Capituko 12: A feira

399 54 2
                                    


Bozena era uma jovem alegre e bem humorada, e estava noiva de um dos carpinteiros do rei e a todo momento  demonstrava a sua animação pelo seu  noivado  o que constrastava com os sentimentos de Roshlyn, que  vivendo praticamente a mesma  situação, não sentia nem a animação, nem a esperança da sua criada.
A companhia de Bozena acabou sendo um refrigério para Roshlyn.
Todos os dias antes da missa, Bozena já estava desperta para lhe preparar  para o dia.
Ela sabia que era um verdadeira desafio para Bozena essa preparação, pois Roshlyn possuía poucos vestidos e todos eram
velhos e sisudos e ela não admitia nenhum adorno seja o mínimo que fosse.
Naquele dia em especial, Roshlyn se mostrava mais calada do que costume.
Bozena serviu-lhe uma taça de madeira com hidromel e se aproximou da princesa que olhava pela janela da torre  observando a montagem do palco de madeira em frente à igreja do castelo.
-Vossa Alteza aceita um pouco de hidromel?
Roshlyn estava cansada dos preparativos para a feira. Os dias  estavam agitados, com  um  grande alvoroço  no castelo , com um entra e sei contínuo deis negociantes errantes e  dos artistas locais  que vinham fazer a inscrição para participar da feira que aconteceria nos Burgos de Craig.
Todos estavam animados e os preparativos estavam acontecendo num andamento rápido, já que dali a alguns dias seria o casamento do Rei de Dalibor, do qual o Rei  Derek participaria dos festejos.
Era necessário realizar uma feira a contento e Aysha comandava com punhos de ferro seu exército de criados e as mulheres nobres: condessas, baronesas e duquesas estavam envolvidas nos preparativos e Roshlyn acabou, mais por obrigação do que por prazer, se envolvendo também.
-Eu não sei se serei capaz de suportar continuar vivendo aqui.
Bozena se espantou mais pela tristeza que ouviu na voz de Roshlyn do que pelo foi dito.
-Vossa Alteza não está feliz em Craig?Por isso fugiu no outro dia?
Roshlyn se virou para a criada e falou com sinceridade.
-Não é Craig que não me faz feliz. Eu queria estar agora no único lugar que me faria feliz.
Bozena não entendia como uma jovem nobre, de estirpe real poderia sentir-se triste com a vida abundante que tinha. Ela iria ser rainha de um reino próspero que era Craig. Mas as vezes, nem tudo o que reluz é ouro.
-Vossa Alteza permite que eu lhe responda? -Perguntou Bozena timidamente.
Roshlyn se voltou para a Bozena com um pequeno sorriso no rosto.
-Certamente Bozena. Acho mesmo que estou precisando que alguém me fale algo que acalme minha alma.
Bozena então falou:
-Qual seria o lugar que a faria feliz, milady?
Roshlyn abaixou os olhos triste.
-Eu gostaria de ter conseguido chegar no convento de Jeffrez.
Bozena  então decidiu dizer o que pensava.
-Se me permite dizer  milady, minha mãe sempre falou que há coisas que não tem movimento. E no caso da realeza, não acha que é assim também?
-Rei  casa com princesa porque princesa tem sangue azul. Camponês casa com camponês porque tem sangue vermelho.
As duas  riram tímidas ainda com a nova e perene cumplicidade que nascia ali.
-Mas vossa alteza,  do fundo do meu coração, eu fico feliz que esteja aqui.
Roshlyn se sentiu um pouco melhor com as palavras de Bozena. 
-Eu agradeço seu apreço Bozena.
Dizendo isso sentou-se em frente ao espelho metálico para  Bozena terminar seu penteado.
-Sim! Essa era a vida. A vida não  tinha movimento. Era aceitar ou aceitar. _Pensou Roshlyn com tristeza.
Bozena então arrumou os cabelos da princesa  num coque baixo que ela  havia pedido e colocou sua singela coroa de diamantes.
-Se me permite dizer milady, está muito bonita.
Roshlyn se olhou no espelho e viu uma mulher com o rosto cansado e triste. Ela não se achava bonita. Era uma jovem normal, sem muitos atrativos. De repente lembrou-se de Henriet, e sem perceber se comparou com a ruiva voluptuosa de seios fartos e cabelos revoltos.
Ela  sim era bonita. Vulgar, sem classe, mas era alegre, cheia de vida.Talvez por isso o rei gostasse  da sua companhia.
Antes que pudesse se recompor do impacto que seus pensamentos lhe causaram, ouviu uma batida na porta e ficou apreensiva.
Quem seria?
Ela não via o rei desde a noite em que ele a resgatou de sua fuga fracassada.  Não sabia se isso era bom ou ruim. Seus sentimentos estavam uma confusão e pensar em tudo o que se passou, a deixavam profundamente ansiosa e abalada
Bozena abriu a porta do quarto e recebeu uma bandeja  das mãos de um servo pessoal do rei.
Ela então entrou e entregou a bandeja à Roshlyn, que estava intrigada com  o objeto  de cor azul real dobrada cuidadosamente sobre ela.
Bozena a olhava  para o tecido azul com os olhos curiosos e demonstrava uma alegre  excitação com a beleza do que via.
-É uma capa milady!  Sua majestade que mandou!
A capa era de lã  de arminho,  macia e  vistosa. A cor era tão bonita!  Azul royal, um tom de azul pouco usado e de difícil aquisição.
Ela desdobrou a capa e viu que  era comprida, elegante, de muito bom gosto.
-Usar uma roupa dessa sem modéstia, é um pecado! Não vou usar!
Bozena perdeu o brilho no rosto.
-Vossa Alteza não pode negar um presente do rei! Além do mais,  a capa de milady está perdidas, desde... bem... desde aquela noite.
Roshlyn ergueu o rosto., mas estava embarcada como se esse presente  fosse uma lembrança daquela noite,   em que humilhada, teve que retornar ao castelo como uma mula fujona.
. Quem ele pensa que é, querendo me comprar com  essas roupas luxuosas?  -pensou irritada.
A criada a olhava com a capa  na mão. Seu rosto era uma incógnita.
A princesa Roshlyn se vestia com  vestidos simples e funcionais. Nunca usava joias  que segundo ela era muito ofensivo, pois era uma ostentação fútil e uma pompa desnecessária.
Para a feira, a princesa escolheu uma túnica que ia do pescoço ao tornozelo, solta no corpo, pois ela nunca usava cintos que pudessem marcar sua silhueta.
A sobreveste por cima da túnica foi bordada por ela mesma com um bordado simples e singelo. Nada dos pesados bordados que ornamentavam as túnicas dos nobres. A princesa era desapegada dos objetos luxuosos e caros, mas Bozena notou que ela ficou um bom tempo olhando fixamente para a capa. Em seu rosto ela viu um brilho de raiva!
-Bom! Minha mãe sempre diz que é melhor sentir um pouco de raiva do que não sentir muito de nada.
Roshlyn pensava se usaria aquela capa ou não. Se  ela não usasse, o rei poderia entender aquilo como uma desobediência? Ou nem a notaria? Ou entenderia aquilo como um sinal de que ela cedia às suas vontades?
Ela passou a mão sobre o tecido. Era realmente muito macio ...Mas a cor não era nada discreta.
-Me ajude a colocar a capa Bozena.
Roshlyn então se olhou no espelho. Parecia uma outra mulher. Confiante, elegante, diferente.
Mas Roshlyn sabia que aquela mulher não era ela.
—Não. Não sou eu. Mas minha vida mudou agora. Mas não deixarei que me transformem no que não sou e não acredito.
Quando Bozena ia colocar o broche que veio junto  com a capa para fechá-la , uma grande safira rodeado com diamantes, Roshlyn foi inflexível e recusou. Ela então pegou um pequeno alfinete de ouro  e pérolas que  foi herança de sua mãe e ela mesma fechou a capa.

Quando Roshlyn chegou até o salão principal, havia várias pessoas entre nobres e cavaleiros, as irmãs do rei se destacavam pela beleza e elegância, e pareciam aguardar o rei para a procissão que os levaria até a feira do lado de fora dos muros do castelo.
Aysha  foi até ela no minuto que a  viu apreciando a bonita e vistosa capa azul que transformou o ar simplório da princesa. Ela estava simples e elegante. Sabia que o irmão havia mandado  as tecelãs virem ao castelo e ficou trancado com elas algumas horas. Com certeza ele havia feito essa encomenda que serviu   perfeitamente  bem em Roshlyn, tornando seus olhos azuis esverdeados ainda mais bonitos.
O burburinho começou quando o rei chegou ao salão com seu manto vermelho com tecidos brocados e a sua coroa.
Quando o viu o coração de Roshlyn disparou e ela não entendeu porque sentia essa estranha sensação toda  vez que o via.
Devia ser a imponência e a beleza selvagem que ele tinha  e que era tão diferente dos homens que conhecia.
Assim que o rei montou em cavalo juntamente com seus cavaleiros, todos os outros nobres e princesas caminharam atrás como uma procissão, até chegar ao aglomerado cheio de bandeiras com o brasão do reino de Craig. Havia tendas de frutas e legumes, tecidos, ferramentas, de ourives, de ferreiros e outros vendedores de quinquilharias.
Ao ver aquela multidão e todo o povo alegre, Roshlyn se animou um pouco e percorreu as barracas olhando as coisas e cumprimentando as pessoas.
No final da  manhã, tinha um cesto com vários objetos que ganhou assim que  os negociantes descobriam que ela era escolhida do rei, a futura rainha.
Havia queijos, unguentos, temperos, frutas e até carne de javali.
Bozena havia lhe advertido para receber os presentes de bom grado, pois as pessoas poderiam achá-la esnobe  se recusasse  qualquer presente,. Roshlyn então recebeu de bom grado desde os caros  até os  presentes mais simples, com um pequeno sorriso no rosto.
Ao parar numa tenda de tecidos, ela apreciou a delicadeza das texturas que segundo o vendedor vinham de terras distantes e desconhecidas. Admirada com aquela informação, ela tocou num tecido verde que escorreu de sua mão. Era delicado e seria perfeito para seu vestido de casamento.
-Como se chama esse tecido?
O vendedor que não tinha os dentes e tinha a pele branca com as bochechas rosadas, falou quase num dialeto estranho:
-Este tecido é seda,  milady.
Aysha estava por ali e quando viu Beatrice parada junto a tenda de tecidos, se aproximou rapidamente
-Ali estava sua chance!
-Vejo que encontrou o lugar preferido das mulheres nessa feira, além é claro dos pãezinhos frescos e geleias de ervas...
Roshlyn largou imediatamente o tecido. Não tinha como compra-lo e sorriu timidamente para Aysha.
-Milady gostou de alguma peça?
Roshlyn ficou envergonhada e respondeu.
-Está aqui é bem bonita.
-Ahh mas é um verde muito claro. Milady ficaria encantadora nessa cor.
E pegando um pedaço de seda bordô, colocou sobre as mãos de Roshlyn para fazer uma comparação.
-Esse também. E esse. E esse. Leve essas peças para o castelo e acerte as contas com O mordomo Bartolomeu. -falou diretamente ao vendedor.
-Milady, devo colocar o tecido verde também?
Roshlyn estava estupefata, olhando para Aysha.
Ela não precisava e não queria todos  aqueles  tecidos! Era uma extravagância gastar tantas moedas com isso!
-Milady não é necessário arcar com toda essa despesa com tecidos que jamais usarei e...
Aysha colocou a mão sobre a boca fingindo indignação.
-Como assim não usará? Usará todos depois que for a rainha de Craig.
-Mas, milady...
-Nso aceito um não como responder lady Roshlyn. Vamos agora na tenda dos sapatos, e depois dos mantos... tem cada um mais bonito do que outro...
No final da manhã, Roshlyn estava cansada de percorrer as inúmeras tendas junto com Aysha e depois juntaram-se a elas algumas nobres e as princesas Alicia e Felicia.
Após o meio dia, os sinos da igreja começaram a tocar.
-O Velho Ernest nos chama. As Justas vão começar.
Roshlyn foi andando rapidamente atrás das mulheres, tomando cuidado para pular as poças de lama  e não manchar a sua capa nova.
-Milady quem é o Velho Ernest?
Todas sorriram e falaram quase ao mesmo tempo.
-O sino da igreja. Ele se chama assim porque resmunga como o falecido sapateiro da vila,que quando fazia ou consertava um sapato gritava aos quatros ventos para o dono ir pegar.
Roshlyn sabia que era comum dar nomes engraçados aos sinos nas vilas, mas ela não sorriu.
Seus pensamentos estavam focados no que viria a seguir.

O Rei ProfanoWhere stories live. Discover now