Capítulo 15

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Estamos sentados juntos, eu, Vicente, Thais e Matheus, em cuja existência só acreditei quando foi realmente apresentado a mim

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Estamos sentados juntos, eu, Vicente, Thais e Matheus, em cuja existência só acreditei quando foi realmente apresentado a mim. Até então, eu tinha certeza de que Thais o tinha inventado apenas para me forçar a passar tempo com Vicente. Nós criamos uma muito mutável rotina de passarmos todo intervalo possível uns com os outros, comendo qualquer besteira que possa se comprar em um pacotinho. Quase nunca os horários batem, mas pelo menos um de nós está sempre aqui.

Thais se esgueira para meu lado, em uma tentativa de roubar batatinhas de meu pacote. Ela é uma ladra horrível, com movimentos brutos e nenhuma habilidade de disfarce. Mas ela concede exatamente todo o estardalhaço de que Matheus precisava para abrir  seu salgadinho, ainda maior  do que eu meu, sem ser notado. Estreito os olhos para ele, que dá de ombros com um sorrisinho. É um homem de poucas palavras.

— Tire seus olhos da minha comida. — bato na mão de Thais quando ela insiste em sua vigésima tentativa de furto, sem sucesso. — E as mãos também!

Thais faz bico, queimando-me com o olhar.

— Jesus ensinou a dividir o pão, Lulu! — ela argumenta.

— Ele nunca disse nada sobre batatinhas. — rebato, rindo, mas entrego o pacote para ela.

Minha amiga esparrama-se no banco de madeira, espaçosa, quase derrubando Vicente e eu das beiras. Ele levanta-se de seu lado e dá a volta na mesa para sentar-se ao lado de Matheus, mas não antes de roubar, com muito mais habilidade, as batatas da mão de Thais, que faz cara feia. Risada escala minha garganta e preciso sorver um grande gole de refrigerante para fazê-la descer. Vicente relanceia um olhar para mim, um aviso de que sabe o que estou fazendo. Mas não dura muito tempo. Seu celular vibra sobre a mesa e ele se levanta para atender.

Estica as disputadas batatas para Thais, que as agarra com avidez e um sorriso vitorioso no rosto.

— Isso é só enquanto eu atendo! — ele decreta, mas é claro que ela não vai acatar tão fácil assim.

Observo-o se afastar levando o aparelho até a orelha, aquele sorriso ainda brincando em seu rosto. Me distraio vendo-o conversar com a pessoa do outro lado da linha, notando como o sol faz sua pele parecer mais quente e atrativa ao toque.

Mas então a postura de Vicente muda, ombros enrijecendo. Sinto, mais do que vejo, a tensão espalhar-se de seu âmago até a ponta dos seus dedos. Nervosismo se apossa de mim, e concentro minha atenção em sondar sua expressão, buscando algo que nem mesmo sei o que é. Quero algo que me diga que está tudo bem, que ele está bem.

Vicente balança a cabeça em um movimento tão bruto quanto  o  resto e desliga o celular, percorrendo a passos rápidos o caminho de volta até nós.

Último Som Where stories live. Discover now