Capitulo 14:O canteiro de Rosas

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Ainda não havia amanhecido quando a cavalaria  do rei seguiu viagem para Dalibor, Henriet  observava a comitiva, depois que se despediu do rei em sua câmara.
Em mais uma noite ela havia se entregado a ele, procurando de todas as maneiras engravidar de um filho para ter os benefícios que toda amante de um rei tinha.
Ela um dia iria conseguir o que queria. Ah! Iria sim!
Quando os homens com seus cavalos saíram do seu campo de visão, ela voltou ao quarto e vestiu uma capa escura de capuz e pegou um punhal que mantinha escondido embaixo do seu colchão de palha.
Antes de sair, colocou um punhado de roupas em sua cama,  para fingir que estava dormindo e pé ante pé, saiu  do quarto que dividia com os outros criados.
Sua intenção era destruir o que a noiva estrangeira do rei mais gostava.
E como ela gostava daquelas flores!
Mas ela ia destruir uma por uma!!
E essa raiva cega se devia  a uma cena que havia presenciado logo após a feira.
Numa manhã, ela estava voltando da cisterna onde todos pegavam água, e decidiu cortar caminho por traz da casa paroquial.
Ela sabia que a princesa havia  ganhado a permissão do rei para fazer a plantação dessa flor desconhecida em Craig.

Sob o acompanhamento de Roshlyn, os criados fizeram canteiros divididos por pequenas valetas,  e junto com eles, ela  plantou  as mudas das flores, que a princípio, pareciam que não iam pegar. Mas com a persistência da princesa, elas  não  só pegaram, como já estavam  florescendo lindas  e vigorosas.
Todos estavam admirados com a beleza da flor, mas Henriet não  queria saber de nada que se relacionava a Roshlyn.
Nada do que aquela mulher sem graça fazia a interessava .Até aquela manhã.
O  atalho para a cozinha passava pelos canteiros e entre as folhagens, ela viu a noiva do rei, ajoelhada , cavando a terra com as mãos, enquanto  cantarolava  um hino religioso  tradicional  numa voz afinada e melodiosa.
Agachada no chão, em contato com à terra, ela parecia bonita e tranquila. Sem aquele ar triste e melancólico que ela carregava no rosto.
-Dissimulada! -Pensou Henriet.
Já ia se retirando, quando ouviu uma pequena risada. Outra.
Ela voltou o olhar para o lugar onde a mulher estava.
Roshlyn brincava com dois coelhinhos cinza que fuçavam a terra. Eram os coelhos da princesa Felicia!
O riso era cristalino e jovial. E esse sorriso  aliviou a sua fisionomia sisuda. Ela tinha os dentes brancos enfileirados perfeitamente, e seu rosto corado ganhou leveza  e transformou o seu olhar. Havia pureza  no toque afetuoso com os animais. O vento batia em seu corpo, ajustando as formas do seu corpo magro.
Henriet bufou.
-Essa maldita até que é  bonita!
Ia virar as costas quando  viu um movimento do outro lado do canteiro.
Era o rei que voltava do campo de treinamento. Ele tinha a túnica aberta no peito e os cabelos molhados de suor.
Henriet se abaixou no meio dos arbustos para não ser vista e com isso, derramou o balde de água no chão.
-Maldição!

Então elas ajoelhou e ficou olhando enquanto o rei, também se escondeu atrás de um tronco de árvore.
Ele tinha os olhos fixos em Roshlyn, que segurava os coelhos no colo, completamente absorta no que fazia.
Henriet viu que o rei tinha um olhar diferente. Um olhar quase terno diante da cena que via. Ele parecia hipnotizado pela figura feminina frágil e extremamente atraente.
Seus cabelos negros estavam soltos e voavam sob seus olhos e boca.
Ela os  retirava lentamente e voltava a brincar com os coelhos, até que ela se levantou e colocou os animaizinhos dentro de uma gaiola, voltando sua atenção para o canteiro de rosas.
Então o rei  olhou-a por mais um instante e se afastou.
Henriet não conseguia esquecer o que tinha visto.
Não conseguia esquecer o olhar do rei para aquela uma. Ela nunca vira em toda a sua vida, o rei olhando assim para nenhuma mulher.
Ela realmente não gostou do que viu. E já que não podia destruir ela, iria destruir o que ela mais gostava. Aliás, talvez a única coisa que ela gostava em Craig.
Então ela chegou no canteiro, tropeçando nas raizes das árvores. Ela não podia levar nenhuma  vela, pois a luz fatalmente atrairia os sentinelas que faziam a segurança do castelo.
Sua  sorte é que aonde ficava os canteiros era um lugar remoto e longe da rota dos guardas.
Henriet retirou o punhal do seu alforje e com o coração saltitando de alegria, ela despedaçou um a um dos pés de rosa.
A cada punhalada que ela dava, era como uma punhalada em Roshlyn.
Ela tremia de ódio.  Ela buscava vingança.  Ela queria vingança!
Enquanto cortava os galhos das flores, pequenos espinhos feriram seus dedos,  e ela  deu um pequeno grito de surpresa, mas tapou a boca nervosamente.
-Maldita flor! Maldita mulher!
Nisso, viu uma movimentação dos sentinelas vindo  na sua direção. Henriet  colocou  o capuz tapando os longos cabelos ruivos  e saiu correndo o mais  rápido que pode.
Mas sem perceber, no meio das pétalas e galhos despedaçados pelo chão, jazia,  o punhal.

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