Capitulo 31: As ideias de Bozena

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Roshlyn estava em seu quarto com Bozena, costurando as últimas peças para o enxoval da criada, que seria o presente da rainha para o jovem casal.
Bozena estava maravilhada com o luxuoso presente que já estava em sua maioria guardado dentro de um lindo baú de cedro de Walden. O clima na sala de costura era amigável e sereno. Roshlyn sabia que havia um burburinho na corte, sobre ela estar costurando lençóis e camisolas para sua criada pessoal. Mas ela não se importava. Estava aprendendo a usar suas prerrogativas de rainha, a seu próprio favor, para fazer o que gostava e entendia como certo.
Roshlyn levantou os olhos e viu a felicidade de Bozena. Aquilo lhe fazia bem.
Viveu tantos anos no meio de pessoas infelizes, criados maltratados, madrastas malévolas, nobres que só pensavam em si e agora que tinha a oportunidade e um certo poder para mudar a vida das pessoas, ela o faria. A menos que o rei a impedisse. E até agora, ele não a havia convocado para lhe chamar a atenção sobre nada que arbitrou.
Até mesmo a princesa Aysha, agora estava somente envolvida em seus próprios negócios de financiamentos junto a vila, deixando-a reinar como a rainha castelã de Craig.
Alicia estava super ocupada preparando sua bagagem, pois se preparava para ir estudar no exterior por alguns anos, pois a filosofia era a  grande paixão da sua vida. Felicia estava envolvida numa nova pesquisa que ela intitulou como o Tônico de Felicia, e dedicava suas horas a ser uma dama de companhia adorável e também uma boticária devotada.
O tônico estava em estudo segundo ela, e Margot, a rainha mãe que era a sua paciente, já demonstrava alguma melhora de saúde.
Nos últimos dias, quando Roshlyn foi visitá-la , a rainha mãe já estava sentada em frente à janela, tomando sol e bordando. Tarefas diárias prescritas pela princesa Felicia.
Roshlyn suspirou. Tudo estava correndo bem. Apenas seu relacionamento com o rei continuava na mesma. Ele não a procurou mais em sua câmara, e nunca a convocou ao seu quarto. Aquela situação era angustiante, pois por não conversarem, ela não sabia o que ele pensava sobre a relação de ambos. Roshlyn sabia que todos estavam falando sobre seu relacionamento com o rei. Mas não era incomum que as relações reais se dessem dessa maneira. O rei não era obrigado a manter relações diárias com a rainha. Mas era incomum que um rei não procurasse sua esposa para gerarem o herdeiro do reino. Essa atitude distante era esperada após o anúncio da gravidez da rainha e os súditos estavam estranhando que o anúncio da gravidez ainda não tivesse sido informado.
Roshlyn sabia que em pouco tempo essa história se tornaria o estopim para iniciarem as cobranças sociais. E tudo recairia sobre ela. Sabia que se não cumprisse com suas obrigações matrimoniais, o rei poderia inclusive devolvê-la a s seu pai.
Roshlyn suspirou novamente e começou a desfazer uns pontos que saíram tortos ao bordar.
Bozena que estava sentada no chão junto aos cestos e tecidos, olhou discretamente para a rainha. Embora seu semblante estive calmo, sua testa tinha uma marca de expressão.
-Milady, algo a aflige?
Roshlyn largou o bastidor e levantou-se até a mesa, se servindo de um copo de água.
-Sim.Disse a rainha num sussurro.
Bozena aguardou a rainha tomar a sua água e sentar-se novamente.
-Você sabe o que acontece depois da cerimônia de casamento Bozena?
Bozena riu e continuou costurando. Quando respondeu sua voz tinha um pouco de malícia.
-Claro que sei milady. Já pratico a algum tempo.
Roshlyn sentiu seu rosto corar.
-Vo...você já pratica? Com o seu noivo? Antes do casamento?
Bozena largou a peça que costurava e alegremente respondeu.
-Sim milady. Os camponeses são diferentes dos nobres em quase tudo e nisso também. Nos relacionamos por amor e se o amor acontece antes do casamento, aproveitamos da mesma maneira.
Roshlyn estava surpresa com aquela afirmação de sua criada.
-E o que é se relacionar por amor?
Bozena sabia que a vida íntima da rainha não estava progredindo. Procurou nos lençóis o sinal da perda da sua virgindade e não achou. Para não humilhá-lha diante da criadagem, ela pegou na cozinha um pouco de sangue da carne do dia e sujou o lençol. Ela sabia que aquela notícia havia se espalhado além dos muros da cozinha. E ficou feliz por ter feito isso pela sua rainha.
Bozena tinha muitos bons sentimentos pela mulher boa e sensível. E se pudesse ajudá-la, ajudaria de todas as formas.
-Bem milady. Se relacionar por amor é gostar da presença do outro e querer estar junto todo o tempo.
A rainha levantou-se e Bozena pode ver que ela estava muito bonita nos últimos tempos. Ela havia engordado, tinha carne nos lugares certos, suas roupas embora continuassem simples, agora eram feitas com bons tecidos e cortes perfeitos que marcavam a sua silhueta esbelta. Os cabelos viviam escondidos pelo véu que encobria também o pescoço e parte do queixo.
Ela estava mais elegante e sofisticada e muito mais recatada do que antes.
Bozena então continuou.
-Minha mãe sempre diz que as mulheres na intimidade devem ser mais alegres, devem se mostrar mais para seus maridos, senão eles vão procurar fora, o que nós não lhe oferecemos de bom grado.
Roshlyn franziu a boca. Aquilo era muito diferente do que havia aprendido nas aulas de catecismo.
Bozena continuou.
-Eu sei que as mulheres nobres não agem assim. Mas milady, o que acontece no quarto fica somente entre o homem e a mulher.
Pensativa, Roshlyn continuou calada por um tempo, até que fez a pergunta que assombrava seu coração.
-Mas é certo se deitar nua com seu marido e deixá-lo explorar seu corpo como um estudioso curioso?
Bozena não pode deixar de gargalhar. Mas imediatamente se recompôs.
-Perdão milady pela minha petulância. Mas devo lhe responder que outra maneira haveria de ser entra um homem e uma mulher? Não deveria considerar estar com seu marido, na intimidade do seu quarto, fazendo amor como pecado. Pois não é. Fazer amor é se relacionar com o outro é uma entrega doce, segura e maravilhosa.
"Fazer amor..." será que era isso que ela e Derek fizeram?
Vendo que a rainha ainda não havia sucumbido as suas ideias, Bozena completou:
-Fazer amor milady é a união carnal entre um homem e uma mulher que se gostam e gostam de estar juntos.
Roshlyn suspirou. O dilema continuava mas agora, sobre uma outra perspectiva.
-Vamos acabar logo com isso. Preciso me arrumar para a inauguração do anfiteatro.
Bozena se levantou rapidamente e começou a guardar os materiais de costura.
-Bozena, te agradeço por ter tido sido sincera comigo.
-Desejo que milady seja feliz.
....

As ideias de Bozena não saiam da cabeça de Roshlyn, tanto que ela mal conseguiu prestar atenção a encenação que era feita no palco do anfiteatro. Seus olhos vagueavam pelo local e paravam sempre na figura do rei sentado no seu trono. Ela estava ao seu lado, porém um pouco atrás, de onde podia ver sua nuca, os cabelos enrolando no pescoço e quando ele virava o rosto, podia ver seu perfil perfeito. Pela primeira vez, em muitos dias, ela estava tão perto dele e sentia um movimento estranho na sua barriga. Estava quase sem ar sentindo uma emoção diferente e desconhecida. Em alguns momentos, o rei olhava para trás e seus olhos se cruzavam. Ela abaixava os olhos pois não podia responder a pergunta que via nos olhos azuis como o céu que ele possuía.
A apresentação do arauto estava comovendo os presentes com histórias de príncipes e princesas que haviam perdido seu amor por causa de inimigos ocultos. Roshlyn não conseguia prestar atenção a nada que acontecia no pequeno espaço que estavam. Quando o rei virou-se para ela oferecendo a sua própria taça de vinho, Roshlyn sentiu sobre ela todos os olhares. O oferecimento era um sinal que o rei a apreciava e tinha confiança nela, oferecendo seu próprio copo para que ela o dividisse.
Com as mãos trêmulas, Roshlyn pegou a taça e tomou o gole do delicioso vinho.
Derek a olhava fixamente. Todos os detalhes não lhe passaram desapercebidos. As mãos trêmulas, o vinho tocando seus lábios carnudos e a forma como ela limpou o canto da boca com a língua.
Seu corpo se estremeceu. Sentia um desejo genuíno por ela. Um desejo avassalador e ao mesmo tempo, estranhamente doce.
Derek pegou a taça de suas mãos e tocou os dedos dela, permanecendo assim por alguns minutos. Pele quente e macia.
Ao olhar para o palco, ele não prestava mais atenção em nada. Estava com o corpo em chamas. Desde que do casamento de Cornell não se deitava com uma mulher. Depois que Henriet saiu do reino, ele ainda convocou duas mulheres que sempre o serviram, mas ele simplesmente não conseguiu ficar ereto. Sabia que esse fato poderia ser relacionado por sentir falta do corpo de Henriet e suas armas sedutoras, mas agora, com um simples toque nas mãos de Roshlyn, seu corpo se acendeu de tal forma, que estava gerando até um certo desconforto.
Quando terminou a apresentação, seria servida uma farta ceia para todos os presentes: nobres e camponeses do vilarejo. Derek continuou sentado em sua cadeira que imitava um trono bebericando calmamente seu vinho. Quem o visse, nunca poderia imaginar o que se passava no seu íntimo. A descarga de emoções que estava sentindo ao simplesmente olhar para a rainha. A sua rainha.
Ela se movimentava entre as pessoas, rindo com timidez com um ou outro. Ela estava tão linda.Vestida  numa túnica azul clara com cordas de seda enroladas que iam abaixo do seio até a cintura. As mangas bufantes quase cobriam suas mãos brancas completamente. E ela as mantinha na frente do corpo, como a maioria das nobres faziam. Os cabelos negros como a noite, estavam presos por um pequeno o véu, mas lhe fizeram um lindo penteado trançado com pequenas pérolas de enfeite.
Realmente ela havia desabrochado como as flores que ela havia trazido de sua terra. Roshlyn chegou como um simples botão e estava florescendo como uma flor bonita e rara.
O rei estava tão perdido em seus pensamentos que não havia notado que havia começado uma dança.
As mulheres começaram a dançar em círculos em passos lentos e elaborados. Todos estavam se divertindo e quando os homens entraram na roda, o rei levantou-se e diante de Roshlyn lhe estendeu a mão para que ela o seguisse na dança.
Roshlyn deu um sorriso tímido, sabendo que todos estavam atentos a cena.
-Creio que milorde pode se arrepender deste convite...
O rei a olhou surpreso pela divertida resposta que recebeu, e sorriu de volta.
-Eu creio que não.
Roshlyn olhou para as mãos do rei e estendeu as suas.
Assim que suas mãos se tocaram, Roshlyn sabia que naquela noite, ela não dormiria sozinha.

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now