39. 4° dia

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Acordamos cedo demais pro meu gosto. E o motivo era simples: hoje era o penúltimo dia de viagem, mas o último que poderíamos aproveitar, pois no dia seguinte sairíamos logo depois do almoço.

Nós estávamos indo ao museu da cidade, que não ficava tão distante assim do hotel, então não precisamos ir de carro.

O museu era bem pequeno, mas por outro lado, bem organizado.

Havia animais empalhados, como tubarão e jacaré. Também, diversos quadros de lugares na cidade, que inclusive tínhamos visitado. Descobrimos que a igreja da cidade foi construída por escravos e jesuítas. Eu nunca imaginei que uma cidade pudesse ser tão antiga e estar tão conservada ao mesmo tempo!

Depois fomos às compras. As meninas estavam doidas por essa hora. Eu passei a última noite sendo obrigada a ouvir a - imensa - lista do que elas queriam comprar na avenida.

Elas nunca ouviram falar de compras pela internet?, Eu me perguntava a cada vez que elas tocavam no assunto.

Perda de tempo. Essa é a definição das quatro horas que passei aturando aquelas doidas gritando por causa de biquínis.

Aproveitei que não tinha opção e fui olhar umas roupas também... Aquele colorido me dava náusea, mas até que tinha umas peças escuras bem interessantes.

Eu estava analisando uma saia xadrez, preta e branca, com algumas correntes. Quando uma mão tampou meus olhos.

- Hum... deixa eu ver, não faço a mínima ideia de quem possa ser. - falei sarcástica.

O Matias tirou as mãos dos meus olhos e começou a fazer massagem nos meus ombros. - Vai comprar essa saia?

- Talvez... Vou provar primeiro. - levantei a cabeça para cima, olhando para ele sem precisar me virar, por ser um pouco mais baixa.

- Vai lá, eu quero ver como vai ficar.

Revirei os olhos ao me pegar imaginando o que o Matias acharia da roupa e me encarei sorrindo para o espelho. Eu nunca tinha me visto sorrir.

Saí de lá meio com vergonha, sem saber exatamente o porquê.

Ele ficou me analisando, detalhe por detalhe, sorriu tímido e corou ao voltar para a realidade. Em seguida, soltou um suspiro longo.

- Não vai me dizer que está tendo um ataque de asma? - Cheguei mais perto para averiguar.

- Não... - riu - É que você tem uma essência tão boa... Tão sua.

Sentei do lado dele no banco - Você também tem uma essência muito boa. Talvez seja por isso que seja a única pessoa que eu suporto... e gosto de suportar.

Ele sorriu ainda mais e bagunçou o meu cabelo.

Levantei - Vou provar a calça agora.

Ele assentiu e continuou esperando.

A calça era preta, estilosa e também tinha correntinhas, estilo punk com bolsos nas laterais.

Saí e fiz pose de modelo, fingindo estar em um desfile.

- Eu já disse que você ficaria linda até careca?

Fiz que sim com a cabeça e peguei as duas roupas para pagar no caixa.

- Ah, antes que eu me esqueça - falei puxando uma camiseta que eu tinha dado um jeito de esconder quando ele chegou.

"O nerd preferido de alguém" estava estampado na frente. Ele olhou bem para a blusa e insistiu que eu não precisava gastar dinheiro com ele, mas eu comprei mesmo assim. Já que estava devendo essa a ele e não podia deixar de comprar uma camiseta que se encaixasse tão bem a nós.

Fomos a um restaurante na beira do Mar Doce. Era bem gostoso lá e todo mundo estava muito animado pois a viagem estava saindo muito bem.

Pedi batata frita e uma parmegiana, as meninas pediram macarrão e bife e o Matias pediu arroz, feijão e frango assado, alegando estar com saudade da comida caseira da sua mãe. Todo mundo riu.

Quando estávamos quase terminando de almoçar, as meninas avisaram que iam no banheiro e quando ficamos nós dois "sozinhos" começamos a ouvir um barulho familiar... carros, não carros comuns, carros de corrida. Trocamos olhares cúmplices.

Nossos ouvidos não estavam errados. Logo vimos um homem todo de vermelho estacionar com cuidado e sair meio bravo.

Ele foi para o outro lado da rua e começou a discutir com outro homem. Ele saiu pisando duro, descendo as escadas até o Porto e deixando o carro lá, com o motor ligado.

Ele não sabia que aquilo era perigoso? Qualquer pessoa podia entrar lá e até mesmo roubar o carro. Ainda mais daquele porte, um dos mais caros que já vi. Não era como se fosse algo banal, ou sem valor, aquele carro devia valer milhões.

O Matias pareceu adivinhar meus pensamentos - Vamos ver mais de perto, vem!

Senti meu coração acelerar e eu não conseguia decifrar o por quê.

Comecei a tremer quando realmente chegamos no carro.

- Você tá pálida, Ale. O que aconteceu? - ele exclamou, franzindo a testa.

- E-eu não sei. Apenas comecei a tremer quando chegamos perto.

- Você... está com medo? De dirigir novamente?

- Eu não tenho medo de nada! - respondi alto, tentando convencer a mim mesma também.

Ele pegou a costa da minha mão e levou até o carro.

Sentir aquele capô gelado parecia ter me congelado por dentro. Engoli em seco.

- Está vendo? Nada de ruim aconteceu com você. - falou baixinho.

Puxei minha mão depressa - Você não tinha o direito de fazer isso!

- Ale, enquanto eu estiver com você, nada de ruim vai acontecer, eu não vou deixar. Você só tem que acreditar que pode fazer tudo.

Olhei pro chão e depois para o caminho que o homem tinha feito até o Porto.

- Eu acho que ele ainda vai demorar. - eu disse, tendo um surto de coragem.

Ele sorriu e abriu a porta para mim. Eu não pretendia pilotar. Somente sentir aquela sensação gostosa de estar dentro de um carro de corrida.

O banco cheirava a perfume masculino e era um veículo bem moderno, eu nunca havia entrado num daqueles.

Saí feliz por ter conseguido vencer o meu medo e abracei o Matias - Obrigada - sussurrei, em seu ouvido. - Você podia ter desistido de mim, mas não fez isso em nenhum momento.

Alone Por Alone Onde histórias criam vida. Descubra agora