Capítulo 57-O assassinato é sempre o ponto de partida para as mudanças.

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DANDARA SCHILLER

Não consigo...

Meus olhos não estão processando o que estão vendo.

Não consigo.

Não consigo respirar.

Meu corpo é feito de pedra. Minha pele está ardendo como se mil insetos estivessem me mordendo. Os segundos batiam na minha cabeça esmagando a respiração dos
meus pulmões. Buzinas enchia o lugar enquanto eu mantive meu corpo imóvel em autoproteção. A voz de Lucy e Paul se filtrava através do resto, mas eu não conseguia codificar o que eles tentavam dizer. Meus olhos estão presos no corpo sem vida no chão.

Uma linha de sangue escorre pelo canto da sua boca, carmesim e
grossa. Seus olhos estão abertos, olhando pra mim. Raiva. A raiva que foi construída e dirigida para mim.

Sr. Rossi...

O pai de Paxton e Peter....

Ele estava morto!

A morte é um evento que eu já assisti milhares de vezes mas agora é difícil entender. Eu não pareço ser a única. Era alto o silêncio das pessoas atordoadas. Era como se dezenas de milhares de pessoas estivessem com a respiração suspensa. Talvez inconscientemente todos soubessem o que viria depois.

Muitas mudanças.

Esse pensamento parece ter  preenchido cada pessoas, e como uma onda que caiu sobre uma praia pedregosa, o som voltou com o gemido do grito de uma mulher.

A Sra. Rossi.

Então, os gritos começaram,
gritos e gritos, milhares de gritos confusos, gemidos desesperados dos feridos, ondulações estridentes e lamentações da agora viúva. Todos esses barulhos enchiam meus ouvidos, e eu sentia como se eu tivesse caído no abismo. Eu não entendo o que está acontecendo e sabia que não havia resposta na terra ou no céu que eu pudesse compreender.

— Doutora, por favor, ajude meu filho. — Eu sinto um balanço desesperado no meu braço.

Eu vou voltando para órbita aos poucos, mas a médica em mim já começa à agir.

— Onde ele está? — Perguntei

A mulher pegou minha mão e me levou até um adolescente que tinha  um pequeno buraco na região da panturrilha. Por sorte, a bala atravessou e fez pouco estrago, o perigo mesmo está na maneira como está sangrando.

— Vá até a recepção e peça um frasco de água oxigenada, gaze e álcool. Eles devem ter uma caixa de primeiros socorros.— Eu grito enquanto me abaixo ao lado do garoto.

Tiro minha jaqueta e pressiono contra a ferida, tentando não tremer muito enquanto o sangue escorria entre meus dedos.
— Aqui está — A mãe do menino volta com o kit de primeiros socorros
com alguns curativos, pomada antibiótica e uma garrafa de álcool.

Eu fiz o máximo que a situação e materiais me permitia, e depois que consegui parar o sangramento, eu fiz um curativo temporário até que a ambulância chegasse.

— Obrigada, doutora. Obrigada —A mãe sentou-se ao lado do filho.

Eu não consegui puxar uma única respiração porque rapidamente me vi cercada por pessoas que estavam chorando e implorando ajuda. Eram ferimentos leves, um ou dois mais graves com a bala alojada em região abdominal. Eu não sabia se os poucos recursos que tinha seria suficiente, mas eu não podia simplesmente deixá-los sem cuidados esperando pela ambulância. Incontáveis casos que cuidei só foram possível salvar o paciente porque houve um primeiro socorro e foi essencial. E minha presença era uma lufada de ar fresco neste poço de desespero.

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now