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Por alguma razão o hospital continuava com o mesmo cheiro do necrotério

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Por alguma razão o hospital continuava com o mesmo cheiro do necrotério. Aquele cheiro de limpeza mas não no bom sentido. Aqui cheirava a algo catatônico.

Eu não sabia explicar ao certo como o meu corpo reagia àquilo. Quando entrei aqui como paciente era diferente do que entrar como visitante de novo.

Da última vez em que pisei neste lugar foi para reconhecer o corpo de Enrico, e não era um dia que eu gostava de me recordar.

Tentava me lembrar que eu não era mais aquele Sebastian de 18 anos, que hoje eu estava mais maduro e que aquelas memórias não podiam mais me afetar, mesmo afetando.

Após os dias estressantes que eu tive decidi que não queria mais segredos, que não queria mais mistérios que o necessário. Por esse motivo estava aqui hoje, querendo de uma vez por todas quitar a dívida que Pierre tem comigo.

Meu estado de saúde não era o melhor, minha costela ainda doía em movimentos bruscos mas eu não podia esperar mais. Aquela dor eu conseguia suportar, as pomadas estavam ajudando enquanto eu me mantinha longe dos antibióticos para aliviar a porra da dor.

— Você está com medo. — Desdenhou o velho que tinha suas mãos sobre a barriga — Eu consigo sentir o cheiro de longe.

Suspirei fundo. Eu vinha fazendo muito isso ultimamente pra lutar contra a minha exaustão mental.

— Não, eu não estou. — Contrariei, sem dar muita atenção para o que ele falava. O assunto aqui era outro, e eu não ia cair nesses jogos mentais dele.

Me levantei do sofá no qual passei os últimos 20 minutos apenas repassando tudo que fiz para chegar até esse momento.

O contrato que me fez casar contra a minha vontade.

O acordo que fechei com Pierre.

O casamento de sangue.

Minha iniciação.

Minha ascensão.

E agora estava aqui, pronto pra acabar com isso de uma vez por todas.

— Sabe quantas vezes já podia ter me perguntado? — O homem de fios totalmente grisalhos com uma barba por fazer perguntou.

Suspirei mais uma vez.

Passeei meus olhos pelo semblante sereno dele, que expressava total convicção do que estava falando. Pierre ergueu suas orbes azuis para mim, exalando desafio na resposta que eu ia dar.

— Quis dar tempo para que você pudesse reunir mais informações. — Aleguei em um tom duro — E quem sabe dar tempo pra se redimir por achar que ele não passava de um viciado de merda. — Apesar da minha escolha de palavras ríspidas, meu tom não se alterou.

O semblante do Máximo mais velho se enrijeceu, o sorriso que dançava nos lábios finos e secos dele se desfez, se transformando em um linha reta.

— Mesmo comigo em um leito de hospital, você não perde a oportunidade de jogar isso na minha cara. — Comentou descontente, quebrando nosso contato visual.

Inocência Em Meio Ao Caos| Livro 1 - Quadrilogia Herdeiros Por SangueWhere stories live. Discover now