Epílogo

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Dois anos depois: Braços  envolvem minha cintura por trás e um queixo apoia-se em meu ombro

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Dois anos depois:

Braços  envolvem minha cintura por trás e um queixo apoia-se em meu ombro. Vicente me vira para que eu fique de frente para ele – e enxergue seus sinais – quando fala:

— Dance comigo.

Incapaz de ficar parado por um segundo sequer, ele me puxa para o meio do pátio, nós dois de mãos dadas e rindo como crianças pegas no meio de uma bagunça especialmente divertida.

Déja vu.

Eu gostaria de repetir esse momento todos os dias. Todos os dias com ele.

Ele posiciona suas mãos em mim quando a música começa a tocar. É uma MPS – Música Pós-Silêncio. Vicente inventou a sigla terrível.

— Você não vai acertar essa. — ele diz enquanto me balança, seguindo um ritmo que não consigo mais ouvir.

Ergo uma sobrancelha para ele, desafiando.

— É o que veremos. Cante para mim.

Eu amo quando ele faz isso, porque ele faz por mim. Vicente não acredita muito em sua afinidade com a música, mas jamais negou cantar, em cada vez que eu pedi. Ele balbucia as primeiras notas, no que eu sei ser o tom de voz mais baixo que ele consegue alcançar. Espero alguns segundos, lendo seus lábios, e então começo a cantar também.

No encaixe exato com a canção.

A expressão de Vicente entrega isso.

Eu e a música realmente fizemos as pazes, depois de eu rendê-la aos pés de Cristo. Tudo ganhou propósito, e eu descobri que havia muita coisa além da minha capacidade de ouvir. Aprendi mais coisas com o silêncio do que com os anos em que passei escutando sem de fato ouvir.

— Não quero mais brincar. Tem certeza de que ainda é surda?

A derrota em seu rosto é tão bonitinha que me estico na ponta dos pés e deixo um beijo em seus lábios.

— Não me subestime, amor.

Ele olha para mim e sorri – sorri como se tivesse esperado por mim a vida toda. Seus olhos refletem essa sensação, esse tipo de orgulho por ter finalmente me encontrado. E é tão lindo que o mundo inteiro para, desaparece em névoa de estrelas e vento de inverno. Só existem ele e esses olhos. Ele toma meu braço direito carinhosamente, a pele quente deslizando pela minha quando ele segura minha mão, passando os dedos pelo aliança no meu anelar. A leve sensação de cócegas some quando seu olhar fixa em mim. E então ele leva meu pulso à boca e o beija, meu batimento acelerado contra seus lábios.

Sorrio, surpresa.

— O quê é isso?

Há um sorriso — aquele sorriso — estampado em seu rosto quando ele me responde:

— Sou grato pela sua vida. Quero que saiba disso.

Olho para ele, para o homem que passou o dia inteiro pendurando luzinhas na pousada para que seus avós ficassem felizes, o homem que corre com irmão pela praia por quanto tempo ele quiser, o homem que revira a cidade inteira procurando sons para pessoas com uma péssima tendência a fugir de confrontos e as pede em casamento mesmo depois de tudo isso... e transbordo.

Meu noivo.

Aproximo-me ainda mais, repetindo as palavras que foram o último som que ouvi antes do silêncio:

— Eu te amo.

Não preciso ouvir para saber o que ele me sussurra de volta.

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