35. Viajando no seu olhar

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Matias Wilians

O grande dia chegou, eu estava muito animado, não exatamente pela viagem, e sim porque passaria bastante tempo com a Ale durante esses dias.

- Você tem náusea? - ela me perguntou enquanto conferia se sua mochila realmente estava completa. Olhei discretamente para sua cicatriz enquanto pensava no que responder. Ela era a única menina que tinha autorização para usar cropped, por conta da cirurgia recente que ainda não havia cicatrizado por conta dela fumar. O cigarro fazia com que fosse mais lenta a cicatrização, por isso ela ainda teria que usar roupas que não tampassem a barriga por um tempo.

- Náusea? - indaguei, agradecendo mentalmente pelo espelho do retrovisor mais próximo refletir a cintura perfeitamente modelada dela.

- É, o meu pai passava mal se ficava muito tempo em carros... por isso não andávamos muito neles - o sorriso dela foi morrendo aos poucos.

Do seu lado é impossível eu passar mal, pensei.

- Eu não tenho. Quer dizer, não que eu me lembre, até hoje acho que nunca passei mal em carros. - respondi, pegando a bolsa dela para levar até o carro.

- Não precisa. Eu levo - ela puxou de mim e com a maior naturalidade carregou até o porta-malas.

Eu ainda me impressionava com a força daquela garota. Eu quase tinha caído ao tentar fazer a mesma tarefa sem estar com um machucado no meio da minha costela.

- Pegou a bombinha de asma? - virou pra mim novamente.

- Peguei, chefe.

- Ok, eu não tô afim de ter que ficar socorrendo ninguém não, então faça o favor de ter juízo nessa viagem.

- Ok, eu digo o mesmo para você, senhorita Alone. Não se meta em encrencas - respondi, abrindo a porta para ela entrar.

- E não me chame de chefe. - arqueou uma das sobrancelhas.

Ri - Já estava esperando você dizer isto. - e entrei no carro pela outra porta.

A dona Íris logo apareceu, reclamando ter esquecido o protetor solar em casa.

Fomos obrigados a nos apertar lá atrás, enquanto o ônibus se preparava para partir.

O braço da Ale relava no meu inevitavelmente. O que não era algo nada mal.

Estávamos tão perto que sentia que ela podia escutar meu coração. E o melhor de tudo: passaríamos as próximas quatro horas assim, colados.

- Como o Tommy está? - ela perguntou depois de um tempo só ouvindo a conversa dos adultos.

- Ele está bem. Ontem eu fui na fazenda ver ele antes de viajar. Ele parecia ótimo. - sorri.

- Eu quero voltar lá algum dia. - ela falou, mexendo no cabelo.

Sorri bobo quando aquele cabelo tão escuro quanto a noite brilhou na luz do sol.

- Não faltarão convites. - afirmei, tentando conter meu sorriso.

Ficamos em silêncio e eles continuaram sua conversa super interessante sobre o uniforme da excursão. Que por acaso era até bem bonitinho.

As horas foram se passando e eu percebi que a Ale havia dormido. Ela estava tão linda com aquela babinha na lateral dos lábios. Dava até vontade de limpar com os meus dedos...

A cabeça dela girava de um lado para o outro com as lombadas. E com medo de que batesse no vidro, coloquei minha mão atrás de sua cabeça para balançar menos.

Só que de repente, ela pendeu no meu ombro.

Fiquei sem reação, não consegui me mexer e muito menos respirar.

- Você vai acabar tendo outro ataque de asma se não parar de segurar o ar desse jeito - ela murmurou, com voz de sono.

Eu não sabia se ria ou se ficava sem graça por ela ter percebido. - Pensei que estivesse dormindo.

Ela se aconchegou no meu ombro e sorriu um pouco. - Eu estava até sonhando.

- Com o quê? - perguntei automaticamente.

- Você amaria saber, mas não vou te contar.

Implorei para que ela falasse, mas não a convenci.

- Se continuar a insistir eu não vou mais apoiar em seu ombro. - falou inflexível.

Resolvi obedecer porque eu precisava sentir o toque daquele cabelo no meu ombro pelas próximas horas.

Aproveitei que minha mão estava ainda perto vidro e passei pelo braço dela, acariciando seu ombro.

Ela sorriu, mas quando percebeu que eu estava olhando, limpou a garganta e disfarçou.

Alone Por Alone Where stories live. Discover now