Capítulo Dez

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 A vida na Pensão da Magnólia era regrada por uma rotina quase imutável, de horários fixos e tarefas infindáveis. Tudo para que um lugar espaçoso e cheio de pessoas como aquele não virasse uma zona.

Mesmo aquele domingo sendo um dia especial, não fugiu a rotina. Desde cedo todos estiveram muito envolvidos com os preparativos do passeio, cada um teve uma tarefa a cumprir, desde comprar gelo, temperar a carne crua, pegar a churrasqueira portátil do depósito e limpar.

Tudo para que estivessem prontos antes do aniversariante acordar. Logo, quando estavam devidamente instalados à sombra de uma árvore em meio as pedras de todos os tamanhos, os mais novos atacaram a vasilha de sanduíches. Magnólia precisou colocar um pouco de ordem na bagunça, junto com Carmem serviu o café da manhã as dez e quinze da manhã. Como era bem mais tarde do que era costume as crianças estavam famintas, com exceção de Vitória, que veio da casa dos pais, ninguém mais tinha tido tempo de se alimentar antes de sair.

Samuel até tentou passar despercebido, mas os olhos de águia da dona da pensão não deixavam passar nada, ou melhor, ninguém.

Magnólia de repente lhe empurrou um sanduíche de queijo na mão.

- Eu não estou com fome tia...

- Ah! Eu não te perguntei! Você acordou tarde e ainda não comeu nada. Então pare de ficar me respondendo. Tá muito magrinho! – foi falando, com firmeza mas bem humorada, enquanto procurava alguma coisa no gelo.

Samuel sabia que não adiantaria discutir, Magnólia era assim mesmo, pelo menos sabia a quem Toni tinha puxado com aquele jeito mandão.

- Desculpe querido, eu sei que preferia café, o Toni disse que se encarregaria disso, mas era tanta coisa para fazer... ele disse que esqueceu. Mas aqui entre nós meu filho... eu não acredito muito nisso.

Magnólia lhe encarava com aqueles olhos pretos cheios de bom humor e cumplicidade, lhe entregando um copo de suco de maracujá.

Samuel mostrou um sorriso mínimo, consciente que era bem provável que o marido tenha deixado de fora a garrafa térmica com café de propósito. Quando lançou uma olhada na direção dele, que estava posicionando a churrasqueira ali pertinho com a ajuda de César, recebeu uma piscadela gaiata de volta, como se isso confirmasse suas suspeitas. Só podia sorrir e balançar a cabeça numa negativa diante da infantilidade do marido.

- Oh tio. O senhor está ficando um ano mais velho não é? – começou Vitória, muito de repente, sentada ao lado das meninas, que devoravam seus lanches ainda.

- Dã... Óbvio né fedelha- manifestou-se Luz, antes que o músico tivesse tempo de responder.

- Luz, não fala assim com a sua prima – pediu Samuel, muito diplomático.

- Me erra. Essa coisa não é parente minha nem aqui nem na china!

Samuel ia repreender a filha outra vez, mas Vitória foi mais rápido, defendeu-se.

- A conversa não chegou no galinheiro.

A criança foi colocando as mãos na cintura e fazendo um bico debochado, demostrando que havia puxado à mãe sem nenhuma dúvida. Vitória normalmente era meiga e sorridente, muito educada também, mas quando estava irritada tinha a língua afiada.

- Paiê! Olha como essa sua afilhada perfeitinha fala comigo!

Samuel tentou intervir quando Luz se inflou toda, mas Toni foi mais rápido.

- Tu começou não foi? Agora aguenta! – deu de ombros, sem se alterar.

A verdade é que Toni nunca deu muita importância para a rivalidade que existia entre as duas. Ou talvez não tivesse se dado conta que elas implicavam uma com a outra, num tipo de disputa por seu amor.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now