Capítulo 10

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— Por que é que você está carregando uma mala?

Thais me encara, franzindo a testa.

— Luísa, você realmente acha que eu ia despencar lá de casa até aqui pra buscar roupa depois que você experimentasse seu armário inteiro e não gostasse de nada? Eu te conheço, minha filha! Estou me poupando do trabalho.

Fecho a cara, puxando-a para dentro, e seguro a porta. As rodinhas da mala gigantesca de Tatá arrastam pelo chão da entrada, fazendo ruído.

— Eu não ia fazer você voltar!

— Quem não te conhece que te compre, Lulu! — ela protesta, dando risada.
Fecho meu bico, admitindo bem lá no fundo que ela tem uma parcela de razão. Ou todas as parcelas.

— É meio difícil decidir o que vestir quando não sei onde vou. — digo, em minha defesa.

— Ele não te contou mesmo? — ela pergunta, me olhando de esguelha enquanto tenta abrir uma faixa de espaço livre na zona em que minha cama se transformou.

Faço que não com a cabeça, ainda revirando a última gaveta do meu guarda-roupas, como se, magicamente, a peça perfeita fosse aparecer bem ali, diante dos meus olhos e ao alcance das minhas mãos.

— Achei que o Vicente ia dar com a língua nos dentes rapidinho. Afinal, vocês conversam muito, não é?

Desvio minha atenção pra ela. Thais sorri provocativa, sabendo exatamente quais serão minhas palavras sobre isso. Desde que eu e Vicente fomos ao Arquivo, ela tem tentando com força de vontade ferrenha arrancar algo substancial sobre nossa relação – palavras dela, não minhas – de nós dois. Tatá não sossega.

— Não sossego mesmo. Não até que você confesse.

Ah, então ela lê pensamento agora?  Arqueiro uma sobrancelha para ela, sem nem cogitar a possibilidade de perguntar  o quê ela espera que eu confesse. Sei bem o que ela vai responder, e me recuso a escutar isso.

— Vai me ajudar a encontrar uma roupa ou não?

Ela bufa, e sinto o impacto de algo na minhas costas. É uma bola formada por um casaco grosso, três tamanhos maior que eu, arremessado por ela do outro lado do quarto.

— Você acaba com toda a diversão, Lulu. — reclama.

Jogo-o de volta, acertando-a bem na cara. De nós duas, a minha mira sempre foi melhor. Atravesso o cômodo e me jogo ao lado dela na cama, por cima da montanha de roupas bagunçadas.

— Talvez eu não devesse ir.
Thais ergue-se num ímpeto, os cabelos intensamente pretos caindo sobre o rosto. Ela os afasta em um gesto rápido e vira-se totalmente pra mim.

— O quê? É claro que você deve ir!

— Thais... — solto um barulhinho de insatisfação, puxando uma almofada por sobre a minha cabeça. Aperto-a entre os meus dedos. — Eu não faço ideia do que ele pretende fazer, e eu nem sei o que vestir!

Ela agarra a almofada, me obrigando a soltá-la e revelar meu rosto.

— Pare de encontrar desculpas para não fazer o que você obviamente quer. — ela censura — Você vai sair essa noite, e vai ser incrível, porque você merece que seja, Luísa.

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