Capítulo 01 - Danilo

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Poucas coisas no mundo são mais irritantes que as assembleias de acionistas de uma empresa, principalmente quando se trata de uma empresa grande, cheia de acionistas nervosos e estressados

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Poucas coisas no mundo são mais irritantes que as assembleias de acionistas de uma empresa, principalmente quando se trata de uma empresa grande, cheia de acionistas nervosos e estressados. A sala de conferências enorme, com cerca de oito níveis de profundidade, se torna uma espécie de campo minado, onde, se você respira errado, pode estourar uma bomba e mandar pelos ares todo o seu esforço conciliatório.

E hoje, mais do que nunca, a reunião tem sido um grande pé no saco. Meu avô, presidente do Grupo Torres, parece concordar comigo, porque ele boceja a cada dez minutos, sentado ao meu lado com cara de poucos amigos. Os secretários, diretores e gerentes estão todos vermelhos, ajustando as gravatas e bebendo água descontroladamente enquanto Tales, nosso diretor financeiro — e um pouco de faz-tudo também —, passa slide por slide na tela de projeção e lê as estatísticas de crescimento da empresa.

Os dados que Tales explica não são muito animadores. Houve uma queda grande no mercado de construção civil por causa dos altos índices de desemprego no Brasil, e ainda que o Grupo Torres seja grande o bastante para se segurar durante uma crise, algumas medidas precisarão ser tomadas. Isso tudo quer dizer que pouco dinheiro vai entrar no bolso dos acionistas, que só vão ficar mais e mais irritados. Em resumo: dor de cabeça.

Pelo que Tales está nos dizendo, algumas das nossas associadas vão ter que ser incorporadas a outras para cortarmos gastos, então muita gente pode sair desta reunião sem emprego. Fico um pouco preocupado, admito, mas não é algo que está ao alcance das minhas mãos. Meu avô é o presidente, cabe a ele decidir o que fazer e nada que eu disser — isso se eu estivesse pensando em algo no momento — vai mudar a opinião do velho.

— Por último, gostaria de repassar aos senhores alguns detalhes sobre a construção do viaduto. — Tales anuncia no microfone do púlpito, suando dentro do terno cinza. Ele odeia essas reuniões, porque ele também odeia falar em público e odeia ainda mais fazer isso numa segunda-feira de manhã após ter me buscado numa balada de madrugada.

Não escuto direito o que ele diz. Estou com sono, minha cabeça dói, meu estômago está girando e ainda estou bastante irritado com esse babaca estraga-prazeres. Apoio meu queixo numa das mãos e me permito fechar os olhos por um instante. Eu só queria estar em casa, debaixo dos meus cobertores ou na companhia da mulher que conheci ontem. Nem pude levá-la para um lugar mais reservado, nem mesmo consegui pegar seu número de celular ou saber seu nome, mas eu me lembro bem dela, do cabelo loiro, os olhos grandes e castanhos, boca rosada e pequena. Nós nos beijamos por algum tempo em um canto escuro e apertado, e quando eu achei que iria ganhar minha noite, Tales me puxou pela gola da camisa para longe e me arrastou para fora da balada como se fosse minha mãe. Tudo por causa desta reunião idiota na manhã de uma segunda-feira. Quem marca a merda de uma reunião numa manhã de segunda-feira?!

— Ao que tudo indica, estamos gradativamente perdendo espaço no mercado. — A voz do meu avô me arranca dos meus devaneios com a minha deusa loira de lábios rosados.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now