32. Suspeitos e acusadores

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- Tem certeza, doutor? Ela está pronta para ir pra casa? - por mais que o médico dissesse que eu já estava completamente recuperada, minha mãe ainda receava.

- Sim, mas fique de olho. Ela não vai poder fazer muito esforço durante algumas semanas... ainda está um pouco fraca pela grande perda de sangue e os remédios fortes.

Minha mãe me encarou, com a sobrancelha arqueada - Está ouvindo, Alone?

Tive vontade de dizer que caso ela não soubesse, eu não era surda. Mas me controlei.

O celular da minha mãe começou a tocar e ela saiu do quarto para atender. E então o médico, ainda conferindo uns papéis, se virou para mim.

- Você fuma? - foi tudo que ele disse.

- Sim... Pouco, mas fumo. - respondi.

- Que bom que está tentando parar, pois se estivesse fumando com mais frequência, algo bem ruim poderia ter acontecido... Você perdeu muito sangue então alguns órgãos tiveram dificuldade em trabalhar durante esse período. - explicou. - Se sua frequência em fumar fosse um pouquinho maior, provavelmente seu pulmão estaria bem prejudicado. E talvez não tivesse aguentado até chegar ao hospital. Eu não sei qual foi o motivo por você querer parar de fumar, mas seja muito grata a ele, porque isso salvou sua vida. - Eu sabia muito bem qual era o motivo. Exatamente pelo Matias ter asma, eu não gostava de fumar na frente dele, tinha medo que fizesse mal para sua saúde. E por nós passarmos praticamente todo o tempo juntos, minha vontade e oportunidades de fazer aquilo foram diminuindo cada vez mais.

- Bom, já está tudo organizado para a sua saída. Fique tranquila, pela sua pouca idade, a recuperação vai ser mais rápida.

Saí do hospital já prevendo como seria os próximos dias. Minha mãe não ia mais sair da minha cola!

Fiquei feliz ao finalmente chegar na minha casa e poder deitar em minha cama.

- Filha. O Matias veio te ver - minha mãe gritou da sala.

- Manda ele subir. - gritei de volta.

- Oi Ale - ele abriu a porta com cuidado, observou cada pedacinho do meu quarto até chegar em mim.

Eu estava com um cropped preto pois a blusa enroscava nos pontos, o que fazia com que qualquer pessoa que me visse ficasse encarando a minha barriga, ou melhor, a minha cicatriz.

- Vai demorar um pouco para ela sair. - falei o fitando.

Ele ficou meio sem graça por eu ter percebido que estava olhando minha barriga.

Ficamos um tempo em silêncio, até ele voltar a falar: - Ale, eu andei fazendo umas pesquisas pelo bairro onde fica o autódromo. Quem mora por perto, as casas que tem visibilidade para a pista e tudo mais...

Me sentei, pelo jeito aquele seria um assunto não muito agradável, mas eu já sabia que uma hora seria necessário falar sobre isso.

Ele também puxou uma cadeira e se sentou.

- Eu vou até o fim, Ale. Eu não vou deixar seja lá quem fez isso, sair impune. Não mesmo.

Olhei para os seus pés que pareciam nervosos, batendo contra o piso.

- Cedo ou tarde as respostas aparecerão. - disse, simplesmente.

- Está poética hoje? - ele sorriu com aquelas covinhas mais lindas do mundo.

- Acho que minha mãe me influenciou. - dei de ombros, lembrando das palavras dela - Já tem algum suspeito? - perguntei antes que aquilo me fizesse lembrar do que aconteceu antes dela dizer aquilo...

- Sim. - ele se levantou. - Joaquim Peyton. Dezenove anos, pais viajam com frequência, filho único e os vizinhos me disseram que ele passa o dia inteiro olhando para a janela, a janela que mira para a pista. - ele falava como um inspetor de polícia.

- Hum - foi tudo que disse por um tempo - Não acho que seja o Peyton. Joaquim é tolo, ele não teria tal audácia ou capacidade.

- Você o conhece? - ele meio que fechou a cara. Ciúmes?

- Eu já fiquei uma vez com Peyton, numa festa. Joaquim é... um pouco excêntrico, e mimado. Não aceita um "não", mas não seria capaz de algo assim.

- Se ele não aceita um "não", você deve ter feito algo para o deixar irritado - ele ficou ainda mais emburrado e franzia o cenho de um jeito sarcástico.

- Bom... depois do beijo ele tentou me beijar de novo, enquanto me puxava para mais perto, mas eu não deixei que ele me beijasse, então ele se irritou. Eu o empurrei, ele caiu no chão e uma menina pisou com um salto agulha na barriga dele enquanto dançava, sem querer.

- Vocês estavam bêbados? - o Matias levantou as sobrancelhas, meio indignado por eu ter beijado Joaquim.

- Da minha parte não. - levantei as mãos em sinal de inocência.

- Tá, mas esse já foi um motivo mais que suficiente pra ele ficar com raiva. Será que esse garoto não continua nutrindo sentimentos por você? - torceu o nariz.

Pensei um pouco. - Eu não faço ideia. Nunca mais conversamos depois do incidente.

- O que acha de vermos com nossos próprios olhos? - ele sorriu de canto, me fazendo levantar em um só pulo.

Alone Por Alone Where stories live. Discover now