Capítulo 3: Craig

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Havia um ano que havia se mudado para Craig, esperando o dia de seu casamento.
Apenas um mês depois de assinado o acordo de noivado, seu pai a havia despachado para Craig desejando-lhe boa sorte.
Somente o Frei Caiside tinha ido se despedir dela, desejando-lhe uma boa vida em Craig.
-Ouça um bom conselho vossa alteza: aconteça o que acontecer não perca sua fé, e aceite com calma e coragem o que Deus assim permitir. Acredite apenas no que seu coração sente. E não perca seu senso de justiça que a verdade não vai lhe faltar.
A comitiva que o rei ordenou  que a acompanhasse era pequena e ela levou no seu baú apenas as poucas peças de roupa que tinha, sua coroa de princesa, algumas joias herdadas diretamente de sua mãe e mudas de rosas. Sua intenção era plantá-las em Craig, se o rei assim permitisse.
Sua chegada a Craig a animou profundamente. Craig era um reino lindo! A paisagem era completamente diferente de Havema, que tinha um ar bucólico e sombrio.
Mas Craig não! O mar ali tão perto abrandava o ar e tudo parecia iluminado e perfeito.
Quando sua comitiva chegou  na estrada que levava ao castelo de Craig, os camponeses a olharam com curiosidade, espantando os cabritos e as galinhas que estavam no meio da trilha que levava ao castelo.
O estandarte indicava que era alguém da realeza, mas a  meia dúzia de cavaleiros e uma mulher em trajes muito simples montada num cavalo pequeno sem os adornos característicos que os diferenciava dos demais, não causou nenhum tipo de reação nas pessoas.
Sabiam que a futura rainha estava pra chegar, mas aquela jovem de longos cabelos pretos, um ar despretensioso e muito pálida não podia ser a rainha.
Ou podia?
Por via das dúvidas, os camponeses fizeram uma pequena reverência e quando o grupo se afastou voltaram aos seus afazeres  indiferentes a chegada dos estranhos viajantes.
Afinal, Craig era um reino de passagem e havia sempre muitas pessoas transitando pela pequena estrada de terra e pedras que levava ao suntuoso castelo onde moravam o rei e sua corte de nobres.
Roshlyn chegou ao pátio principal e  desmontou do seu cavalo e imediatamente lá estava uma jovenzinha com um rosto muito alegre e vestida com um lindo vestido verde que lhe caia perfeitamente no seu corpo franzino.
Um homem de cabelos brancos e muito elegante se apresentou como chanceler mor de Craig, Sir Bartolomeu, e lhe deu as boas vindas em nome do rei Derek. Em seguida,  a apresentou a princesa Felícia, a irmã caçula do rei de Craig,  que logo assim que viu Roshlyn a cobriu de beijos e abraços de  boas vindas.
Roshlyn estranhou os cumprimentos esfuziantes, não estava acostumada a ser tocada de maneira tão carinhosa e tão verdadeira.
A princesa realmente parecia feliz em vê-la e isso abrandou angústia e medo que sentia por estar ali.
-Seja bem vinda, minha cunhada. Que seja muito feliz em Craig! Aliás, não tem como não ser feliz aqui! Você verá.
E assim Felícia foi conversando, apresentando Roshlyn a cada nobre e criado que via pela frente.
A figura de Roshlyn vestida num simples vestido de algodão, sem nenhuma joia, nem luxo causou estranheza a todos.
Delícia a levou até um grande salão onde estavam reunidos os conselheiros do rei.
-Milordes, vos apresento a princesa Roshlyn de Havema e futura rainha de Craig.
Os conselheiros pareciam incrédulos diante da figura vulnerável e deveras diferente das mulheres exuberantes de quem o Rei Derek apreciava e que estavam esperando como sua noiva.
Eles fizeram uma reverência, procurando disfarçar o efeito que a figura simplória haviam lhe causado.
Qual a razão do rei ter escolhido aquela jovem?
Mas sabedores das idiossincrasias do rei, decidiram esperar para ver o resultado daquela escolha tão incomum,
Passado alguns dias onde Felícia  agia como sua cicerone, ela conheceu  todo o castelo e suas dependências alem de todo vilarejo e seus moradores.
Roshlyn estava encantada com a atenção que a princesa lhe oferecia, de tão bom grado, e com tanta alegria.
Numa  tarde, Felicia a levou até a praia onde Roshlyn conheceu o mar pela primeira vez.
Após alguns minutos que haviam chegado, Felícia começou a bater palmas esfuziantes.m olhando para o desfiladeiro que terminava ba praia.
Roshlyn a olhou curiosa. A menina tinha uma alegria genuína e contagiante, mas quando ela viu quem chegava, seu coração quase pulou para fora.
Era o rei Derek e sua guarda pessoa que galopavam rapidamente até onde elas estavam.
Felícia parecia feliz em ver o irmão, e assim que ele desmontou de seu cavalo branco, ela o abraçou pela cintura.
-Oh meu irmão!  Que bom vê-lo bem e vivo!
Derek a beijou na testa sem deixar de fitar  o olhos extremamente azuis de Roshlyn.
Ela estava com os longos cabelos pretos soltos e usava a sua indefectível capa surrada e remendada. Tinha um ar frágil e era extremamente magra e pálida.
Ela sustentou seu olhar por alguns alguns minutos e depois envergonhada, fez uma longa reverência ao rei.
-Hei Dek. Não está me ouvindo? Como foi a batalha de Brugnaro? Tio Theo agora é o rei lá também? E tio Cornell? Como foi? Conte-me tudo!!!
Estava sendo difícil para Derek desviar seu olhar de Roshlyn. Ela era bonita a sua maneira. Mais parecia uma camponesa do que uma princesa, e esse fato intrigava Derek.
-Foi tudo perfeito! Sim, Theo é o novo rei de Brugnaro e Walden, mas ainda teremos algumas questões a resolver por lá. Cornell foi ferido por uma flecha, mas nada grave,  e Theo está usando tapa  olho  feito por um fragmento de espada. Mas nada que dois copos de cerveja não curem.
Felicia deu uma risada longa e continuou falando dessa vez com Sir Gerwald, o chefe dos cavaleiros de Derek, enchendo-o de perguntas sobre a batalha e seus resultados.
Nisso Derek se posicionou ao lado de Roshlyn, ambos olhando o mar.
-Já havia visto algo tão bonito assim?
Roshlyn estava desconfortável. Era a primeira vez que falava com o rei e a terceira vez que o via. A segunda, foi na noite após o Banquete das Rosas onde foi noticiado seu noivado e ela descobriu que seu noivo era o homem que havia visto com a duquesa Ava na estufa.
Ela abaixou os olhos e Derek viu que seu perfil era quase perfeito. Ela tinha uma tez pequena, o nariz era perfilado e a boca carnuda era muito graciosa.
-Não vossa majestade. É a primeira vez que vejo o mar.
Ela tinha a voz doce e Derek notou que ela torcia as mãos com nervosismo.
-Já provou?
Roshlyn o olhou incerta se havia ouvido a pergunta correta.
Então Derek se abaixou um pegou um pouco da água espumosa com as mãos em concha e a ofereceu.
Ela olhou para ele sem entender.
-Prove! Antes que a água se esvaia.
Insegura e desconcertada, Roslyn provou a água tocando levemente com os lábios fechados  e depois passou a língua para sentir o gosto de sal.
Derek a olhava fixamente.
Ao provar a água do mar, Roshlyn arregalou os olhos extremamente azuis e pareceu realmente surpresa.
-Oh! Vossa Majestade mandou salgar a água?Felicia que há havia voltado para perto do irmão, começou a rir com o irmão, mas sem nenhum escárnio.
-Claro que não princesa! A água do mar há nasceu assim!-disse Felícia alegremente.
Roshlyn estava encantada! E deu um sorriso aberto e de repente começou a pegar a água e a cheirar, a passar a água entre os dedos, como uma criança feliz.
Seus dentes brancos e quase limpos eram realmente bonitos. Aliás, o sorriso mudou completamente o semblante triste e sério da princesa, e a transformação foi encantadora!
Derek a olhava como se ela fosse uma mercadoria que ele nunca havia visto.
-Ora, ora, ora... essa mocinha podia ser bem interessante!

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now