21. Eu sinto sua falta...

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Chegamos em casa de noite, eu estava cansada mas ela pediu pra mim esperar na sala antes de subir para o quarto.

- Filha... eu preciso te avisar que vou viajar a trabalho.

Dei de ombros. - Nada que eu já não esteja acostumada. Quando você vai?

Amanhã. - engoliu em seco, parecendo nervosa. - E... só volto daqui duas semanas. A viagem não é para muito longe, mas vai ser boa para empresa...

- Ah, agora eu entendi o porquê de você ter tirado folga hoje. Era pra me agradar antes de você voltar para aquela merda de vida. - falei, meio irritada.

- Alone, eu já te expliquei que esse é meu emprego e eu não posso abrir mão dele. - respondeu, pousando a mão em meu ombro.

Puxei o braço, não querendo seu toque.

- Desde que meu pai morreu, eu me tornei um peso pra você. Eu odeio ter que morar com você! - fui indo até a escada pra ir para meu quarto.

- Eu já estou cansada de brigar com você. - sentou no sofá, passando a mão na testa.

Subi sem nem olhar para a expressão dela, mas eu já sabia que não era nada boa.

- E eu estou cansada de você! - gritei de volta.

Fui pisando duro até minha cama e deitei, fiquei algumas horas acordada e quando era três da manhã eu peguei no sono.

Quando acordei de manhã já estava decidida a ir fazer algo que não fazia a muito tempo: ir ao cemitério ver meu pai e minha tia.

Eu sentia tanta falta deles, se hoje ainda estivessem aqui, tudo estaria melhor. Sem eu precisar morar com essa chata.

Ela já tinha ido trabalhar quando saí do quarto. Ufa. Peguei uma pera na fruteira, foi a primeira fruta que vi e guardei em um bolso, para mais tarde. E saí acendendo um cigarro, como todas as manhãs.

Fui até uma floricultura não muito longe de casa e comprei um buquê de lírios brancos. Os preferidos da minha tia...

O clima no cemitério é tão pesado... às vezes é até difícil respirar. Cheguei na cova deles e me ajoelhei em cima da grama.

- Pai... tia... que saudades de vocês. - me seguro para não chorar.

- A vida tem sido difícil, mas eu segui o conselho de vocês em não desistir, mesmo que não suporte mais a realidade... Às vezes eu queria mudar a maneira que estou vivendo, que as coisas pudessem ser mais... leves. Que eu pudesse ser uma pessoa mais leve, talvez eu não afastaria tantas pessoas, não teria o vício do cigarro e crises de insônia tão cedo. Mas eu acho que agora é tarde demais para isso, se eu pudesse voltar no tempo, para início de conversa, não teria entrado naquele ônibus.

Vi alguém chegar na lapede do lado e ajoelhar. Não olhei para seu rosto, mas só pelo jeito de andar já soube que era um homem.

Uma lágrima insistiu em cair do meu rosto, enquanto eu olhava o pequeno retrato do meu pai... ele era tão sorridente e as covinhas eram tão marcadas como as de...

- Ale? - a voz vizinha falou alto.

Só uma pessoa me chamava assim: Matias!

- Wilians, o que faz aqui? - exclamei, limpando a lágrima rápido e com força.

- Eu vim ver o túmulo da minha avó. - apontou para a foto dela.

- Eu não acredito nessa coincidência! - fiquei embasbacada.

- Pois pode acreditar! E você, veio ver seu pai e tia?

- Sim. E você de novo me viu chorar, não é? - ri, constrangida.

- Pode ficar tranquila, eu não sou como o Ravi que espalha pra todo mundo. - revirou os olhos.

- Que bom, para o seu próprio bem! - ameacei ao mesmo tempo rindo.

- Você ama uma ameaça não é? - indagou, se levantando.

Onde vai? - Questionei não querendo que ele fosse embora, por algum motivo, mas não querendo me importar com sua ausência, ao mesmo tempo.

- Vou sentar num banquinho enquanto você tem "o seu momento". Não quero atrapalhar. Eu sei que a minha presença te distrai. - Que convencido!

Mostrei a língua pra ele e acenei.

- Quando terminar seu "momento", me encontre no banquinho. - avisou, sorrindo enquanto olhava a foto do meu pai. - Ele parecia ser um homem incrível.

- E era - abaixei a cabeça, olhando as flores.

Ele tocou no meu ombro e em seguida saiu.

Fiquei lá um pouco, só pensando em como poderia ter sido a minha vida...

[...]

- Sabe - falei sentando do lado do Matias no banco e também o assustando. -, se minha vida não tivesse mudado tão drasticamente, provavelmente eu não teria te conhecido.

Ele sorriu e limpou uma lágrima do meu rosto. - Isso te entristece ou te conforta? - deu uma risada gostosa.

- Me faz ver que as coisas poderiam ter sido piores, pelo menos uma coisa boa surgiu de tudo isso.

- Ter te conhecido foi a melhor coisa que aconteceu nos últimos tempos. - afirmou, parecendo triste e ao mesmo tempo emocionado por me ver com os olhos inchados.

- Mesmo? - perguntei baixinho.

- Mesmo!

Trocamos olhares por um instante, olhares cheios de informação e sentimentos.

Não resisti a vontade de tirar aquela mecha que insistia em cair em seu olho. Mas consequentemente acabando com o momento também.

- O que está fazendo? - olhou para ela, vesgo, o que me fez rir.

- Tirando o cabelo do seu olho - justifiquei.

- Por quê? - indagou, parecendo esperar uma resposta atravessada.

- Porque se não eu não consigo ver o seu rosto por completo. Principalmente seus olhos...

- Ah, então você gosta de olhar nos meus olhos? - Fez cara de quem havia acabado de descobrir a América.

Bufei. - Eu não diria isso exatamente... mas são bonitos e expressivos.

Ele pareceu satisfeito.

- Como foi o dia com a sua mãe ontem? - indagou.

- Péssimo, nós brigamos no final, ela foi fazer uma viagem a trabalho e só irá voltar daqui duas semanas.

- Eu sinto muito. - falou, diminuindo o sorriso.

- Está tudo bem, eu já não me importo mais. - baixei a cabeça e ficamos em silêncio por um tempo.

- Tem algo pra fazer agora?

Alone Por Alone Where stories live. Discover now