Capítulo 05 - Danilo

78 30 45
                                    

Vovô adora comida gordurosa, apimentada e salgada

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Vovô adora comida gordurosa, apimentada e salgada. Na casa dele não existe isso de comer caviar, escargot ou esse tipo de frescura que normalmente pessoas com o dinheiro dele comem. Meu avô gosta mesmo é de uma boa picanha pingando gordura, cerveja gelada e qualquer outra porcaria que faça muito mal à saúde e que faça sua pressão arterial subir.

Apesar do império que construiu, meu avô não nasceu rico. Ele começou a trabalhar bem jovem como ajudante de pedreiro em obras, fazendo massa, levantando paredes tijolo por tijolo, vendo um projeto rabiscado numa cartolina tomar cores e formas. Vovô não estudou arquitetura, engenharia civil ou administração como a maioria das pessoas pensam. Ele só conseguiu completar o ensino médio depois de muitos anos à frente do Torres, que era, no início, apenas uma pequena firma de empreita. O que aconteceu com ele foi uma mistura bem sucedida de amor pelo trabalho, esforço incansável e conhecer as pessoas certas.

Ele montou sua pequena empresa de empreita aos 23 anos, trabalhou duro e conseguiu realizar grandes projetos. Conheceu gente importante que confiou nele, investiu o dinheiro no lugar certo e com 35 anos já tinha uma construtora bastante sólida no mercado de construção civil em São Paulo. Em dado momento, meu avô achou que seria interessante que a construtora também contasse com produtos produzidos pela própria empresa, assim não teriam o gasto adicional de comprar material. Mais adiante, meu avô achou que a empresa não devia se limitar somente a São Paulo e agora o Grupo tem filiais pelo Brasil todo.

Montei um dos carros chefes da empresa, a Eco Habitação, que fez as ações do Grupo dispararem cerca de 35% nos últimos cinco anos, e mesmo assim Marcos diz que não sou adequado para ocupar o lugar de vovô. Ninguém além de mim é mais adequado para sentar-se na cadeira de presidente, ninguém além de mim conseguiria fazer o Grupo Torres crescer ainda mais. Sou jovem, visionário e competente, o que mais meu avô poderia querer? O que mais a empresa poderia querer?

Encosto meu prato e encaro meu avô, que ainda está debruçado sobre o prato de feijoada dele. Se minha avó sonhar que eu o trouxe para almoçar feijoada, vou levar uns bons tapas e sei que será merecido. O velho não sente uma dor de dente, mas precisa cuidar da pressão alta, entretanto trazê-lo para comer porcaria era a única maneira de conversarmos em particular.

— O senhor falou sério mesmo sobre se aposentar? — Pergunto como quem não quer nada.

— Achei que isso tinha ficado claro na reunião passada. — Ele responde ainda concentrado na comida.

— Sim, vovô. Mas, assim, de repente? Por que? O senhor sempre gerenciou tudo tão bem, não faz sentido uma decisão tão repentina.

Meu avô ergue o olhar para mim, franzindo as sobrancelhas grossas. Ele é um homem grande, sua voz é grave e seu rosto é duro, o que faz dele uma figura bem intimidadora, principalmente para mim que sou seu neto e que já levei alguns cascudos durante a vida.

— Para de dar voltas e diz de uma vez o que você quer, menino! Você nunca me traz para comer de graça. Quer dinheiro, é? Alguma artista te colocou na internet de novo?

Se a gente se casar domingo?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora