas o ser humano continua imutável, tão cruel e irracional as vezes, enfim, creio que ela só estava redirecionando a raiva dela, como uma válvula de escape, ela precisava descontar em alguém, entende o que quero dizer?

Toni literalmente bufou e soltou aparelho enojado, talvez não com o cuidado que devesse ter, pois o som do impacto foi alto.

- Isso não é motivo pra ela ser malcriado daquele jeito contigo - argumentou, esfregando o rosto com agonia e agora deixando as duas mãos nos cabelos e apoiando os cotovelos na mesa.

Samuel pegou apenas um garfo, pois sabia que o marido comeria com a mão, então sentou.

- Não entenda errado, não estou tentando justificar a falta de educação dela comigo. Só estou organizando os fatos, fica mais fácil de ter uma perspectiva mais abrangente.

- O quê eu não saquei é porque que o caralho daquela escola não me disse nada, eu fui em todas as reuniões, assinei as atas, respondi todos os comunicados...

- Eu acho que a Zenaide tem medo de você.

- O quê?! Por quê?!

Toni realmente o olhou chocado, como se isso fosse um grande absurdo e isso fez Samuel rir um pouco antes de tirar um mísero pedaço do bolo no seu prato e colocar na boca.

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