Capítulo 12- Toda história começa com um pouco de curiosidade.

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JACKSON FREMONT

Lili estava em minha casa e se prontificou em cuidar do Sr.Bingley. Isso era uma coisa boa, porque no meu humor atual eu não seria capaz de lidar com a rebeldia do animal que latia conforme eu me afastava da casa vizinha. Fervendo, eu subi para o banheiro e tomei um banho demorado, incapaz de esquecer da bombinha que era minha nova vizinha.

Ela claramente não era uma perseguidora ou ladra de cachorros como eu acusei. Sua expressão chocada de me ver foi muito parecida com a minha em vê-la. E porra, eu não acredito em destino, mas não posso deixar de pensar que algo mais do que coincidência está em jogo.

Dandara Middleton.

Eu apertei meus dentes e olhei para água escorrendo por meu corpo. Eu nunca conheci uma mulher tão irritante em toda a minha vida. Ninguém nunca falou comigo com tanta ousadia em minha vida.
Eu não sabia da má atitude quando a vi pela primeira vez, ou quando ela estava deitada debaixo de mim.

Eu não sou um homem atraído por mulheres com unhas afiadas e dentes
feitos para esmagar ossos. Mas não sei porque sua boca suja e atitude ousada me inquietam tanto, mas eles fazem. Ela estava com tanta raiva, irritada, feroz e bonita, como uma deusa vingativa. Todo aquele cabelo que eu passei uma noite toda envolvendo em volta do meu pulso derramava sobre seus ombros em emaranhados. Suas bochechas estavam vermelhas. Seus olhos tão selvagens. Ela exalava uma energia perigosa e frenética, como se recentemente tivesse escapado da prisão. Uma combinação perigosa que estranhamente me deu uma ereção potente. Meu pau latejava com tanta força que parecia uma emergência médica.

Maldição.

Ainda mais furioso, eu saio do banho.
Vesti uma calça de agasalho e uma camiseta. Quando deitei na cama o cansaço não demorou muito para chegar. Eu durmo por ser cinco horas, acordo quando o relógio marca uma onze da manhã. Me levantei e fui para sala e encontrei o lugar impecável. Limpa e organizada. Nenhumas das coisas que eu havia deixado espalhada estava sobre os sofás de couro escuro. Nem um fiapo de linha na imensidão brilhante do piso vinílico. Nos meus poucos móveis e eletrodomésticos toda poeira dos últimos três dias havia sumido.

― Você ainda deveria estar descansado— Lili disse assim que apareci no seu
campo de visão. — Você está com olheiras horríveis.
— Não se preocupe, eu estou bem— Respondi e caminhei até a cozinha.

Servi café em uma xícara e sentei em uma das banquetas com o jornal nas mãos.

— Sabendo que você não conseguiria ficar na cama por muito tempo, eu fiz o café da manhã. — Lili disse entrando na cozinha.

Eu sorri por ela me conhecer tão bem. Ela
era uma boa mulher. Uma senhora na casa dos cinquenta anos que vinha cuidar da casa e cozinhar para mim duas vezes na semana. Eu não precisava de mais do que isso, já que estava sempre sozinho.
Ela era discreta, gentil e cozinhava como ninguém. Também era excelente lavando e passando camisas e cuidando de Sr.Bingley. Eu não tinha do que reclamar.

― Também vou deixar uma lasanha pronta para o almoço — Lili continuou enquanto lavava alguns legumes e separava os temperos sobre a bancada da minha pia. — O senhor só precisa colocar no forno por dez minutos antes de comer.

Sorri.

― Obrigado, Lili.
― E vou deixar duas congeladas. Assim você pode comer quando tiver fome. Sei que come fora muitas vezes, mas não existe nada como refeição caseira.
― Minha mãe dizia isso — Confessei saudoso.
― Sua mãe era uma mulher inteligente, Jack—Ela sorriu afetuosa.

Como muitos dos moradores da cidade, Lili sabia da tragédia que aconteceu com minha família. Ela principalmente porque viveu tudo de perto. Meus pais sempre trabalharam muito, e eu e minha irmã adoravamos ficar na casa da rua de trás. Ela sempre cuidou da gente como se fossemos parte da família dela. Lili foi casada com um policial que morreu em ação antes que ela pudesse sequer pensar em ter filhos. E depois de tudo que aconteceu com minha família, ela ainda continuava cuidando de mim.

— Sinto tanto a falta dela—Lili confessou perdida em lembranças.—  Não tem um dia que eu não sinta. Celeste foi uma
grande amiga.

Eu fiquei em silêncio, me concentrando em manter alta a barreira que me separava dos assuntos do passado.

― Mas não vamos falar sobre isso agora — Lili disse percebendo minha rigidez.

Gosto disso nela. É uma das poucas pessoas que aprendeu a conviver comigo respeitando meu espaço.

—  Quero saber sobre a vizinha. Como foi a conversa com ela?
— Adequada.— Respondi simplesmente.

Ela me encarou com desconfiança.

— Eu espero que você tenha sido compreensivo. A moça só quis ajudar, ela até mesmo deixou um bilhete explicando. E sabemos que o Sr.Bingley só foi porque ele confiou nela, o que é raro se tratando do cachorro teimoso.

Eu passei a mão pelo meu cabelo e exalei.

— Sim, eu sei disso.
— São apenas duas moças morando na casa certo?
— Não sei. — Respondi um pouco rabugento.
— Pelo o que Lindy disse sim. As nossas novas vizinhas são o mais novo assunto na cidade.
— É mesmo? —Me interessei — E o que aquela velha fofoqueira anda dizendo?
— Não fale assim dela. —Lili riu.
— Apenas reafirmado a verdade. A mulher cheira fofocas como um provador de vinho faz, empurrando o nariz bem dentro dele.— Digo com graça—  Mmm...Cheira a fresco com um aroma de suposições e sugestões de meias-verdades, mas vai fazer uma boa história, então vamos encher os copos e compartilhar. Assim que funciona a cabeça dela.

Lili ri ainda mais.

— Dessa vez Lindy não tem muita culpa na fofoca. Todos estão surpresos por alguém da família aparecer depois de tanto tempo depois da fuga da pequena Noemi Middleton.
— Como assim?
— Você se lembra dos Middleton, o casal que moravam ao lado?

Eu assenti. Eles haviam tornado minha infância bastante emocionante servindo como alvos de minhas brincadeiras que acabavam em castigo após os vizinhos chamarem a polícia.

— Pois eles tinham uma única filha, Noemi Middleton. A garota era um espírito alegre, durona e independente, e aquilo para pais extremamente rígidos e autoritários era uma vergonha. Eles tentaram conter a filha, mas não teve jeito. Com quinze anos Noemi fugiu da cidade. Aconteceu antes da sua família chegar a cidade. O caso foi um repercussão muito grande, mas a polícia não conseguiu localizar ela. Os pais só tiveram notícias sobre ela quase nove anos depois. Ela estava se casando com um homem importante. Eu acho que chamavam ele de magnata ou algo assim. Sei que tem muito dinheiro.

Eu estava surpreso com a história e não consegui esconder.

— As mulheres são netas dos Middleton?
—  Com certeza sim. A pequena Noemi Middleton era uma das crianças mais bonitas que eu já vi, e se tornou uma linda mulher. As maçãs não caíram longe da árvores. A mais velha lembra muito a mãe.
— Sabe o motivo do retorno?
— Isso ainda é motivo de especulações.—Lili parecia divertida com a minha curiosidade. — Os Middleton nunca perdoaram a filha totalmente, por isso não havia muito contato entre eles. Não tínhamos notícias sobre Noemi até poucos dias atrás quando suas filhas se mudaram. E apenas uma vai ficar aqui, a outra vai retornar para casa em breve.

Uma sensação estranha borbulhou no meu peito e eu me seguro para não pedir mais informações.

Será que Dandara que irá?

Vasculho o rosto familiar de Lili com cuidado, procurando por algum sinal, mas ela se mantém calma e sem expressão, como sempre. Ótimo, eu não deveria me preocupar com isso mesmo.

— Eu entendi, mas de qualquer forma, isso não é da minha conta. — Eu terminei meu café.

Deixei a xícara sobre o balcão e atravessei a sala até o meu escritório. Passei o que restou do domingo trabalhando nos papeis que havia trazido para casa. Quando a tarde caiu, meus olhos já estavam reclamando de tanto tempo em frente à tela do computador. Minha cabeça ainda estava cheia de preocupações com alguns pacientes, e meus ombros como sempre pesados, como se carregassem o mundo.

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now