Capítulo 30: Revelações

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Derek estava a uma semana resolvendo várias questões relativas ao novo negócio  de barcos que  iria iniciar juntamente com Cornell e Theo. Havia contratado cartógrafos e especialistas em rotas marítimas para poder conhecer um pouco mais sobre o assunto, já que não tinha nenhum conhecimento prévio sobre esse novo negócio chamado comércio.
Ele sabia que era algo que a monarquia não se envolvia, mas pelo que ele podia entender das conversas com Edoard, aquilo deveria se tornar um negócio vantajoso.
Derek então voltou ao castelo,  estava cansado.
Havia ido  o vilarejo  para afiar sua espada e acabou inspecionando as novas instalações de um pequeno anfiteatro que estava construindo para que os arautos fizessem suas apresentações.
Agora, depois de conversar com seu Conselho, decidiu tirar algumas horas para descansar em seu salão particular.
Theo iria chegar  em breve. Parecia animado com o negócio dos barcos. Derek nunca havia se dedicado com tanto afinco num projeto para o reino de Craig. Sabia que os tempos estavam mudando e que havia outros países em franca expansão pelos mares desconhecidos. Seria uma aventura e tanto! Mas ele também sabia que havia muitos investimentos em jogo e que caso isso não prosperasse, muitas vidas seriam ruídas, inclusive as da sua própria família.
Tomando um pouco de cerveja, ele fechou os olhos.
Então ele viu as rosas em cima da sua mesa. Havia rosas por todo lugar do castelo agora.
O que antes cheiro azedo do castelo, agora estava renovado com cheiro de flores.
Ele estava se ocupando a maior parte dos dias e das noites, para não pensar em Roshlyn. Ela estava mais linda do que nunca usando os vestidos novos que ela mesma costurou junto com suas damas e as costureiras do reino. Seus vestidos agora tinham cores variadas, cintos e medalhões marcando a sua cintura e lindas mangas bufantes que traziam elegância e singeleza a sua personalidade.
Ela agora, já não usava mais flores nos cabelos e sim joias especialmente presenteadas por sua mãe que traziam uma sofisticação discreta a rainha de Craig.
Embora se vissem praticamente todas as noites nos jantares, não haviam mais estado juntos intimamente. Derek não queria subjuga-la com sua presença, forçando uma intimidade que ela não estava disposta.,queria que Roshlyn viesse para ele, quando  ela estivesse pronta para recebê-lo.
Um toque na aldrava lhe tirou de seus pensamentos. Respirou fundo. Agora, era a hora de um assunto inevitável: Henriet.
..
-Entre. Disse o rei com a voz grave.
Sir Gerould e mais três de seus cavaleiros adentraram a sala e fizeram uma reverência ao rei. Em seguida, assustada e cautelosa, entrou Henriet.
O rei a olhou e pela primeira vez em muitos anos, nada sentiu pela mulher que outrora o fazia perder a cabeça como uma vítima do carrasco.
Os olhos de Henriet tinham uma raiva contida. Ele a conhecia muito bem para saber que se estivessem sozinhos, com certeza lhe diria impropérios  para depois seduzi-lo, levantando suas saias para que ele a penetrasse por trás.
Mas olhando-agora, Derek não sentia mais seu corpo se acender. Henriet havia perdido seu encanto para ele. Não havia mais nada ali. Apenas o desejo de fazer justiça. Por Roshlyn.
-Deve querer saber porque a convoquei aqui Henriet.
A criada levantou a cabeça em sinal de rebeldia e estudou o peito que saliente, soltava de seu avental.
- Estou sempre a sua disposição vossa Majestade.
Derek a olhou profundamente. Custou a acreditar no resultado da investigação de  Gerould. Mas as provas eram o principal argumento para tê-la ali naquele momento.
O rei então, pegou em cima de sua mesa, um  pequeno embrulho guardado num pano de linho.
Henriet olhava curiosa para o que o rei segurava e pelo  formato ela já sabia o  que era.
Derek então, abriu completamente o embrulho e  lhe mostrou um  punhal.
-Sabe de quem é essa arma, Henriet?
A criada sentiu o ar faltar. Maldita  hora que não voltou para pegar esse punha... Mas... quem poderia dizer que era dela?
-Não vossa Majestade.
Derek
- Não minta para seu rei.  Eu sei que é seu.
Henriet não falou nada e ficou apenas negando com a cabeca, completamente acuada.
-Sim é seu!
E com força, o rei fincou o punhal na mesa.
-Mandei chamar aqui todos os ferreiros que fazem punhais e descobrimos que esse foi feito no viscondado de Chatelot, que é sua cidade natal.Além do mais  é um punhal com um pequeno detalhe que tem esse suporte de polegar.
De polegar esquerdo. No caso sua mão de uso.
Não existem pessoas no reino que usem a mão esquerda para fazer as outras coisas.  Somente você!
Henriet estava com o coração aos pulos. Teria que reverter aquela  situação. Mas como?
Henriet continuou negando com a cabeça,  e insegura, o olhava fixamente .
-Não milorde, não é meu.
Derek estava lívido de raiva.
- Você é traiçoeira como uma serpente Henriet . Seu punhal foi encontrado caído entre os canteiros de rosas da Rainha Roshlyn.
Henriet estava enfurecida .
-Então agora ela era a Rainha Roshlyn? Aquela maldita estrangeira havia chegado para atormentar a sua vida, isso sim!
-Não minta para mim! Não suporto mentirosos! -Disse Derek com a voz baixa e estranhamente perigosa.
Henriet sentiu a aura de perigo a sua volta. O rei tinha uma postura até então desconhecida para com ela. Sua personalidade relaxada e de bom vivant tinha agora uma peculiar atitude ameaçadora. Ele nunca havia usado de palavras ameaçadoras como agora.Como ele havia mudado assim de uma hora para outra e ela não havia percebido?
Derek levantou-se e se aproximou de Gerould e estendeu a mão.
Henriet viu o chefe dos cavaleiros pegar dentro de seu alforje, um pequeno volume embrulhado num pedaço de linho tingido de vermelho.
-Isso foi achado no feno dentro dois seu colchão.
Quento ela viu o que era, seu coração quase saltou da boca. As flores de beladona secas que ela havia colocado dentro do colchão e costurado para ninguém bisbilhotar no quarto que dividia com os outros criados.
-Traidores! A criadagem a haviam entregado! Tudo por causa daquela estrangeira maldita que havia conquistado a lealdade de todos, por conta da sua postura humilde e caridosa. Ela vivia enfurnada não igreja e tratando dos doentes com carinho, levava frutas e mantimentos as famílias mais necessitadas e providenciava que as crianças aprendessem como ter uma boa higiene para não adoecerem.
Derek fez um gesto para seus cavaleiros se retirarem. Gerould o olhou preocupado, não queria deixar o rei sozinho com Henriet, mas ele fez um sinal colocando a mão na espada, numa indicação que estaria seguro.
Quando os homens saíram, Derek se aproximou de Henriet e ela o olhou com uma furia incontida.
-Você quis matar minha esposa Henriet. Eu confiei em você durante todos esses anos, e assim que você me paga? Sabe muito bem que poderia mandá-la para forca por isso.
A criada então aproximou-se dele, e com as pontas do dedo acariciou o peito do rei. Notou imediatamente que ele ficou tenso. Ela sabia muito bem como fazê-lo esquecer daquilo tudo.
-Sei que vossa Majestade é muito poderoso e pode tudo..., mas nós dois juntos... é tudo o que quero e penso... milorde me abandonou... não me procura faz dias e eu sinto falta de seu poder....
Ela então foi descendo sua mão para apalpar as partes íntimas do rei como sempre fazia.
Mas ele interceptou seu gesto, segurando seus pulsos com força.
-Não me toque.
Henriet sorriu sedutora.
-Não posso toca-lo meu rei?? Sabe que quando faço isso, milorde esquece de tudo...
Derek retirou as mãos de Henrietde seu corpo com violência.
-Não me faça fazer coisas que abomino como bater numa mulher. Você sabe que cometeu delitos graves, e que não posso mais mantê-la aqui como uma criada e terei que tomar uma atitude com relação a você.
Henriet estava desorientada pela atitude do rei. Seu corpo não reagiu a ela. Ele ficou impassível diante de suas tentativas de aproximação. Realmente algo havia mudado nele!
Vendo que sua situação era bem pior do que imagina, o que precisava agora era salvar a sua pele.
Ajoelhada diante dele, ela clamou:
-Peço clemência Vossa Majestade. Fui tomada pelo ciúme e pelo desespero e peço perdão a milorde pelos meus erros.
Derek estava sério e profundamente distante.
-Seus erros poderiam ter matado a futura Rainha de Craig.
-A maldita estrangeira!
Henriet caminhou sedutoramente até a mesa e ficou de costas com o corpo estirado para frente.
-Peço a vossa Majestade clemência e perdão.-Disse ela sussurrando.
Derek olhou para mulher e percebeu que não sentia nada. Apenas um desejo forte de livrar-se dela.
Derek sentou-se na sua cadeira de espaldar alto, ficando quase face a face com ela.
-Pelas suas atitudes, eu deveria levá-la à praça pública para que ao amanhecer, o carrasco arrancasse essa sua cabeça do lugar. Mas declaro você expulsa do reino de Craig, não podendo nunca mais voltar aqui por cinco gerações.
A vontade de Henriet era gritar de ódio o e desespero. Mas sabia que tinha chegado ao final da conversa e na verdade deveria estar feliz por pelo menos ter tudo uma sentença de expulsão ao invés da morte nas mãos do carrasco.
-Suma da minha vista Henriet.
A criada então num gesto ousado e bastante provocador falou:
-Ainda ouvirá falar de mim.

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now