Capítulo 15 - Danilo

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Percebi que Leila realmente falava sério quando disse que faria de tudo para que nosso acordo desse certo assim que ela apareceu esta manhã usando um vestido vermelho florido, que a deixou uns cinco anos mais jovem, no mínimo

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Percebi que Leila realmente falava sério quando disse que faria de tudo para que nosso acordo desse certo assim que ela apareceu esta manhã usando um vestido vermelho florido, que a deixou uns cinco anos mais jovem, no mínimo. Imaginei que ela iria para a casa do meu avô em uma calça jeans desbotada e com aquela mochila velha nas costas, por isso vê-la desse jeito, tão diferente do habitual, me deixou bastante surpreso.

Não uma surpresa ruim, longe disso, porque apesar do estilo levemente diferente do que estou acostumado, ela ainda é ela e eu ainda acho que meu avô vai gostar de qualquer coisa que ela diga, principalmente se essas coisas forem as coisas que combinamos tantas vezes que diríamos. Sorrio abertamente ao pensar nisso, quase sentindo o cheiro da minha tão merecida indicação à cadeira da presidência do Torres.

Acelero pelo asfalto, batucando os dedos no volante ao ritmo da música que toca no interior do carro. A tensão de Leila é algo quase palpável no ar, contudo nem o nervosismo dela consegue ser capaz de estragar meu bom humor. Até arrisco cantarolar alguns versos, ouvindo-a sussurrar sem parar, lendo qualquer coisa escrita em um pedaço pequeno de papel em suas mãos.

Espio a letra feia rabiscada no papel e nem posso acreditar que ela escreveu um mini roteiro com respostas prontas para dar à minha família. Datas, o lugar em que supostamente nos conhecemos, há quanto tempo estamos juntos... É quase um dossiê da nossa relação. Até o detalhe importantíssimo do meu avô não saber sobre a doença dele e que a família é sensível ao assunto, portanto ninguém fala disso de forma alguma, Leila escreveu no papel, sublinhando-o diversas vezes para dar ênfase.

Acho que o porquê do meu avô não saber sobre a "doença" foi uma das únicas coisas que Leila questionou enquanto eu a instruía sobre a historinha que vamos contar para a minha família mais tarde. Ela ficou meio indignada com o fato de não termos, supostamente, contado algo tão importante e delicado para o meu avô, repetindo que era direito dele saber de tudo com clareza. Leila só concordou em não falar mais naquilo quando eu baixei a cabeça e fingi que estava prestes a chorar, afinal tudo que envolve a doença e os dias contados do vovô é doloroso demais para mim e etc., etc., etc.

Depois de uma sequência de músicas agitadas que tocariam em qualquer balada, o som de uma guitarra soa pelos alto-falantes. Aguardo alguns instantes da canção, que conheço muito bem por sinal, para ter certeza se devo ou não pular para a próxima faixa. Quando o som dos acordes dá lugar a voz marcante de Alceu Valença, tenho a certeza que eu estava esperando e levo a mão distraidamente ao botão do aparelho de som, mas sou impedido pela mão fria de Leila.

— Deixa essa. — Ela me pede, tirando a mão do meu braço como se eu estivesse em chamas. — Eu gosto dessa!

Nem questiono. Essa é a segunda vez que estamos juntos dentro desse carro e a primeira vez que Leila diz gostar de alguma música que toca. Suponho que, ou ela não gosta do meu estilo musical, ou gosta muito mesmo dessa música. Por via das dúvidas, deixo tocar.

Se a gente se casar domingo?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora