11. Trabalho e confusão II

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- Ale - disse com a voz fraca, finalmente acordando. -Eu prometi que você não passaria por isso de novo... e eu vou cumprir.

Eu estava o apoiando com minhas mãos em sua cabeça, mas o soltei logo em seguida.

- Ai, não é assim que se trata uma pessoa que acabou de desmaiar, sabia? - reclamou, passando a mão na cabeça após a bater no chão com o impacto.

- Que merda, Matias! Nunca mais me assuste de tal maneira, seu idiota! - gritei, limpando os olhos e pegando minha bolsa no sofá.

- A-aonde você vai? - se levantou com cuidado.

- Embora. Eu estou irritada e não quero mais conversar com você hoje.

- Mas não tem como eu controlar minhas crises de asma. Elas simplesmente acontecem. - me seguiu, enquanto eu saía. - Me desculpa, Ale.

- Eu avisei. Não prometa o que você não pode cumprir.

Sua mãe finalmente resolveu aparecer, perguntando o que havia acontecido.

Revirei os olhos, bufando e passei por ela sem dar explicações. Batia o pé com força contra o concreto da calçada. Eu estava com tanta raiva que parei em um parque não muito longe porque as lágrimas já não me deixavam olhar para onde estava indo e chutei uma árvore, que entortou um pouco com a pancada, fazendo um galho despencar no chão.

Cheguei em casa bufando, mas minha expressão logo passou de emburrada para surpresa.

Minha mãe estava sentada no sofá, com os braços entrelaçados. Fazia mais de uma semana que eu não a via.

- Alone, onde você estava? - ela perguntou.

Eu não sabia se ela realmente estava ali ou eu estava ficando louca.

- Mã-mãe? O que você faz aqui?

Ela riu com sarcasmo. - Eu não posso estar na minha própria casa? - a encarei com uma sobrancelha levantada. Ora essa! - Bom, eu recebi uma ligação da escola falando que você havia faltado dois dias seguidos e eles queriam saber se você já havia melhorado da terrível febre. - parou por um pouco e me analisou. - Você não tem vergonha de mentir para todos?

- Por que eu teria vergonha? - devolvi a pergunta com ousadia.

- Porque, Alone, eu trabalho dia e noite para sustentar você. Para você ter estudos, ter um futuro. E você retribui tudo isso matando aulas? Mentindo sobre uma falsa doença? O que mais está fazendo que eu não estou sabendo?

Ela estava irritada. Mas não mais que eu.

- Ah, claro mãe. Você com certeza é a super heroína nessa história, não é? Desde que meu pai morreu, eu fui obrigada a morar nessa droga de casa! E você como minha mãe deveria ter me dado consolo e amor, mas como sempre, você pensa que tudo que eu preciso é estudos e futuro. - ficamos as duas se olhando, sem dizer nada. Apenas guardando todas as mágoas de cada uma dentro de si. - Minha tia era uma mãe melhor do que você jamais seria.

- Mas ela morreu. Ela morreu, Alone. Quando você vai entender que eu estou tentando?

- Tentando... Claro que está. - respondi sem conseguir a olhar, tamanha raiva.

- Você sabe que estou. - se levantou.

- Não, mãe, eu não sei. Quando eu só precisava de uma mãe, você não estava lá e ainda acha que pode exigir algo de mim? Que tal dar o exemplo, antes de querer dar alguma lição de moral pra mim?

- Para a sua infelicidade, eu ainda tenho autoridade sobre você e faço parte da sua vida. Quer você queira ou não. - jogou na minha cara.

- Faz parte mesmo? Pois então acerte um único fato sobre mim. Qualquer coisa. Eu duvido. - eu sabia que era um jogo bobo e infantil, mas pelo menos poderia a fazer se sentir culpada caso errasse e me livrar de um castigo. - Qual minha cor preferida? Ou essa pergunta é muito complexa para você?

Ela fez cara de convencida. - Rosa, claro. Quando pequena você sempre dizia que rosa era sua cor favorita...

- Eu odeio rosa, fala sério. - passei por ela, indo para o meu quarto.

- Não, espera. Eu sei várias coisas sobre você sim. Por exemplo, tenho quase certeza de que ainda não teve seu primeiro beijo.

Ri alto. - Eu já namorei mais de três caras. Quantos anos você acha que eu tenho? Seis? - subi as escadas que levavam até o meu quarto.

Ela até veio atrás e ficou meia hora fazendo um discurso ridículo sobre "as consequências de matar aula".

Achei que ela fosse continuar pegando no meu pé, mas na manhã seguinte, quando acordei ela já havia ido trabalhar. Eu acho que posso chamar isso de paz.

Curti os poucos momentos desse bom sentimento, ouvindo música nos fones, até chegar na escola. Eu não entendo como aqueles animais conseguem ser tão barulhentos.

Fiquei na porta da sala, esperando a Aurora aparecer. Eu precisava saber o que tinha dado errado.

Quando ela chegou, com a cabeça baixa e indo em direção de seu lugar, a puxei para fora da sala.

Ela estava com os olhos arregalados e franzia as sobrancelhas. - O que...?

- Aurora, querida. - falei ainda segurando seu braço. - Eu não me importo em ser descoberta por matar aula, nada acontece. Mas sabe o que realmente me irrita? - ela fez que não com a cabeça, se encolhendo cada vez mais. - Pessoas que desafiam os seus limites. As coisas não funcionam assim comigo. - falei apertando seu pulso com força.

- Nã-não fui eu que contei para a diretora, e-eu juro. - disse baixo e gaguejando.

- Então quem foi? - perguntei em tom alto e ameaçador.

- A Bela, e-ela me obrigou a falar o que você estava tramando e contou tudo para a diretora, eu não estou mentindo. Você sabe que minha irmã é louca. - eu já havia até esquecido que elas eram irmãs, por simplesmente fingirem que não se conhecem na escola.

- Bela... Ah Bela, agora ela arranjou uma inimiga... - sussurrei comigo mesma.

- Vo-você pode soltar meu braço por favor? Está machucando. - eu já havia até esquecido da existência daquela garota.

- Ande, saia da minha frente, sua inútil. E se ver a Bela em algum lugar, diga que eu avisei ela para se cuidar, pois eu não vou deixar as coisas ficarem assim.

Ela assentiu. - Pega leve com ela tá? - e entrou na sala com pressa.

- Pegar leve... Até parece que eu já fiz isso alguma vez na vida... - disse para mim mesma, enquanto mexia em algumas coisas no meu armário.

O sinal soou e entrei, indo até o meu lugar. A professora chegou e começou a dar sua aula, como sempre, entediante.

De repente ouvi batidas na porta, a diretora estava parada, olhando de mim para o Matias. Já sabia o que viria agora.

- Com licença professora Alexandra. Bom dia alunos - ela falou com um meio sorriso, analisando a turma. Que respondeu com um "Bom dia" em coro. - Alone Nicols e Matias Wilians, podem me acompanhar até minha sala, por favor?

Me levantei, revirando os olhos. Até que a primeira advertência do ano havia demorado bastante para ocorrer. Mais de uma semana é um recorde.

O problema não era que eu tomaria uma advertência, dane-se isso. O problema era que além de mim, o Matias tomaria ocorrência. E provavelmente era a primeira vez dele na diretoria, pois seu rosto estava mais pálido do que na vez que a professora nos pegou passando bilhetes.

- O que acontece agora? Eu virei um aluno mau? - sussurrou enquanto seguimos a diretora.

- Seus pais brigaram com você por ter matado aula? - cochichei de volta, ignorando o fato de o comentário dele ter insinuado sem perceber que eu era uma má aluna. Não que não fosse verdade.

- Esse é o problema, eles estão viajando. Vão me matar quando souberem.

- Entrem. - ela nos desconcentrou de repente. Abrindo a porta para nós, e o fazendo pular de susto. Seu rosto franzia de medo como nunca e o pior era que eu não sabia o que fazer.

Ah, Bela... Você se verá comigo. Aguarde...

Alone Por Alone Onde histórias criam vida. Descubra agora