Capítulo 16 - Leila

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De alguma forma essa casa enorme me fez sentir muita falta de casa

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De alguma forma essa casa enorme me fez sentir muita falta de casa. Não a casa da minha tia ou a garagem dos pais de Jonas, mas a minha casa mesmo, em Campo Verde, onde vivi até os meus 17 anos, brigando todo santo dia com os meus dois irmãos para ter o mínimo de privacidade.

Meu pai sempre gostou de plantas e flores, por isso nosso quintal é todo verdinho com cheiro de terra molhada. Ele se levanta todos os dias antes do sol nascer para regar tudo e cuidar de cada mudinha, por mais pequenina que seja. É a terapia dele numa casa cheia de gente que fala alto e grita o dia todo. Para tirar meu pai do sério a única maneira é tocando em uma das suas plantas, por isso ele e Paulo, meu irmão mais velho, sempre tinham pequenas discussões quando Paulo ainda morava na nossa casa.

Meu irmão é um desastre, o que ele tem de altura, tem de descuido, nas palavras da minha mãe. Quando Paulo era adolescente e parecia aumentar uns cinco centímetros por semana, a coisa era ainda pior. Se algum dia soltassem Paulo dentro desse jardim, por exemplo, ele derrubaria cerca de uns 20 vasos e pisotearia metade das plantas, como um cavalo que acabou de ser ferroado no traseiro por uma abelha. Era uma cena bem comum meu irmão chegar em casa morto de fome na hora do almoço e encostar a bicicleta de qualquer jeito no quintal, amassando as plantas do meu pai sem querer por puro descuido, conseguindo ganhar uns cascudos do meu pai por isso.

Estendo a mão até uma roseira pequena e sem espinhos. Falar com meu pai ao telefone depois de semanas ignorando as ligações de casa me deixou com um nó na garganta, e ver essa quantidade de plantas tão bonitas e cheirosas só está fazendo esse nó aumentar. Eu deveria ter deixado o celular continuar tocando ou escolhido outra hora para ouvir a voz dele, mas meu dedo deslizou sem querer pela tela e agora estou assim.

É que é impossível estar aqui sem imaginar o quanto meu pai ficaria feliz ao sentir o cheiro dessas pétalas, ao tocar nessas folhas...

— O que você está fazendo?

Dou um pulinho assustado ao ouvir a voz de Danilo próxima ao meu ouvido. Meu celular escapa das minhas mãos e cai no chão com a tela virada para baixo. Droga!

— Isso é jeito de chegar nas pessoas?! — Levo uma mão sobre o peito, sentindo meu coração bater acelerado pelo susto.

— Você sumiu. — Ele se abaixa para pegar meu celular. — A tela já era, hein?

— A tela já foi há muito tempo!

Prometo a mim mesma que quando eu estiver com uma situação financeira relativamente melhor, minha primeira compra no cartão de crédito será um celular novo. Estou com esse modelo há cerca de quatro anos e a qualquer momento essa porcaria vai me deixar na mão.

— Danilo? — Indico meu celular com o dedo, no entanto ele sequer se move.

Agarro o celular com uma das mãos, mas Danilo estranhamente recua, enfiando o aparelho no próprio bolso. Ah, não, esse infeliz não acha mesmo que essa é uma boa hora para gracinhas, acha?

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now