Capítulo 4-A vida é feita de recomeços.

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DANDARA SCHILLER

O sol mal havia ocupado seu lugar no horizonte quando eu já estava com as malas feitas e pronta para ir para o aeroporto. Eu mal havia pregado os olhos, que agora tinham imensas bolsas arroxeadas debaixo deles. Peguei minha mala e arrastei escada abaixo, encontrando minha família na sala.

A despedida era algo que eu odiava, porque sempre passava a impressão que seria a última vez. Então tentei meu melhor para fazer aquilo rápido. Quando chegou em Luann no entanto, eu pude sentir toda minha emoção ser multiplicada. Ele era meu raio de sol, dos meus três irmãos era o mais apegado à mim.

— Ei, fortão— Eu digo, tocando seu queixo e levantando sua cabeça.

Depois de um tempo em silêncio, Luan voltou os olhos claros para os meus. Para minha sorte  meus óculos escuros escondia minha expressão de choro iminente.

― Sunshine?—  Começou.—  Promete que não vai ficar muito tempo longe?—Pediu.—  Eu não quero nem pensar na possibilidade de que você não volte.

Demorei um tempo para responder. Eu não podia dizer que a ideia não havia passado por minha cabeça e nem podia dizer que vez ou outra ela não me assombrasse. 

— Claro que vou voltar. Como você iria sobreviver sem mim? — Brinquei e ele sorriu.

Mais alguns abraços e palavras de carinho, e então Nicole e eu seguimos para o aeroporto. Depois de todo processo para embarcar, entramos no avião e tomamos nossos lugares. Eu estava no assento da janela e ela no corredor. Afivelei meu cinto tentando parecer animada, mas eu sentia coisas demais se revirarem dentro de mim. Apenas algumas horas e eu já sentia falta de casa, sentia falta da minha família. Sentia falta da minha vida antiga, do meu trabalho, da Dandara equilibrada que sabia lidar com tudo.

―Então... —  A voz de Nicole me fez voltar do mundo dos pensamentos. — O que você quer assistir?
― Oi? —Perguntei meio atordoada.

Nicole apontou para as pequenas telas
de LCD.

― Para assistir! Você vai querer o quê? Eu estou pensando em escolher um documentário que fala sobre silicone. Será uma boa forma para passar o tempo aqui dentro.

Eu teria ficado feliz em tomar um calmante daqueles que eu tinha em minha mesinha de cabeceira, mas isso deixaria Nicole sozinha e ela estava naquele avião por mim. Respirei fundo e conclui que ela  tinha razão.

― Eu prefiro um drama com uma trama bem profunda.— Eu disse com um sorriso de canto.

Minha irmã faz uma careta.

― Dan, chega de filmes deprimentes. Eu não quero chegar à St. August deprimida, e nem você deveria.
― Não são deprimentes! São legais!—  Eu disse colocando um dos meus fones no
ouvido dela.— Veja esse. A história desse romance envolve guerra, cartas românticas, muita saudade e reencontros de aquecer o coração e transbordar os olhos.

Nicole revirou os olhos para mim e fechou a cara em seguida.
― Pare de sonhar com contos de fadas! — Reclamou.
― Pelo menos eu não estou querendo enfiar meio litro de silicone debaixo da minha pele— Brinquei porque ela tinha razão.
― Claro que não! A natureza foi generosa com você!— Praguejou.— Queria ver se tivesse seios do tamanho dos meus.

Acabei sorrindo. Era exatamente por isso que minha mãe sabia que Nicole era a melhor escolha para vim comigo. Ela conseguia extrair o melhor de mim, mesmo quando eu não achava possível e eu fazia o mesmo por ela.

— Você reclama muito, Nic. Seu corpo é lindo como é!

Ela sorriu comigo e desistiu de ver o tal documentário. Deitou a cabeça no meu ombro e ajeitou um dos meus fones em seu ouvido, dando uma chance ao filme que eu queria ver. A tarde estava em seu auge quando o avião pousou. A duração do voo é mais curta do que eu gostaria. Esperava que, no momento em que saísse do avião, já estivesse com os pensamentos em ordem. Que já teria me preparado para o modo “eu consigo!”. A realidade é muito mais próxima de um enjoo profundo, mas é tarde para voltar atrás. Mesmo sentindo uma inquietação estranha dentro de mim, tentei não deixar transparecer.

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