Capítulo 19: Paciência

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Roshlyn aproveitou que aquela manhã ainda não estava nevando para ir levar algumas frutas e pães para os freis na casa paroquial.
Estava usando uma capa escura forrada de pele de raposa com um capuz que lhe cobria todo o rosto.
Andava apressada pois o céu indicava que em breve a neve cairia, e quando isso acontecesse já gostaria de estar no castelo. Naqueles dias não estava nada bem. Sentia ânsia de vômito e seu ânimo não era dos melhores.
Quando chegou a casa paroquial depositou os alimentos na cozinha deixando-os com a cozinheira do frei.
Antes de sair, o encontrou na capela rezando e decidiu ficar um pouco ali. Sua cabeça rodava estranhamente. O que poderia ser aquilo?
O frei a olhou e fez uma reverência.
-Não esperava vossa alteza essa manhã.  O frio já começou e me parece que o inverno será rígido. Vossa alteza não precisa vir a igreja, eu mesmo irei fazer a missa é as confissões no castelo.
Roshlyn sorriu abatida.
-Vim apenas trazer alguns alimentos, e já estou me retirando.
O frei notou que Roshlyn não parecia bem de saúde. Sua pele estava pálida e ela tinha olheiras abaixo dos olhos.
-Milady deve aproveitar  o inverno para descansar. Noto que vossa alteza não descansa  um minuto. Sempre trabalhando pela obra do senhor, e também fora dela. Já ouvi muitas vezes, os nobres falarem que jamais se viu a filha de um rei tecer lã ou mesmo trabalhar tanto para os desafortunados. É uma alma boa milady.
Roshlyn abaixou a cabeça e suas emoções estavam a flor da pele.
-Mas nada disso me tirou da minha boa sorte que seria servir ao senhor de corpo de alma. Agora me vejo como estou. Presa a um casamento com um homem que não respeita sequer o seu teto e tem amantes que todos conhecem e me pergunto, padre. Como será meu casamento? Como será a minha vida?
O frei, que era um homem velho, vivendo no ambiente frívolo da corte, já tinha visto de quase tudo nos castelos que havia pregado seu apostolado e, de uma  coisa ele tinha certeza: a grande maioria dos reis eram contra o adultério, como pregava  a fé cristã. Mas... os adultérios dos outros... não deles mesmos.
-Haverá que ter paciência milady. Sua Majestade haverá de tratá-la com o respeito que merece.
Levantando-se Roshlyn suspirou.
O silêncio era a melhor resposta.
Paciência. Era a segunda pessoa que pedia que ela tivesse paciência com o comportamento profano e luxurioso do rei. Paciência era uma coisa que conhecia muito bem.
Teve paciência de esperar pelo amor da mãe, pelo reconhecimento do pai e  dos irmãos, pelo acolhimento de suas madrastas e isso nunca aconteceu.
Paciência ela conhecia muito bem. O que ela não possuía mais, era a esperança que as pessoas  e as situações pudessem mudar.
Sentindo uma tontura inesperada, Roshlyn achou que era melhor se recolher ao seu quarto.
Deixou a casa paroquial com um peso nas costas e no coração.

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