Capitulo 5: Atenção ou Obrigação?

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Com a resignação de um monge, Derek seguiu para a câmara onde a princesa Roshlyn se encontrava.
Alicia o havia convencido que deveria de alguma forma tentar uma aproximação com sua noiva desconhecida. Mas ele estava com tantas tarefas a cumprir antes do inverno chegar, a visita inusitada  de Cornell e também suas inúmeras noitadas com a linda e sensual Henriet o fizeram ficar afastado do castelo e sua... noiva.
A verdade é que estava fascinado pela camponesa ruiva e voluptuosa que o enchia de um desejo avassalador e incurável.
Henriet era uma mulher fogosa e deliciosamente irresistível. Há muito tempo não procurava nenhuma outra mulher, pois Henriet o satisfazia deveras. Ele estava enfeitiçado pela ruiva, tanto que a tirou do vilarejo e a colocou como criada do castelo para tê-la sempre por perto a sua disposição como amante.
E ele a queria sempre!
Quando chegou a porta do quarto de Roshlyn, ele ouviu silêncio. A porta tinha uma aldrava de ferro, mas ele entrou sem bater.
O quarto estava na semi escuridão e a princesa dormia como uma criança segurando um pequeno lenço encardido com um delicado bordado.
Seus olhos ainda estavam aparentemente inchados de tanto chorar.
Derek andou pelo quarto e viu um pequeno baú semi aberto. Tocou  os vestidos com tecidos bastante grosseiros e sem tingimento, com cortes conservadores e fora de moda. No baú também tinha um alforje com algumas joias de pouco valor e uma pequena coroa de diamantes.
Uma coroa de criança!
Porque ela não tinha uma coroa digna de uma jovem princesa?
Ele voltou seus olhos para a mulher que dormia profundamente, dando pequenos soluços sofridos vez ou outra.
Porque ela era tratada dessa forma por seu pai?Pelo que ele sabia, Roshlyn era a única filha de Roland e pelo visto, não era tratada adequadamente  pois tinha vestimentas e comportamentos de uma simples camponesa.
Porque isso acontecia?
Qual era o mistério de Roshlyn?
Ele andou em volta da cama, observando a jovem. Seus cabelos negros eram compridos e passavam da cintura. Era lindamente ondulado e se espalhava desarrumado pela cama de peles.
Seu vestido de linho subiu um pouco enquanto dormia, deixando seus tornozelos e pés descalços á mostra. Eram delicados e muito pequenos. Aliás,ela era muito pequena como uma adaga. Seu corpo era magro e ela praticamente não tinha seios.
Uma das suas intenções ao escolher Roshlyn para sua futura esposa,  tinha um pouco de política da boa vizinhança com o reino de Havema, já que o rei Roland não era nada confiável e outra foi sua insensatez.
Conhecê-la daquela maneira no banquete das rosas o fez pensar que ela seria uma esposa perfeita: recatada, simples e submissa.
Não que esse fosse seu tipo de mulher, mas como estava literalmente fascinado por Henriet e precisando de um herdeiro, pois havia completado 30anos, ele decidiu impulsivamente que ela era a noiva adequada aos seus objetivos.
Mas olhando-o agora não sabia se havia feito a coisa certa.
Sabia que ela tinha planos de ser noviça e o casamento havia desmoronado seus sonhos. Vendo a fragilidade de Roshlyn, começou a se perguntar o porque da sua decisão!
Deveria deixá-la ir e assumir o arrebatamento que sentia por Henriet? Talvez fosse o melhor a fazer. Já havia rompido muitas convenções em sua vida e agora que cumpria com uma obrigação tradicional sentia-se estranhamente  culpado.
-Culpado ?Derek pensou com ironia.
Devagar ele sentou-se numa cadeira e continuou olhando a  figura adormecida. O que faria com Roshlyn? Lhe parecia muito cruel agora que a usasse como um objeto para conseguir o que queria: manter o legado e continuar com sua liberdade se casando com uma mulher submissa e inocente.
Ele estava acostumado com as mulheres do seu clã: voluntariosas, independentes, persistentes e muita vezes excêntricas demais.
Sua mãe e suas irmãs, nunca precisaram ser cuidadas ou protegidas. Elas sabiam ler e escrever, lutavam com espadas e utilizavam arcos com facilidade.
Além de terem uma arma muito mais poderosa de todas: a inteligência.
Aysha era uma grande negociadora, Alicia era filósofa e poeta e a jovem Felicia lidava com ervas como se fosse uma sábia anciã.
Sim! Ele tinha essas mulheres no seu entorno, e agora estava ali diante de uma noiva de acordo, frágil e vulnerável.
Ele não sabia lidar de uma mulher assim.
Roshlyn se mexeu e abriu os olhos lentamente.
Ela devia estar sonhando, pois via o rei sentado em uma cadeira olhando-a com um olhar enigmático.
Ela fechou os olhos.Não queria sonhar com ele. Não queria lembrar que ele tinha os olhos azuis profundos como o mar ao anoitecer.
Abriu os olhos novamente esperando que o sonho tivesse acabado, mas ele continuava ali...
Então Roshlyn percebeu que não era um sonho.
-Oh meu Deus! Era o rei em pessoa no seu quarto!
Levantou-se num átimo e fez uma longa reverência, esperando que rei falasse com ela e pudesse lhe dizer o motivo da visita.
-Não que ele precisasse, é claro!
Derek olhou para Roshlyn com um misto de comparecimento e curiosidade.
-A princesa Alicia me relatou que vossa alteza está se privando da convivência no castelo. Algo a incomoda milady?
Roshlyn estava mortificada. Finalmente estava cara a cara com o rei e não sabia o que dizer.
Como ela ia explicar tudo o que passava em seu coração sem que ele a tratasse com escárnio e ironia?
Como ia lhe dizer de sua decepção, sua mágoa por ter que se casar quando tudo o que mais queria na vida era ser uma freira  e dedicar sua  vida aos pobres e necessitados?
Como lhe dizer que Craig era o último lugar do mundo que queria estar?
Derek continuava olhando para ela. Os cabelos negros caiam em desordem por sob seu corpo, ela tinha os olhos vermelho, e  o rosto rosado pela vergonha. Roshlyn tinha um olhar tão triste e  seu ar de desalento  fez com que Derek se compadecesse da princesa.
Quando percebeu que ela não ia responder, Derek  falou:
-Creio que vossa alteza ainda está chocada com tudo que lhe aconteceu. O noivado, a vinda pra Craig... eu sei que estar num reino desconhecido não deve ser fácil. Mas peço a vossa alteza que tente ao menos fazer as refeições com toda a corte. Isso será um sinal que apesar das circunstâncias, milady aceita meu povo.
Roshlyn sabia que ele tinha razão. Precisava cumprir com suas  obrigações de futura rainha. Mas a melancolia a tomava de assalto, fazendo -a querer ficar em seu quarto sozinha.Não queria conviver com ninguém, mas sabia que era necessário. Sabia que precisava conseguir reagir e dar continuidade a sua  nova vida dali para frente.
Roshlyn abaixou os olhos e sussurrou:
-Me comprometo a participar das refeições, Vossa Majestade.
Derek virou a cabeça de lado olhando-a com atenção. Ela tinha uma voz muito bonita e cadenciada. Sua simplicidade era quase encantadora, se ela não fosse tão simplória e comum.
Impulsivamente Derek falou;
-A não ser que milady queira desfazer o acordo, e eu a devolvo a seu pai e assim pode seguir com seus planos e eu com os meus.
Roshlyn olhou para Derek horrorizada. Em seus olhos tinha todo o pavor que essa decisão poderia fazer com a sua vida.
Se ele a devolvesse, seu pai a mataria!
Não haveria misericórdia! A vergonha que ela imporia ao rei e a possível guerra que isso acarretaria seria o fim do reino de Havema!
Roshlyn se jogou aos pés de Derek, fazendo com que ele se surpreendesse com esse gesto.
-Milorde, eu lhe peço perdão pelo meu comportamento! Cumprirei com minhas obrigações daqui por diante, eu prometo! Mas pelo amor da Virgem! Não me devolva a meu pai!
As lágrimas saltavam dos olhos de Roshlyn e vendo ela ajoelhada diante dele, lhe  deu um pequeno mal estar. Por um momento aquela ideia lhe pareceu perfeita. Se livraria dela e poderia postergar por meus alguns anos seu casamento. Mas ao sentir todo o desespero de Roshlyn, sentiu que essa decisão seria egoista e incorreta.
Lembrou então de não tê-la visto na ala dos nobres no castelo de Havema, suas roupas eram antigas e puídas, e ela ainda usava possivelmente a sua primeira coroa.
Pensativo, ele se levantou e deu a mão para que ela se levantasse também.
Sua cabeça batia em seu peito. Ela era bem pequena mesmo!
-Nosso acordo está mantido milady.
Derek deu as costas e saiu do quarto.
A hora já era adiantada e Henriet já estava lhe esperando em sua própria câmara. Algo em Roshlyn havia o tocado e estranhamente. Mas, agora estava na hora de parar de pensar em sua emotiva noiva e se entregar aos caprichos sensuais de Henriet do qual estava cativo.

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now