Capítulo 18 - Leila

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Minha tia está me olhando de um jeito muito suspeito desde que acordei e eu sei que isso significa que preciso terminar de tomar o café para dar o fora daqui o quanto antes

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Minha tia está me olhando de um jeito muito suspeito desde que acordei e eu sei que isso significa que preciso terminar de tomar o café para dar o fora daqui o quanto antes. Tia Célia não costuma se meter nos meus assuntos — apesar dela adorar ouvir atrás das portas —, tanto que para chegar ao ponto de me perguntar se tem alguma coisa errada é preciso que ela esteja muito, muito, mas muito incomodada mesmo com algo, o que parece o caso hoje, infelizmente.

Me pergunto se a cisma de tia Célia tem a ver comigo em casa a essa hora quando, em tese, eu deveria estar trabalhando. Já que faz duas semanas desde que fui demitida e até hoje não tive coragem de falar nada sobre isso com ela. Talvez agora seja uma boa hora para mencionar o investidor, meu desemprego e que eu vou ter que dar uma sumida pelos próximos seis meses.

Dou uma olhada no meu relógio de pulso, constatando que minhas meias verdades vão ter que ficar para depois, a não ser que eu queira me arrastar a pé por quilômetros até a E. M.

— Você tem que comer mais devagar ou vai sentir azia mais tarde. — Bruna alerta, mexendo o leite com achocolatado de Arthurzinho para que esfrie.

— Preciso ir logo. — Me justifico, engolindo um gole de café amargo. — Vou perder o ônibus se demorar mais alguns minutos aqui sentada.

Devolvo minha xícara à mesa e agarro a alça da minha mochila, prestes sair correndo, como quase em todos os dias da minha vida.

— Bruna comentou que você conseguiu um investidor para a empresa, é verdade?

Paro onde estou, trocando um olhar nervoso com minha prima. Ela diz um "me desculpe" sem emitir som e baixa os olhos. Se tem uma coisa que minha tia sabe é pegar os filhos na mentira, e nem preciso pensar muito no assunto para saber que antes de me interrogar, tia Célia colocou Bruna contra a parede e arrancou tudo dela. Nesse ponto, ela e minha mãe são muito parecidas, por isso evito falar com ambas quando as coisas estão bagunçadas demais.

— Pois é, tia, parece que as coisas vão dar certo dessa vez!

— E é por isso que você está levando esse tanto de roupa? — Ela aponta com o queixo para a bolsa aos meus pés. Tia Célia sabe que é normal que eu passe a semana fora de casa quando o trabalho aperta, por isso ela estar mencionando a bolsa de roupas soa estranho... e perigoso.

— É, sim. Vou ficar bem ocupada essa semana.

— Hum. — Tia Célia resmunga e se volta para Arthurzinho, que está fazendo uma bagunça com a comida.

Estou prestes a pedir a bênção dela e escapar para longe quando minha tia fala de novo:

— E esse anel aí no dedo? Você não é de usar essas coisas.

Puxo a manga da minha jaqueta jeans para baixo, para cobrir o anel. Eu sabia que ficar com isso ia me causar problemas e eu estava mais do que certa. Escolhi a jaqueta com as mangas mais compridas que eu tinha no guarda-roupa para cobrir as mãos, mas nem assim o anel passou despercebido do olhar aguçado de tia Célia.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now