Capítulo 13 - Danilo

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Fazia algum tempo que eu não dormia tão bem quanto na noite passada

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Fazia algum tempo que eu não dormia tão bem quanto na noite passada. Nem sequer vi quando Sansão entrou no meu quarto e se aninhou no cobertor aos pés da minha cama, e isso considerando que ele gane como se estivesse morrendo todas as noites para que eu o pegue no colo e o coloque no colchão. Já tentei de tudo para que ele durma na própria cama, mas Sansão se recusa, e se eu tranco a porta, ele chora a noite inteira até que eu o coloque para dentro.

Sansão é uma das razões pelas quais nunca trouxe uma mulher para casa e porque fiquei apreensivo quando Leila me perguntou sobre como seria a relação dos dois. Serão cerca de seis meses, talvez menos se os trâmites da substituição da presidência correrem tão bem quanto eu espero, e nesse meio tempo haverá uma segunda pessoa nessa casa, dormindo no quarto de frente para o meu e convivendo com Sansão e eu. Sinceramente não sei como ele vai reagir a essa novidade.

Sendo bem honesto, fiquei um pouco preocupado com Leila morando aqui, embora não tenha deixado nem ela e nem Tales perceberem. Leila tem o gênio mais forte do que eu pensava e não se policia muito ao dizer as coisas, além de ser bastante irredutível quando quer. Enquanto ela colocava um defeito atrás do outro no contrato, eu só conseguia imaginá-la andando pela minha casa e torcendo o nariz para tudo. Entretanto, quando ela disse noite passada que estava disposta a fazer de tudo para que nosso acordo desse certo, esse peso foi tirado das minhas costas e eu pude me sentir mais leve com a nossa situação.

Fiquei tão aliviado que no caminho até a casa dela achei que estava sozinho no carro, precisando olhar algumas vezes para o banco do carona para ter certeza que ela continuava ali. Leila parece gostar de silêncio tanto quanto eu e nem as músicas que coloquei para tocar a fizeram abrir a boca no trajeto, que demorou mais do que eu previa, porque infelizmente para mim, Leila mora praticamente no fim do mundo.

A deixei algumas ruas antes da própria casa. Segundo ela, a família iria lhe encher de perguntas se a visse descendo do meu carro. No fim, Leila tinha total razão, pois assim que ela começou a subir a rua, vi olhos curiosos demais olhando para o carro. Entendi na hora que não é só com a imprensa que devemos ter cuidado, as pessoas também levam e trazem notícias, fazem isso tão bem quanto os jornalistas, e o pior é que não dá para comprar todas elas como faço com alguns fotógrafos que tiram fotos comprometedoras minhas.

Fora aquilo, passar algum tempo na companhia de Leila não foi tão ruim. Até comi espetinho de carne de terceira na rua, coisa que eu não fazia desde moleque, quando meu pai ainda estava vivo. O cheiro daquele negócio, o gosto, a textura... Tudo me fez lembrar do passado, de como ele gostava de comer porcaria na rua, assim como meu avô.

Tenho poucas lembranças do meu pai, eu era muito pequeno quando ele adoeceu e acabou falecendo. Tudo que consigo puxar na memória são imagens meio borradas dele vestindo uma camisa do Palmeiras, ensinando Marcos e eu a jogar futebol no quintal de casa ou dando banho no cachorro que tínhamos quando criança. Me lembro vagamente dos finais de semana na casa do meu avô, do cheiro de comida caseira e da grama molhada; dos sons de risadas e das conversas animadas. Essas coisas soam como um filme antigo para mim, desbotado e inconstante, e às vezes me pergunto se vivi mesmo tudo aquilo ou se apenas criei essas imagens na minha cabeça para amenizar a saudade que sinto do meu pai.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now