Remédio

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Na outra semana os dois estavam de volta para a detenção. Nicholas não disse nada para Romeo, apenas abaixou a cabeça como um cachorro que roeu a sandália do dono. O loiro não esperava essa atitude e isso o deixava mais irritado ainda.

Como de praxe ele saiu assim que zelador sumiu de vista. O primo de Lucas não disse uma palavra. No outro dia fez a mesma coisa, mas com o adendo de voltar com o lábio inferior rachado. Tinha se metido numa briga. Ganhou, mas levou esse prêmio com ele.

Nicholas arregalou os olhos quando viu a situação dele e se aproximou rapidamente, mas deu um passo para trás quando percebeu o que estava fazendo.

— S-sua boca! — aprontou e Romeo fechou a cara. Os grandes olhos dele estavam estrábicos em espanto.

— Tsc. — encostou-se numa mesa e ficou esperando o zelador chegar.

Nick olhou ao seu redor como se procurasse algo e por fim trouxe uma caixa de primeiros socorros.

— Só espero que esteja na validade. — murmurou.

— O que você pensa que está fazendo? — o loiro perguntou, afastando-se.

Nicholas franziu o cenho, mas dava para ver que seus dedos tremiam.

— Bom, você está machucado e... — sua voz foi sumindo. — O zelador vai querer saber.

— Tsc. — Romeu voltou a se sentar. Nicholas vasculhou a caixa e depois molhou o algodão com alguma coisa. Fez menção em passar no ferimentos. Agora o loiro se afastou com violência. — Você tá de sacanagem comigo. — estendeu a mão para pegar o algodão, mas Nicholas recuou. E estava sério.

Não. Sua mão está suja, acabei de lavar a minha.

— Vai pra puta que pariu. — e tentou pegar novamente.

— Vai infeccionar. — retrucou com o olhar determinado. Ah, ele quer morrer. — Vamos, não dá tempo. O zelador vai chegar a qualquer momento. Vou ser rápido.

— Tsc. — aquilo fazia sentido. Derrotado, deixou que ele fizesse a limpeza. — Por que está fazendo isso?

Nicholas se sobressaltou, como se não esperasse que Romeo iniciasse qualquer tipo de diálogo. Ele não queria, mas estava curioso.

— B-bom, — tentou dar de ombros, mas estava desconfortável demais para tal movimento casual e acabou que saiu estranho. — por que não?

— Porque eu te bati. Duas vezes.

Nicholas bufou um riso e Romeo deslizou os olhos sobre ele novamente.

— Sim, ainda lembro. — passou a mão sobre a parte do abdômen que Romeo acertara no outro dia. — Esqueça isso, eu não devia ter me metido.

O moreno estava concentrado no que fazia. Passava o algodão pelo corte de modo que limpasse e não espalhasse a sujeira. Depois buscou um tubo de dentro da caixa. Espremeu até sair um pouco da pomada no indicador e tentou passar no lábio inferior de Romeo. O loiro deu um tapa tão forte na sua mão que o conteúdo quase foi desperdiçado.

— Tsc. — Nick franziu o cenho e nem parecia perceber quem estava na sua frente. Segurou a mão de Romeo e avançou nos lábios dele. O movimento foi tão repentino - ainda mais vindo dele - que o loiro não fez nada. Apenas observou, de olhos arregalados, o outro deslizar o medicamento pelo seu lábio.

Os dedos dele tinham toda a calma e segurança, escorregavam gentilmente pelo local sensível e uma aflição desconhecida mexeu com o estômago de Romeo. Nicholas estava perto demais.

Quando o moreno terminou, levantou os olhos para dizer qualquer coisa a Romeo, mas parou. Seus olhos se abriram como se estivesse assustado. Sua boca estava entreaberta e gradualmente suas bochechas se tornaram vermelhas. Ele todo estava vermelho como um pimentão. Ousou se aproximar mais um pouco, mas um barulho de passos no corredor fez com que ele desse um pulo para trás. Franziu o cenho como se tivesse saído do transe.

— O que? — Romeu pretendia soar ameaçador, mas não conseguiu esse efeito.

— N-Não, eu... — franziu mais o cenho e olhou para o loiro como se procurasse algo. — É que... você fez uma cara e eu... — balançou a cabeça se livrando do pensamento. — Nada.

E a porta foi aberta de supetão pelo zelador, impedindo que Romeo dissesse alguma coisa.

Que cara estranho.

brutal, stupid, lxveWhere stories live. Discover now