Cap3

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Paola

aquele homem parecia um quebra-cabeça,mas ainda assim eu me sentia bem perto dele. e apesar das suas palavras assustadoras, ainda assim sua voz era doce aos meus ouvidos.

sim, eu sabia que aquele era um belo monstro, ele iria me machucar e então depois me curar?

-para onde estava indo?

ele falou novamente, e dessa fez de forma mais sombria.

-para lugar nenhum!

tentei soar firme, e sem medo, mas era impossível diante daqueles olhos perversos.

-você jura?

ele disse se aproximando de mim, seu cheiro forte e levemente adocicado, um aroma marcante um perfume que eu jamais imaginaria que se tornaria tão presente em minha vida.

-sim!

eu tentei, mas minha voz tinha se perdido, eu agora parecia só mais um insecto indefeso.

-eu vi que atirou uma bolsa do lado de fora

no momento que ele disse isso minha respiração falhou, meus documentos!

 eu não poderia circular livre nesse país sem eles, porque eu era negra e cubana, e eles me pediriam isso em todos os recintos que eu quisesse entrar, aqueles papeis são a minha vida.

e ele sorriu, e eu nunca tinha visto aquele homem sorrir, mas ele o fez. e pareceu a primeira chuva depois de um verão intenso, era assustador.

-se você me dizer a verdade...

ele deu uma longa pausa, causando um mistério ...daqueles que só aparecem em filmes de terror.

-eu vou ajudar a minha mariposa.

não entendi direito sua afirmação, talvez eu devesse aprender melhor inglês, ele iria ajudar uma borboleta? talvez ele tivesse uma alma gentil e eu estivesse errada.

-eu tenho 16 anos

comecei falando

- e posso ser legalmente uma maior de idade aqui nos estados unidos, mas ainda assim sou uma incapaz de cuidar de uma criança, eu não posso permitir que matilda. minha irmã seja levada para um orfanato longe de mim,temos os documentos podemos nos manter afastadas, até eu arranjar um emprego.

eu falava tudo rapidamente quase sem fôlego, com os olhos marejados e olhando fixamente pro chão,não seria capaz de confessar tudo olhando diretamente nos olhos daquele homem.

-criei matilda nas ruas de cuba, aqui será moleza, por favor me deixe ir!

quando disse isso, seus olhos brilharam em minha direção parecia...raiva! então decide tentar outra coisa

-então me ajude! por favor nos ajude, mas não deixe nós voltarmos para lá, eles podem levar maty.

me ajoelhei diante dele, me humilhar não era nada demais, passei á vida comendo  restos dos lixos, passei a vida me rastejando nos cantos dos becos por proteção.

maty ao meu lado parecia confusa, a mesma segurava seu ursinho na mão ela o guarda mesmo tendo completado oito anos.

senti mãos grandes em meu cabelo volumoso, senti o toque suave em forma de carinho,como se eu fosse seu animal de estimação, e ouvi suas palavras.

"eu vou cuidar de você mariposa"

inocente demais para saber que naquele momento, que eu tinha entregado minha vida á um homem cruel, á um fanático e cético.

A morta de fome || Matheo BetrovicWhere stories live. Discover now