33. Uma guerra entre rivais

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- Mãe, eu vou sair com o Wilians - gritei, descendo as escadas e o levando comigo.

- Onde vão? - podia ver minha liberdade se esvaindo. Maldito acidente!

- Na casa dele. - blefei.

Saímos e ele logo me perguntou: - Por que mentiu?

- Ela jamais me deixaria ir ao autódromo tão depressa - sorri, olhando meu reflexo pela lente de seus óculos, avaliando minha aparência.

- Ah, isso não é certo. - falou com uma voz nervosa.

Mentir pra mim também não. Ou você acha que eu continuo acreditando naquela história de amiguinhos? pensei, mas obviamente não disse.

- Esquece o certo um pouco, Wilians, só, viva. - rebati.

- Tá, mas ficar mentindo assim pra sua mãe é desconfortável.

- Só relaxa um pouco. Vai ficar tudo bem. - garanti. - Você fica fofo preocupado... - provoquei. Eu sabia que não era certo fazer isso. Mas eu queria ver quanto tempo ele aguentaria.

Ele me olhou, com a boca entreaberta. Sustentei o olhar até ele abaixar as orbes para a... minha boca.

- A-acho melhor a gente continuar andando. - falei quando percebi que seus olhos estavam brilhando mais que o normal, talvez estivesse só lacrimejando pelo esforço em não piscar.

Ele não discordou e apenas foi andando com a cabeça baixa, meio anestesiado.

- Mas, sério? Aquele cara? Ele nem é tão bonito assim... - ele revirou os olhos.

- Ciumento! - o acusei, apontando o dedo.

- Eu não sou ciumento!

- É sim, até de mais! - peguei seus óculos e coloquei em mim.

- Ah é? Então você vai ver! - ele começou a fazer cosquinha na minha barriga e eu subitamente comecei a rir sem parar.

- Para, Matias! - era impossível não rir - Eu vou te matar!

- Duvido que você conseguiria. - desafiou.

- Não seria a primeira vítima - segurei a mão dele atrás das minhas costas para que ele não conseguisse mais fazer cócegas, o que também acabou aproximando nossos corpos significativamente.

- E quem foi o primeiro? - sussurrou, mais perto do meu rosto do que o normal, podia sentir a fragrância do seu perfume.

- A pergunta é quem será o próximo. - soltei seus braços. - Que tal Peyton?

Ele sorriu de canto, assentindo.

Continuamos andando até chegar na casa. Era cinza desde que me entendo por gente. Olhei para a entrada do autódromo, eu queria tanto entrar...

- O que foi? - ele disse enquanto tocava a campainha.

- É que... você vai achar bobo, mas é a primeira vez que eu entro nessa rua sem o objetivo de pilotar e isso me deixou meio pensativa...

- Não é bobo. Você tá triste e saudosa, é normal.

- Oi? - Joaquim apareceu no portão meio confuso com a nossa presença.

- Oi. Você já sabe quem eu sou, esse é o Matias e viémos aqui te interrogar. - falei seca.

- Quê? Interrogar? - franziu o cenho.

- Nós suspeitamos que você possa ter sido o responsável por um acidente de carro. Com certeza deve ter ouvido falar. - Matias explicou ainda mais friamente do que eu. Nunca o vi tão sério.

- Eu não sei do que estão falando. - tentou fechar o portão, mas eu enfiei o pé na frente.

- Você não vai sair daqui enquanto não contar tudo que queremos ouvir. E se mentir será pior - ameacei.

Ele saiu novamente e fechou o portão atrás de si, ainda carrancudo.

- Então... Joaquim, estava em casa na última quarta-feira? - Wilians arqueava uma das sobrancelhas.

- Eu... não.

- Então onde estava? - completei.

- No cinema - ele praticamente perguntou ao invés de afirmar.

- Engraçado que os vizinhos disseram que não te viram sair e nem entrar em nenhum momento. - Uau. O Matias realmente sabia o que dizer.

- E-eles não sabem de nada - ficou impaciente. - Eu não entendo porquê vocês estão me perguntando se não vão acreditar no que eu digo.

- Olha aqui, Joaquim, você está se contradizendo cada vez mais. E a verdade vai vir à tona. - O Matias endireitou a postura e o encarou.

- Vocês tem alguma prova contra mim?

- Digitais - sorri sarcástica. - Eu vou pegar a peça que está marcada com uma digital. Já volto, pra testarmos se é a mesma.

Ele engoliu em seco e não respondeu.

Fui andando com a cabeça levantada até o local onde eu estacionava o meu carro. O Matias falou que a prova que ele havia encontrado estaria lá no porta-luvas do carro. Decidimos fazer uma investigação particular, sem acionar investigadores ou a polícia, até porque isso acabaria dando problema para mim, já que não tinha carteira de motorista.

Cheguei lá e tirei o tecido que o cobria. Não pude deixar de lembrar de todo o sangue quando vi o tom vermelho vivo do carro. Quando passei a mão por sua estrutura que ainda estava molhada, lembrei da chuva e da hora que eu voei do carro.

Tirei minha mão rapidamente. Eu estava tremendo. Precisava sair dali logo, antes que mais flashes aparecessem em minha memória.

Coloquei a luva para não marcar a prova com a minha digital também e saí rápido.

Só que quando cheguei lá fora, tomei um susto.

O Matias estava em cima do garoto dando um soco em seu nariz, depois deu outro em sua bochecha. E quando ia se preparar para dar o terceiro, o empurrei, fazendo cair para o lado.

Peyton então aproveitou a brecha para retribuir o soco. Mas antes que avançasse com seus punhos fechados, segurei seu braço.

Ele continuou tentando se soltar, enquanto o Matias levantava, mas eu puxei seu braço para trás até que gritasse de dor, o imobilizando.

- Vocês têm merda na cabeça? Não conseguem esperar eu voltar pacificamente? - gritei bem mais alto do que queria.

- Ele admitiu, Ale. Foi esse babaca que te fez se machucar. Como pode brigar comigo, sendo que ele é o culpado?

- Dane-se o fato de ter sido ele ou não. Matias, eu deveria ter deixado ele te dar aquele soco!

- Se quiser, eu posso dar um murro agora. - o Joaquim se intrometeu.

- Quieto, Joaquim! Você também é um idiota!

Ele fez que ia falar algo, mas eu dei um tapa no seu rosto. - Eu não vou deixar você relar nunca mais no meu carro. E caso isso aconteça, eu mesma dou um jeito de te acabar com você! Eu poderia ter morrido, e por culpa sua. Você tem noção disso? Por que sabotou meu carro? - berrei.

- E-eu sempre fui apaixonado por você. Mas você nunca me deu atenção. Sempre ficou com joguinhos e se fazendo de difícil. E quando eu vi você lá na pista abraçando esse cara e juntos na chuva... eu tive um surto, mas não queria ter feito isso. Eu estou arrependido. - o nariz dele começara a escorrer sangue.

- Você não está arrependido, se estivesse não teria tentado bater nele. Você é fútil! Se antes não ficaríamos juntos, muito menos agora. - olhei de canto para o Matias que estava quieto, apenas ouvindo. - E também nunca mais vou deixar que rele em nada que é meu, seja minha boca ou meu melhor amigo. Fique longe de mim e de todos ao meu redor! Você não vai querer duvidar do que eu sou capaz.

Me virei e fui embora sem nem esperar o Matias.

Alone Por Alone Where stories live. Discover now