Eu não tenho um pingo de paciência para esses eventos desnecessários de inauguração de obras. Isso, ao menos para mim, é coisa para os proprietários que pagaram pelo trabalho da empresa e que podem finalmente entrar na construção depois de acabada, não para a construtora, que nada mais fez do que entregar um trabalho para o qual foi paga para fazer. Entretanto, todas as vezes que a obra é grande, como é o caso desse viaduto que o Grupo ganhou em uma licitação acirradíssima, até mesmo vovô é obrigado a sair da sua zona de conforto para prestigiar a inauguração.
Não que sejamos obrigados a vir nessas inaugurações, é mais uma cordialidade que pode nos garantir bons negócios no futuro, a típica e corriqueira arte de puxar o saco alheio. Esse viaduto, por exemplo, envolve dinheiro público, governadores, prefeitos, gente que o Brasil e o mundo sabe que rouba do povo para poder bancar os próprios luxos. Infelizmente, essas mesmas pessoas são clientes em potencial, e ainda que vovô não goste muito da ideia de fechar contratos com esses caras, o capitalismo acaba falando mais alto no final do dia.
Meu único conforto é saber que a Eco Habitação não se envolve com esse tipo de coisa, somos um ramo bem restrito e específico da construção civil, então as dores de cabeça decorrentes do trato com esse tipo de situação envolvendo dinheiro público é exclusiva dos administradores das outras ramificações do Grupo Torres.
Quer dizer, essas dores de cabeça não são minhas ainda. Se eu quero chegar à presidência do Grupo, estar nesse tipo de evento e saber lidar com esse tipo de gente vai ser minha obrigação, e é exatamente por isso que estou aqui. Meu avô ficou bem feliz ao me ver, ele deu alguns tapinhas nas minhas costas e me apresentou para meio mundo com um sorriso orgulhoso no rosto. Ele sabe que detesto essas coisas e que acho uma perda de tempo, então deve ter deduzido que estou mais consciente com os assuntos da empresa, que é justamente a impressão que quero causar.
Aparentemente, mais tarde terá um coquetel privado em comemoração e minha presença é esperada, claro, como se eu não tivesse mais o que fazer. Checo meu relógio pela milésima vez desde que cheguei, levando uma cotovelada nas costelas. Olho feio para Tales, mas ele apenas sorri, fingindo que não tem nada acontecendo.
— Quero ir embora. — Eu resmungo, cruzando os braços em frente ao peito.
— Até aquele pessoal ali no fundo sabe que você quer ir embora por causa dessa sua cara emburrada, Danilo. — Tales responde, sorrindo falsamente quando algumas pessoas que estão próximas de onde estamos nos lançam alguns olhares atravessados.
— Deixei muita coisa para trás na Eco Habitação, Tales. Minha cabeça dói só de pensar na pilha de contratos que preciso revisar com Mateus.
— Faz no final de semana. Você não quer ser presidente? Então dá seus pulos e para de reclamar!
Calo minha boca. Continuar discutindo sobre meus problemas com Tales no meio dessa gente toda é perda de tempo, sem contar no quanto ele adora jogar na minha cara que eu só estou sobrecarregado desta forma por causa das minhas péssimas escolhas.
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Se a gente se casar domingo?
RomancePara Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empresa da família após a anunciada aposentadoria de seu avô do cargo. No entanto, Fausto Torres não parece muito inclinado a deixar todo o seu l...