Capítulo 16

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Estou coberta de tinta guache de todas as cores, o que faz com que eu ganhe um sorriso imenso da criança de oito anos mais amável que eu já vi

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Estou coberta de tinta guache de todas as cores, o que faz com que eu ganhe um sorriso imenso da criança de oito anos mais amável que eu já vi. Isso compensa todo o tempo que vou gastar debaixo do chuveiro tirando manchas azuis do  braço e amarelas do cabelo.

Estou cumprindo minha promessa.

Agora, Pietro exibe o rosto largo e majestoso de um tigre em seu gesso, o desenho e as cores escolhidos a dedo por ele. Atrás do animal, estrelas brilham organizadas em constelações, pintadas delicadamente em tinta metálica. Pietro pediu para deixar um espaço em branco, para que seus amigos pudessem assinar, ao que eu prontamente obedeci. 

Ele analisa o quadrado vazio na parte interna do antebraço com atenção.

— Eu quero seu nome bem aqui! — ele impõe, apontando para o centro dos espaço.

— Sim, senhor! — respondo, dando risada.

Pietro sobe para procurar uma canetinha com que eu possa assinar e observo seus fios loiros balançando enquanto ele pula degrau por degrau da escada como de fossem um desafio particular em uma missão de caça-ao-tesouro.

É bom estar aqui hoje.

É estranho ficar sozinha na casa vazia. Meus pais viajaram sozinhos a pouco mais de um dia, “viagem de casal" nas palavras deles. Não ter companhia em casa torna tudo silencioso de maneira quase assustadora. Talvez por isso eu tenha adiantado o cumprimento da promessa.

Pietro volta com um marcador preto nas mãos, passando a palma na testa para tirar os fios do rosto. Uma mancha roxa em suas têmporas já começa a desvanecer.

Sento sobre meus joelhos e apoio com cuidado seu braço imobilizado sobre as pernas. Estou trabalhando na última letra quando um leve rangido na porta indica a chegada de alguém. Termino de escrever rápido, para que Pietro possa saltar para a entrada e receber o recém-chegado.

— Vicooooo! — escuto-o gritar da porta — Olha só! A Luísa assinou meu gesso. E fez um tigre bem feroz aqui também.

Um som de descrença exagerado ressoa em resposta.

— Eu não acredito que você deixou ela assinar primeiro! Traidorzinho. — Vicente acusa, e imagino que Pietro esteja recebendo um ataque de cócegas quando risadas apressadas espalham-se pela casa.

De fato, o menininho reaparece na sala com o rosto tingido de vermelho, pendurado sobre um dos ombros do irmão.

— Como é que você explica isso, dona Luísa? — Vicente exige, forçando uma expressão de poucos amigos.

Abro um sorriso matreiro.

— Eu chamo de prioridades.

— Prioridades. — ele repete, aproximando-se. O corpo de Pietro balança a cada passo.

Último Som Where stories live. Discover now