Capítulo 26

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Às vezes é estranho pensar que adquirimos intimidade o suficiente para, neste momento, eu estar estirada no banco da frente, com os pés no painel do carro, alternando o rádio entre rock dos anos 60 e pop 2000-2010, enquanto Vicente dirige para for...

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Às vezes é estranho pensar que adquirimos intimidade o suficiente para, neste momento, eu estar estirada no banco da frente, com os pés no painel do carro, alternando o rádio entre rock dos anos 60 e pop 2000-2010, enquanto Vicente dirige para fora da cidade, para um lugar que nem sei qual é.

Ele cantarola vez ou outra e finjo não perceber toda vez que me olha. Ele faz o mesmo quando é minha vez olhar. É um acordo mútuo.

Eu estou lutando para gravar sua voz.

É um esforço estranho, na maior parte do tempo, me concentrar mais na sonoridade, no tom e na cadência do que no que Vicente realmente está falando.

Mas não posso evitar.

Eu quero me lembrar exatamente de como é, quero recordar com detalhes a ação que tem sobre mim.

Não contei isso para ele, mas é como se não precisasse, aquele entendimento que corre entre nós fazendo todo o trabalho por si só.

Então ele repete coisas, fala devagar e me manda dezenas de áudios em vez de mensagens de texto.

Meu coração dispara toda vez que ele faz algo assim.

O sol começa a descer e o céu ganha um tom de rosa, algumas nuvens se tingindo de roxo bem claro. Me distraio com isso e mal sinto o carro parar até que Vicente abra a porta para mim.

Olho em volta e não vejo nada. Simplesmente nada.

Estamos parados no meio de um campo extremamente extenso de grama verde e só. Nada macula a paisagem além das inclinações do terreno e uma ou outra árvore  esporádica. O canto de uma cigarra é o único som no local e não vai demorar a silenciar, levando em conta a velocidade com que o sol cai.

Torço os lábios.

— Estamos perdidos?

Vicente estreita os olhos para mim.

— Pare de fazer isso com a boca. É bonitinho demais.

Seguro um sorriso.

— E não estamos perdidos. — ele prossegue — Eu sou ótimo em geografia.

— Pare de se exibir.

É uma espécie de vazio calmante, esse lugar. Me dá vontade de correr e deitar, gargalhar e afundar em quietude, tudo ao mesmo.

— Não acho que tenha algum som aqui. — porque foi por esse motivo que Vicente me arrastou para cá.

— Exatamente. — ele sorri misteriosamente e não concede explicações.

Vicente se recosta na lataria do carro por alguns segundos e percebo, pela forma como força os olhos, que está tentando estabelecer até que ponto sua vista alcança.

— Quer apostar corrida? — um sorriso matreiro se forma em seus lábios. — Até aquela árvore — ele aponta para o menor dos pontos verdes, o mais distante — e de volta.

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