Trinta

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— Presta atenção, porque eu só vou falar uma vez. Se eu receber uma reclamação da escola eu pego ele de volta. Também não quero saber de tu fazendo serviço mal feito na pensão por causa dessa porcaria. É pra trabalhar direito, pra fazer as coisas com atenção…

Toni encarava a filha seriamente e Luz retribuía de forma ansiosa.

— Sim senhor paizinho,  pode deixar comigo, eu juro que eu vou fazer tudo direitinho, o senhor não vai ter do que reclamar e…

— E mais uma coisa, essas brigas estúpidas com as tuas primas vão acabar a partir de agora, tá ouvindo? Eu não quero mais saber de nenhuma de vocês perturbando o Samuel ou eu com essas picuinhas por causa de blusa e escova de cabelo e sei lá o que mais.

— Sim senhor! Tudo que o senhor quiser! Eu juro, vou ser um anjo de tão inocente e comportada o resto do ano! — implorou, juntando as mãos em prece enquanto alternava olhares entre o pai e o celular que ele segurava.

Toni ainda apontou o dedo em forte para a menina.

— Eu vou te cobrar isso hein, olha lá. 

Antes que ela se derramasse em mais promessas que certamente não seria capaz de cumprir ele lhe entregou o aparelho. Luz começou a pular rodopiando e dando gritinhos histéricos por um momento, em seguida ela se pendurou no pescoço do homem e tascou-lhe um beijo na bochecha.

— Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, eu te amo…

— Ah tá, agora ama… vai cuidar das tuas coisas e para de frescura, que porra. Lava a louça do almoço e ajuda a tua vó com a limpeza.

Luz o soltou, saltitante e com o maior sorriso do mundo, suspirou e saiu correndo para colocar o celular para carregar. Depois de tantos dias trancado numa gaveta ele não tinha nenhum por cento de carga.

Foi difícil resistir a tentação de largar toda a louça na pia e correr para o quarto, mas conseguiu. Limpou a cozinha depois do almoço em tempo recorde, a mesa ficou tão limpa que até brilhava.

Assim que teve certeza de ter terminado todas as tarefas, saiu em disparada para a sala, louca para matar sua curiosidade. Mas sentiu toda sua animação murchar assim que entrou e se deparou com as primas espalhadas no sofá, As ignorou com força de vontade, pois tinha coisas mais importantes e urgente para fazer, foi até a janela e pegou o celular que havia deixado no parapeito enquanto carregava.

Não tinha a menor possibilidade de ficar perto delas tão cedo, estava farta de ter que dividir seu pequeno quarto com a gêmeas. Elas eram folgadas e bagunceiras, mexiam mas suas coisas, tiravam tudo do lugar e o pior e que sempre levava a culpa. Era irritante. Neste exato momento o lugar estava interditado, seu pai tinha quebrado parte da parede e puxado a fiação queimada, havia pó de cimento, cacos se tijolo, e pedaços de fio para todo lado.

Saiu dali sem dar se quer um olhar simpático para as duas, fugiu até o quintal, mas ficou tão preocupada em ser flagrada que se enfiou no depósito. Se acomodou no alto de uma pilha de cadeiras de plástico, das que a sua avó usava nos almoços de fim de semana.

Suas mãos estavam tremendo quando destravou a tela e sorriu emocionada ao ver a foto na área de trabalho. JB estava sorridente ao seu lado, o cabelo arrepiado e Luz estava com o braço por cima do ombro dele, sorrindo muito.

Por mais saudosa que estivesse de trocar mensagens com seu crush, foi objetiva e puxou seu raciocínio de volta a realidade. Se apressou em acessar a galeria de fotos e num instante seu coração disparou em solavancos fortes no peito.

Samuel podia não querer lhe contar nada sobre seu verdadeiro pai, mas descobriria de qualquer jeito. Tudo que precisava era de um nome para o homem sem rosto que imaginava desde criança. Depois bastava fazer uma pesquisa na internet, algum perfil ele deveria ter, afinal todo mundo tem.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now