Cinquenta e oito

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— Eu acho que a minha perna direita tá bem melhor, já consigo dobrar normal — comentou, fazendo o movimento com facilidade.

— Isso é ótimo — elogiou, esticando o elástico do lençol e engatando no colchão.

— Ainda não dá pra deitar desse lado, não tá mais inchado, mas essa porra desse hematoma dói quando aperta. — contou, tirando a toalha da cintura para ver a mancha escura que ainda persistia bem em cima do osso mais alto do quadril.

— Isso é normal, mas pelo menos você consegue caminhar sem sentir dor — comentou, puxando o outro lado do lençol.

— Não dá pra correr, nem subir e descer a escada o tempo todo… o problema não é nem a direita, é esse diacho disse caroço na minha outra coxa. — reclamou, enxugando o pescoço.

— Mas já desinchou bastante — pontuou, pegando os travesseiros na poltrona e arrumando de volta na cama.

— É mas ainda dói só de colocar o pé o chão.

— Então deita, já terminei aqui — autorizou, indo até o roupeiro e pegando um edredom limpo.

— Aí, na boa, o quê que tu tem contra cores? — questionou, olhando a cama com estranheza.

— Hum? Nada, porque? — dispensou com naturalidade.

Toni ergueu uma sobrancelha na sua direção e indicou a cama com um aceno. O lençol era preto, assim como o edredom e as fronhas e isso contrastava bem com a cabeceira dupla branca, porque o abajur também era preto. Isso não favorecia muito a claridade, pois a parede atrás da cama era algum tipo de verde cinzento escuro.

— Eu não tinha notado… a decoração do quarto é bem sóbria — comentou.

— Sóbria? Isso quer dizer o que? Que tu não tava bêbado quando escolheu a paleta de cores? — implicou.

Samuel sorriu e balançou a cabeça, desdobrando o edredom.

— Engraçado você. Não sei amor, eu não gosto de cores muito vivas. Coisas muito coloridas me deixam nervoso, acho que isso só… se incorporou a mim — falou dando de ombros.

Toni sentou na cama lentamente, porque forçar os músculos ainda era um problema.

— Cores vivas te deixam nervoso? Por quê? — questionou, com estranheza.

Samuel parou na frente do homem e olhou rapidamente o corte na cabeça, em seguida pegou uma toalha de rosto limpa no roupeiro e foi enxugar os pontos com cuidado, apenas encostando o pano para evitar puxar alguma parte da linha.

— Ah eu não faço ideia, vai ver isso está relacionado à infância. Você falou com o César? — mudou de assunto.

— Mandei uma mensagem pra aquele filha da puta, ele tá de plantão hoje, mas vem amanhã depois de descansar e Lucas vem também. Tipo, de tarde. Mas porque teu medo de cores teria a ver com a infância? — insistiu, realmente curioso.

Samuel riu um pouco e continuou sua tarefa, enxugando o cabelo ao redor também.

— Não coloque palavras na minha boca. Em nenhum momento eu disse que tinha medo, eu disse que fico desconfortável. Eu não sou profissional especializado na área, mas estudei algumas disciplinas de psicologia na faculdade e às vezes faço pesquisas por razões recreativas quando tenho tempo e… — suspirou, voltando a concentrar os esforços no corte — o que eu falei sobre estar relacionado a infância, foi apenas um palpite. Você pode só chamar isso de gosto pessoal… eu prefiro cores escuras, mas não é muito estranho você se incomodar com isso só agora? 

— Eu não tô nem aí brother, só que hoje ficou meio impossível não reparar, porque tipo, isso aqui tá parecendo um quarto temático de motel, sacou? Tipo dia das bruxas, só falta o led vermelho no teto.

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