Capitulo 24: A noite é escura meu rei assim como é escuro o meu coracao

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O banquete foi regado a muita cerveja hidromel além de um lauto e longo banquete com carnes e pães frescos. Roshlyn mal conseguia comer sequer um pedaço de pão ou de carne.
Tentava ainda perdoar  o rei  por haver lhe dado uma moeda ao invés de uma joia. Não que ela se interessasse pela joia em si. Ela não se importa com isso. Mas o que isso significava sim. O total desprendimento do rei em relação a ela e ao contrato que os unia.
Roshlyn olhou para  o rei. Estava muito bonito com sua cota de malha de cavaleiro, um manto roxo debruado em ouro e sua coroa que ele usava meio de lado.
Derek notou que estava sendo observado e  retribui o seu olhar.
No meio de todas aquelas nobres ricamente vestidas e com joias seculares de família, ela se destacava pela sua beleza singela. Sua simplicidade que antes lhe pareceu simplória, agora tomava um outro sentido.
Ela era bela e simples como uma flor. Como  a flor linda e cheirosa que ela trouxe de suas terras.
Ele tomou um gole de cerveja mantendo o contato visual com sua agora esposa e viu ela baixar os olhos encabulada.
Daqui a pouco, ela iria para a câmara real onde teriam a primeira noite juntos.
Assim  como Cornell  ele também havia dispensado  que os clérigos e convidados estivessem presentes na sua noite nupcial. Também não daria prova de pureza, porque ele não se importava com isso e negou peremptoriamente qualquer  regra  desse tipo no seu casamento.
Foi então que viu a movimentação das mulheres e das suas damas de companhia. Iriam  prepara-lá para ele.
Derek sentiu um misto de emoções. Não sabia como agir com Roshlyn. Poderia apenas dormir com ela, lhe tirar a sua virgindade e voltar a vê-la novamente quando bem lhe aprouvesse.
Estava nervoso.
Olhou para Cornell e Beatrice. Ambos pareciam perdidos um no outro. Ele não esperava que o casamento de seu amigo fosse como os demais que conhecia. E pelo jeito não era mesmo.
Eles pareciam apaixonados um pelo outro. É isso era bom. Não sabia se conseguiria um dia se apaixonar, mas estava profundamente feliz pelo amigo ter encontrado o amor na pessoa linda e boa de Beatrice.
Então ele viu quando Roshlyn levantou-se e saiu do recinto.
Em breve estaria com ela.
....
Roshlyn esperava seu marido na câmara real. O ambiente era sofisticado tendo uma enorme lareira no meio do quarto, além de inúmeros candelabros e um grande colchão de plumas cobertas com mantos e almofadas.
Alguém havia providenciado flores. Eram rosas. Ela chegou perto do enorme jarro com as flores e as cheirou.
-De onde vieram essas flores?
Roshlyn ficou emocionada com esse pequeno gesto de gentileza. Ela amava as rosas. Tocou levemente as pétalas róseas.
-Parecem veludo não é mesmo?
Roshlyn se voltou assustada e o rei estava na sua  frente. Ele ainda estava vestido para a cerimônia e se aproximou lentamente retirando a  coroa  e deixando seus cabelos semi longos livres e despenteados.
Ele era realmente uma figura magnífica.
- Sim, milorde. Me permite perguntar se elas vieram de Havema?
Derek colocou a coroa  no aparador e ele mesmo retirou seu manto, pois havia dispensado todos os criados.
-Sim. Eu mandei buscar em Havema, milady.
Roshlyn levou as mãos ao peito.
Quanta gentileza! Ela não sabia como agradecer. Seu pai não havia comparecido e nenhum outro nobre de Havema. Apenas seu irmão mais velho compareceu à cerimônia e mal haviam trocado meia dúzia de palavras, e aquelas flores se tornaram um símbolo de afeto de sua terra natal.
Ela nunca havia tido uma cortesia tão grande em sua vida. Sempre fora relegada ao segundo plano.
-Oh!!! Eu agradeço imensamente vossa Majestade.
Derek pareceu relaxar. Trazer aquelas rosas foi trabalhoso, mas agora, ele agradecia pelo seu tato. Havia valido a pena pelo brilho nos olhos de Roshlyn. Então Derek se serviu de um copo de hidromel e sorriu.
-Vieram mudas também.
Ele a olhou sob a luz refletora dos candelabros. Roshlyn tinha os cabelos  pretos longos, soltos e devidamente penteados sobre o seu colo. Sua camisola era simples e estava coberta com uma túnica  longa entreaberta que cobria seus braços e  deixava somente uma parte de seu pescoço.A castidade em pessoa.
Roshlyn lhe pareceu muito jovem olhando encantada para as flores. E Derek se deu conta que nunca havia lidado com uma mulher como Roshlyn. Pura e inocente.
Seus relacionamentos não  tinham elementos do amor cortês. Ele sabia seduzir e usar  do sexo para se satisfazer. Mas como isso aconteceria com Roshlyn? Ela certamente era virgem  e ele viu o lençol das noites de núpcias dobrado no meio da cama,
Sabia que deveria usar o lençol  com o furo no meio com sua esposa, mas como?
Enquanto Derek continuava pensativo e calado, Roshlyn não sabia muito bem o que fazer. Seria ele a tomar a dianteira e cumprir com a consumação do casamento, e ela estava deveras ansiosa.
Como seria a tal consumação? O que significa se tornar mulher de seu marido? Ninguém nunca lhe explicou. Ela  não sabia nada e nunca em toda a sua vida ficara num quarto com um homem, mesmo sendo um rei. Um homem completamente desconhecido.
-Majestade...
Derek  estava sentado e olhou para a janela. A noite estava  alta e não tinha estrelas  no céu.
-Sim?
Ele respondeu de olhos fechados. O que iria fazer com Roshlyn? Pela primeira vez na vida ele não sabia como agir com uma mulher.
-O que acontece agora?
Derek abriu os olhos e a olhou com a cabeça de lado.
Roshlyn....Lindamente pura e casta. Seus olhos azuis que eram muito  claros estavam escuros e ele viu medo, receio...
Derek se aproximou dela lentamente.
-Agora?
Roshlyn assentiu com a cabeça.
Ele a olhou por alguns minutos e a pegou pela mão até a janela, onde não se via nada apenas as tochas dos sentinelas nas torres e nos portões.
-Agora, eu quero que veja como a noite está bonita. Noite escura.
Roshlyn olhou para fora. A escuridão lhe dava medo. Trazia más recordações no seu coração, quando os irmãos a castigava e a colocava no escuro para que ela os oferecessem.
-A noite é escura meu rei, assim como é escuro  o meu coração.
Derek a observou em silêncio.
Havia tanta tristeza naquela jovem que o assustou.
-Gostaria  muito de saber porque é noite no coração milady.
Roshlyn entretanto não queria lhe falar sobre o sofrimento impingido pela sua família. Mas sabia que a pergunta de um rei não podia ficar sem resposta.
-As sombras do passado me rondam e sempre que algo lembra isso, elas voltam a vida.
Derek se aproximou dela e pode sentir o cheiro que embaça dela: limpo, doce e extremamente poderoso...
Derek sentiu que seu corpo reagiu a isso e tentou disfarçar, virando-se e bebendo o último gole de hidromel da caneca.
-Deixe as sombras no passado. É lá que elas residem. Não as traga para sua nova vida.
Roshlyn assentiu com a cabeça melancolicamente.
-Será isso possível, meu rei?
Derek foi até a cama. Roshlyn estremeceu. O que aconteceria agora?
-Sim, é possível. Deve tentar.
Depois de uma pausa, ele lhe estendeu a mão e disse suavemente:
-Venha, Milady.
Roshlyn o olhou com os olhos assustados. Mas ele lhe abriu um sorriso e puxou as mantas de lado para que ela pudesse se deitar.
-Milady precisa descansar. Deite-se.
Roshlyn se deitou lentamente e puxou as cobertas até o queixo. Seu corpo todo tremia de ansiedade e expectativa. Não sabia o que o rei iria fazer. E a sensação de não saber não era nada boa. Tudo poderia acontecer. De bom e de ruim.
Ela então sussurrou com suavidade, tentando disfarçar a voz trêmula:
-Vossa Majestade vai ficar?
Derek tirou as botas e deitou-se ao seu lado.
-Sim, eu ficarei aqui esta noite Roshlyn.

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now