Capítulo 25

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A luz vaza pelas janelas cedo demais, um brilho suave incomodando meus olhos

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A luz vaza pelas janelas cedo demais, um brilho suave incomodando meus olhos. Eu os esfrego antes que consiga abri-los.

Uma figura assoma-se ao lado da minha cama, em uma posição desconfortável e aparentando mal ter dormido.

Vicente está ressonando em uma poltrona arrastada do canto do quarto, um cobertor sobre suas pernas, o pescoço pendendo em um ângulo dolorido, a meros centímetros de mim.

Foi assim que ele passou a noite?

Eu não me mexo para nada além de conseguir uma visão melhor dele. Observo-o enquanto dorme, o rosto livre de expressões e o sobe-desce de seu peito em respirações cadenciadas. Sinto uma súbita vontade de sorrir.

Às vezes acho que Vicente simplesmente sabe quando o escrutino assim. Que sente meu olhar sobre ele ou perceber quando estou prestando atenção. Porque não demora muito para que suas pálpebras tremulem e ele me encontre encarando.

— Bom dia. — ele sorri.

É a cara de Vicente passar a noite embolado em uma poltrona e acordar sorrindo.

E apesar de ser absurdamente cedo e de eu me apegar a cada resquício de sono que me resta, me pego sorrindo de volta.

🎼

Vicente volta para o próprio quarto enquanto eu me arrumo para o café da manhã. Tomo um banho, ansiosa pela sensação de limpar a noite anterior da minha pele.

É sempre muito assustador estar do lado de dentro de uma crise. Mas também é muito assustador estar do lado de fora, e me questiono como foi para Vicente assistir à tudo aquilo.
Ele bate na porta quando termino de me vestir e apenas ajeito o cabelo com as mãos antes de abri-la para ele.

— Oi.

— Oi. — ele parece um pouco nervoso por algo.

— O quê foi? — questiono, abrindo espaço para que ele entre no quarto.
Ele solta o ar, caminhando para dentro.

— Preciso te perguntar uma coisa.
Apenas olho para ele, esperando que prossiga.

— Lu, se quiser voltar pra casa, tudo bem. Com a crise de ontem...

É, eu sei. Eu ainda parecia cansada quando me encarei no espelho essa manhã. Vicente não está muito diferente, ambos aparentando a noite mal-dormida que realmente tivemos.

Mas balanço a cabeça em negação.
Acho que tive algum tipo de resolução milagrosa entre o momento em que dormi ontem e que acordei.

— Você prometeu que me levaria para conhecer a cidade. Não pretendo fazê-lo quebrar sua promessa.

Ele parece lutar contra um largo sorriso, e sei disso pela forma como suas covinhas aparecem e somem, repetidamente, sem firmarem-se. Entrego esse sorriso.

— Tem certeza?

— Toda.

Porque não vou perder mais nada pro silêncio.

— Por que estava nervoso pra me perguntar isso?

Ele segura minha mão e me puxa pra mais perto.

— Eu meio que já tinha uma resposta favorita para essa pergunta.

Dou risada. E então passo os braços pela sua cintura. Vicente corresponde o abraço, segurando minha cabeça contra seu peito.

— Obrigada. — digo, abafado. — Não só por ontem.

Ele balança a cabeça, a rara timidez fazendo um tom de vermelho subir por sua nuca. É bonitinho e incrivelmente satisfatório vê-lo envergonhado.

— Estou feliz por você estar aqui. — diz contra meus cabelos.

Ele beija o topo da minha cabeça e se afasta poucos centímetros. Ele indica o andar de baixo com um gesto vago de cabeça

— Vem, seu precioso café vai esfriar.
Eu desço a seu lado, com uma incrível vontade de saltitar.


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