04. Traumas do passado

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Acabara de ligar a TV, esperando encontrar algum filme interessante a passar. Quando paro em um canal que passa um jornal e o repórter anuncia:

"Estamos aqui na rua Anastácia Cuervo. Local que a dez anos atrás passou por um acidente trágico e mortal. Era uma manhã normal quando um homem, cujo o nome é Abner Paulo, fingiu ser o motorista de um ônibus públi..."

Desliguei a televisão no mesmo instante.

— Que merda! Infelizes, vocês não fazem a mínima ideia do que estão falando. — murmurei dando murros nas almofadas e enxugando uma lágrima com força.

Perdi a fome e me contentei com um cigarro. Andava pelas ruas batendo os pés e emburrada.

Eu sabia que essa noite os pesadelos seriam ainda mais intensos. Desde aquele dia, eu tenho pelo menos um pesadelo por noite em relação a isso.

Por que aquilo tinha que ter acontecido comigo? Perder as duas pessoas que eu mais amava no mesmo dia e ainda ter que assistir eles morrendo na minha frente, sem poder fazer nada! Era muita coisa pra uma criança de seis anos ter que aguentar.

Desde aquele dia, prometi a mim mesma que nunca mais me permitiria amar as pessoas. Assim, quando elas se fossem, não significaria nada.

Eu não queria falar com ninguém. Eles não entendiam, eles não sabiam pelo que eu havia passado. Eles não sabiam o que era ter que enterrar seu pai e sua tia no mesmo dia, ter que dar adeus para as pessoas que a gente mais ama. E no fundo eu tinha raiva, por eles terem me deixado aqui sozinha, por ter sido justamente comigo, por existirem famílias tão completas e felizes...

Ótimo, a minha manhã já estava estragada e eu não queria mais ter que lidar com ninguém pelo resto do dia.

Cheguei no horário certo, por pelo menos uma vez eu não cheguei atrasada. Todos estavam me encarando como se aquilo fosse um grande evento.

— Ale, que bom te ver, então... — Matias recostou em minha mesa.

— Eu não estou mais afim de fazer esse trabalho hoje. A gente marca outra hora, não dá hoje. — esclareci antes que ele se empolgasse, como sabia que faria.

— Poxa, mas já estava tudo certo pra hoje... — falou com uma voz triste.

— Eu não estou num bom dia, Wilians.

— Tudo bem. Você tem todo o direito de não estar bem, não se preocupe. Mas, quer conversar sobre isso? — perguntou de um jeito fofo.

— Não, eu não quero falar sobre isso.

Assentiu. — Tá bom, a gente marca outro dia. Mas se precisar conversar, não exite. — arrumou o óculos e se virou.

Fechei os olhos com força. Normalmente não era tão difícil dizer não a alguém. — Ok, fazemos hoje o trabalho. Mas, sem ficar falando na minha orelha o tempo todo.

Ele deu um sorriso que deixava escapar suas covinhas. — Tá bom, Ale! Você é incrível! — me abraçou, fiquei estagnada enquanto ele me apertava com toda a sua alegria.

— Tá, já chega de abraço. — o afastei e ele levantou as mãos para cima, como
vítima. Revirei os olhos. Por que ele tinha que ser tão irritante e por que isso era fofo?

A aula começou. Aproveitei que estava com sono – após passar a última madrugada em claro, como de costume –, para dormir até a hora do recreio.

Quando acordei, minha mesa estava cheia de bilhetes.

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Como você fez para acabar com o Estevão? Eu que não queria estar na pele dele! Sabe... Eu gosto de garotas duronas assim. Quem sabe a gente não sai algum dia?!

João Carlos
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Me virei para o João Carlos.

Ele me lançou um olhar do tipo: "Topa?" — Vai sonhando — declarei com desdém.
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Eu sempre te achei durona, mas nunca imaginei que pudesse amedrontar um cara grande e forte como Estevão!

Ariel
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Revirei os olhos. Eles não sabiam de nada mesmo.
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Acorda dorminhoca, o professor falou que na próxima vez que você dormir na aula dele, ele vai dar suspensão.

Matias
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Era impressionante como o Matias era o único que tinha a maior naturalidade para falar comigo sem medo de levar um soco ou algo assim.

Eu não entendo, todos tem pavor até mesmo de olhar diretamente para mim. Mas ele até me abraçou. Isso é estranho, eu nunca tinha deixado que alguém me abraçasse antes, mas não tive coragem de impedir desta vez.

Joguei todos os bilhetes no lixo e saí da sala. Mal acreditei no que vi assim que pus o pé para fora da sala.

Aurora, uma garota qualquer da minha sala, estava abrindo e mechendo no armário da sua melhor amiga, Ariel.

Ok, podia não ser nada... Até ela abrir e ler o diário de sua amiga, olhando para os dois lados.

Peguei rapidamente meu celular e bati várias fotos da cena.

As duas são grudadas desde sempre, Aurora faria qualquer coisa para que aquela amizade não acabasse. Até porque, ela é a única amiga que tem.

— Suborno, minha parte preferida. — sussurrei para mim mesma, sorrindo de canto.

De repente, algumas pessoas começaram a voltar para a sala. O que me fez perceber que o recreio estava acabando.

Depois de algumas horas que mais pareceram dias, chegou o horário da saída. Deixei para usar as fotos contra a Aurora no dia seguinte. Agora eu tinha aquela droga de pesquisa para fazer com o Matias.

Falando nele...

— Ale, o que você acha da gente passar numa lanchonete antes de começar o trabalho? — ele perguntou, andando junto comigo até a saída.

— Eu não estou com fome. E não lembro de ter combinado isso. — fui clara e direta.

— Ham... é que hoje na cantina eles deram pão com geleia de amendoim. E eu sou alérgico a amendoim, então não comi e estou morrendo de fome. — falou olhando para o chão.

Revirei os olhos. — Bom, podemos ir, mas eu não vou entrar e nem comer!

Ele me olhou, indeciso.

— Entra, por favor. — pediu com os olhos brilhando.

Lancei um olhar de morte para ele.

— Está bem. Não vou insistir, donzela.

— Não me chame de donzela. — reclamei bufando.

Revirou os olhos. — Por que não?

— Porque eu não gosto e você não é excessão.

— Porque eu não gosto e você não é excessão

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Oiiiiiiiiii pessoal!!!

O que estão achando da minha protegida??? Próximo capítulo vai dar um UP a mais na história, aguardem...

Beijos e boa leitura! 😘

Alone Por Alone Where stories live. Discover now