Capítulo 19-Não há sorte nem desgraça; o que há é prudência e imprudência

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DANDARA SCHILLER

O meu segundo dia no Hospital de St. August é mais agitado que o dia anterior. Logo pela manhã sou agredida com uma dose incapacitante de realidade quando um bebê foi levado às pressas em uma maca e declarado morto apenas momentos depois da crise epilética ser contida. Os gritos da mãe me sacudiram tanto que acabam por me acompanhar pelo resto do dia. Hoje é um daqueles dias onde parar para o almoço não é possível, toda a equipe está focada em um caso específico onde uma senhora de setenta anos apresenta sintomas difusos. Perto das três horas da tarde finalmente chegamos à um diagnóstico e o tratamento recomendado. Após isso, o Dr. Fremont designa os residentes para acompanhar outros pacientes que estão no andar de tratamento. Blair fica com Lúcia que está se recuperando da cirurgia, enquanto Charles acampanha uma criança com TEA¹. Eu esperava que ele fosse me deixar com o senhor que eu estava acompanhando ontem, mas para minha surpresa e dos outros ele me deixa com um jovem de vinte anos que havia sido recentemente diagnósticado com EM². Blair já havia me alertado sobre ele. Segundo ela o jovem não se conforma com o diagnóstico e vinha sendo bastante agressivo com as enfermeiras e com os médicos.

— Dr. Fremont, acho que seria melhor eu ir ver Paxton Rossi. Eu estou conseguindo construir uma maneira de comunicação com ele. — Blair tentou argumentar.
— Eu tenho certeza que a Dra. Schiller pode lidar com o Sr. Rossi. Ela sabe que nem sempre o sol brilha sobre o caos, certo? —Ele diz enquanto me encara, uma sobrancelha erguida.

Eu concordo com ele, eu preciso de experiências como essa. Pacientes difíceis sempre existiram. Mas o que estava acontecendo aqui é que o maldito estava tentando tornar as coisas difíceis para mim.

Assim como disse que faria.

— Sim. Está tudo bem, Blair.— Digo com um sorriso. — Quem lida com o Dr. Fremont, também conhecido como nosso soberano do mal, pode lidar com qualquer pessoa.

Charles e Blair tossem uma risada. E o que aquele bastardo irracional fez em resposta? Ele sorriu. Um pequeno sorriso cínico que levantou os cantos de seus lábios apenas o suficiente para me deixar saber que ele  desprezava minha atitude.

— Você gosta disso, não é?
— O que?
— Jogando provocações ao redor.

Ergui meu queixo.

— Tanto quanto o senhor gosta de espalhar grosserias, eu acho.

Com a expressão de volta ao modus mortal ele se levantou de sua cadeira e deu vários passos lentos em minha direção. Eu me mantive firme enquanto ele se aproximava, mesmo quando ele chegou tão perto que pude sentir o cheiro masculino dele
novamente, a insinuação de almíscar quente que meu nariz traidor encontrou era tão intrigante.

— Escute, Dra. Schiller, eu deixei que você se juntasse ao meu navio. — Sua pausa queimava, e seus olhos também. — Mas não espere que eu te ajude quando você se afogar em sua provocações tolas e infantis.

Achei impossível falar por um momento. Sua proximidade era desorientadora e esse olhar em seus olhos era hipnotizante.

— Você tem sido o único infantil aqui, doutor. — Eu consegui dizer.
— Você está ultrapassando a linha do profissionalismo. Cada vez tenho mais certeza que esse hospital não é o lugar certo para você. — Ele diz em uma voz paternalista e irritada, como se ele fosse um juiz e eu tivesse violado minha liberdade condicional.

Minha risada aguda fez Blair e Charles saltarem. É então que percebo que os olhos deles são como pingue-pongue entre Dr. Fremont e eu.

— Como você ousa falar em limite do profissionalismo quando você é o único que faz questão de me testar cada maldito segundo apenas porque tem problemas pessoais comigo?

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now