25. A máscara caiu

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Acordei com o barulho dos pássaros cantando na janela. Abri-a e joguei água para eles irem embora. Quem disse que os barulhos desses animais são "encantadores" está bem enganado!

Eu estava no extremo mau humor e nem sabia exatamente o por quê.

Vesti uma blusinha longa xadrez por baixo da preta de manga curta. Uma calça preta também e um all star cano alto pra variar um pouco a bota de sempre.

Saí de casa e fui a um mercado próximo para comprar um novo maço de cigarro, já que ultimamente meu vício havia piorado graças ao estresse com a briga com o Matias, resultado: cheguei no colégio atrasada.

E para melhorar teve prova surpresa. E eu ainda atrasada teria menos tempo para fazer. Eu não estava com a menor paciência para aquilo.

E pior, a prova ainda era de matemática.

- Aff, tenho certeza que fui muito mal. - falei para mim mesma, assim que a professora recolheu as provas.

- Você não pode ter ido mal, eu copiei tudo de você, se você zerar eu tô ferrado junto! - Ravi protestou, até então eu nem havia percebido sua existência na cadeira de trás. - Seu namoradinho parece estar bem animado conversando com a menina nova não é? Eu te avisei que ele era um idiota.

Olhei para o Matias, que sorria enquanto conversava com a Morgana.

- Um grande dane-se para ele e essa ruiva sonsa. - respondi alto, com o propósito de que eles me ouvissem mesmo.

Olhei para frente antes que pudesse ver se eles estavam me encarando, mas sabia que estavam.

Por conta da prova, fomos embora logo depois da segunda aula. Quer dizer, é isso que eu pretendia fazer, se não tivesse sido interrompida no meio do caminho, por uma mão me puxando para o corredor que dava no pátio

- O que você quer menina? Qual é o seu problema em me deixar em paz? - praticamente gritei quando vi que era a tal Morgana.

- Olha aqui Alone, eu acho que você não sabe com quem está falando. Eu fui expulsa da última escola por quebrar o nariz de uma garota. - falou mais baixo, enquanto apontava seu dedo indicador para mim.

- Problema seu e da trouxa que não soube se defender. - falei em tom jocoso. - Você acha que por acaso eu tenho medo de você? - Segurei o dedo dela e encravei minha unha por debaixo da unha dela. - Olha aqui você, Morgana, não me obrigue a te causar danos. Eu não sou tão inofensiva quanto pensa. - soltei o dedo dela.

- Eu também não sou. - disse com firmeza, limpando o sangue da unha na roupa.

- Ótimo saber que você é duas-caras. E está enganando o Matias. Eu sempre soube que ele merecia algo melhor do que alguém como você.

- Pelo menos eu sei o enganar melhor do que você. - Sorriu de canto, tranquila. - Algo melhor... quem? Você? - Me olhou de cima a baixo com desdém.

- Eu faço questão de te difamar pra escola inteira. O Matias vai descobrir quem você é! Caso não saiba, eu não tenho o menor problema em quebrar o nariz da primeira pessoa que se meter em meu caminho! - fechei o punho com ódio. Aquela menina realmente não sabia com quem estava lidando. - Quer testar?

- Não precisa... - o Matias surpreendentemente apareceu do meio do nada. - fazer esforço nenhum, eu já descobri quem ela é. E ela mesma confessou neste exato momento.

- Mat - ai que raiva desse apelido ridículo. - E-eu... não... é tudo culpa dela! - apontou para mim como uma criança ao receber bronca dos pais.

- Não aponte esse dedo imundo para mim de novo, a menos que queira o perder com um bisturi. - A olhei de canto que fez careta para mim.

- Como se você tivesse um na mochila. - revirou os olhos.

Virei a mochila de lado, pronta para a abrir.

- Quer o ver? Mas, só uma dica, todas as pessoas que viram alguma peça da minha coleção de armas, perdeu uma parte do corpo. - sorri ainda mais e fiz beicinho em seguida, para a provocar.

- Vai embora Morgana. Eu preciso conversar com a Alone a sós. - pediu o Matias, nos interrompendo.

Ela olhou para mim uma última vez, bufou e saiu pisando duro e murmurando algo como: "Isso não vai terminar assim".

- Nós não temos nada para conversar! - exclamei quando a ruiva já estava longe o bastante para não nos ouvir.

- Nós temos sim. - eu nunca o vi tão firme e decidido.

- Não importa se há o que conversar ou não. Você quer que eu escreva nas paredes que não quero mais falar com você? - aumentei o tom de voz impulsivamente. - Você não me descartou? Não deixou claro que eu sou um monstro? Eu já ouvi tudo isso, não há mais nada a ser dito. - fiquei séria passando por ele.

Ele puxou meu braço como sempre. - Alone, eu ainda acho que tinha outras maneiras de ter resolvido aquele problema com a Daphinny e também fiquei bem magoado quando você deixou claro que caras como eu não são suficientes pra você, mas... - ele abaixou o olhar para o chão. - Eu nunca disse que você é um monstro. E nunca diria nada ruim a seu respeito, mesmo que minha vida dependesse disso.

- Eu também nunca disse que você não é suficiente pra mim, mas ela entendeu que a gente tava ficando ou namorando, e você sabe que isso não é verdade. Por isso eu fiquei com raiva. Mas eu não quero falar com você agora Matias, você estava me ignorando até então, fingindo que eu nem existia como se fosse descartável para você. E eu ainda não estou pronta para fazer as coisas voltarem a ser como antes. Você nem mesmo me deu a chance de tentar explicar. - falei tudo num fôlego só e saí da escola antes mesmo dele poder responder algo.

Eu estava brava, primeiro por ele ter jogado tudo aquilo na minha cara naquele dia, sem nem deixar eu tentar me explicar; depois por ele ter me substituído como se eu fosse descartável e agora que ele percebeu que a Morgana não é quem ele pensava ser, resolveu voltar a falar comigo. Pois ele vai esperar por um longo tempo, se realmente quiser ter uma conversa!

Alone Por Alone Where stories live. Discover now