lxve by damage: afogando em lama

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Nenhum animal foi maltratado ou ferido durante a escrita desse capítulo. Não posso dizer o mesmo sobre os personagens.


Parte 2, Capítulo Cinco: afogando em lama

A pequena garota virou-se sem entender nada e quando se deparou com Helena atrás de si soltou um grito estridente e correu de volta para eles. Romeo sequer viu Nicholas ir em direção à criança com uma velocidade incomum a ele. Nina agarrou-se a Nick, que deu largos passos para trás até estar tão próximo de Romeo que sua sombra quase o cobria inteiramente.

— Nina. — Helena voltou a chamar, os braços envolta da sua bíblia surrada e seu típico casaco de crochê desgastado pelo tempo envolvia sua fina figura. Como ela emagrecera... — Filha, a mamãe está com tanta saudade. — ela deu um passo para frente, a voz estremecida. Ela também parecia bem mais velha. — Romeo. — chamou quando seus olhos pousaram nele. Mas o garoto não teve tempo de processar o que aquilo significava para ele quando Nina começou a gritar e se debater nos braços de Nicholas. Ele tentou contê-la sem sucesso. O outro a abaixou no chão, mas manteve uma das mãos dela fechadas na sua.

— Não! — Nina gritava. — Não, não! — a voz infantil preenchendo o espaço e chamando mais atenção de quem passava. — Não, você não! Sai daqui, vai embora! — gritava a plenos pulmões, a voz começando a ficar embargada. Ela abriu os pequenos braços em frente a Romeo e plantou os pés lá. — Eu te protejo, Meu! Não chora!

— Nina... — a mãe deles cobriu a mão com a boca, seus olhos marejados.

— Não! — gritou com a voz trêmula. — Sai daqui!

Romeo estava inerte, sentia-se um espectador daquele cenário, como se não pertencesse àquilo, como se não deixassem que ele participasse. Piscou algumas vezes e começava a achar difícil respirar. Alguém tinha roubado seu ar.

— Ei, — ouviu no meio do burburinho. — aquela não é a louca que bateu no filho? — a voz estava estranhamente distante embora Romeo tivesse certeza de que a pessoa estava próxima.

Ela não estava presa?

Que tipo de monstro faz isso com o próprio filho?

— Sai daqui, bruxa! — alguém gritou. — Seu monstro, você tem que morrer! — outro continuou e assim uma chuva de ofensas caiu sobre Helena.

Uma verdade incontestável violentamente tomou conta do loiro: ver sua mãe ser xingada e humilhada na rua doeu mais do que quando ela o espancou.

Romeo abriu a boca, porém quando pensou em falar algo ouviu um barulho de carro derrapar na rua ao seu lado. O automóvel mal parou quando seu pai saltou de lá de dentro e andou a passos fortes para onde eles estavam.

— Entrem no carro! — ele gritou e quando viu que ninguém se mexera, voltou a repetir. — Nicholas, bota eles no carro!

Romeo sentiu levemente quando o outro os guiou atrapalhado para o automóvel.

— E você! — ainda ouviu o pai dizer. — Eu tenho uma ordem de restrição! Você fique longe dos meus filhos ou eu juro por Deus que eu faço uma loucura, Helena!

Romeo ainda viu um guarda dispensar a multidão antes do pai dar partida e o carro sumir rua afora.

[...]

Romeo encarava a cidade lá fora. Ele não contestou que o pai estivesse andando em círculos nem que na rádio estivesse passando um programa de namoro. O loiro já considerava uma vitória que Nina tivesse caído no sono depois de chorar todas as suas dores, sua mão direita ainda agarrava o casaco dele com afinco, mas todo o seu corpo se enrolava em Nicholas como um porto seguro. Ah, Nicholas. Romeo sabia que o outro estava se segurando, evitava olhar para ele. Mas ainda era Nick e Romeo ainda via aquele brilho irritante de preocupação nele, a testa franzida, os olhos esbugalhados e a respiração irregular.

Romeo não precisava daquilo. Não agora.

Quando eles finalmente voltaram para casa, a primeira coisa que seu pai fez foi ligar para um advogado. Nick e Romeo colocaram Nina em sua cama, mas pararam no meio da escada quando a voz do pai de Romeo chegou até eles.

— Bom comportamento? — o professor Fajardo explodiu. — Bom comportamento? Essa... mulher... espancou meu filho! — Romeo fechou os olhos momentaneamente e percebeu a chuva começar a cair. Chovia assim naquela noite também. Ele quase conseguia ouvir o barulho das sirenes. — Como eu não fiquei sabendo que ela ia sair hoje? Você tem... não me importa, você tem noção do que meus filhos passaram? — abriu os olhos e não se surpreendeu quando encontrou os de Nick sobre si. Geralmente Romeo gostava de ter a atenção do outro, mas não hoje, não assim, não agora. — Notificação? Que notificação? Você acha que eu não lembraria que a mulher que quase matou meu filho iria sair no dia que eu estivesse fora da cidade? Que eu deixaria meus filhos sozinhos com essa desequilibrada a solta? — quando o silêncio se seguiu Romeo sabia o que viria depois. Ele encostou-se na parede e encarou o teto. — O que? Como assim a notificação foi confirmada? Bom, eu não confirmei nada e se... — mais uma pausa e Romeo voltou sua atenção para Nick, ele já tinha percebido o que tinha acontecido. — Vocês deixaram uma criança confirmar? Incompetentes! É óbvio que eu vou processar vocês...

Romeo já tinha ouvido o que o interessava a essa altura. Mas não foi até Nick estender a mão para ele e o encarar como um cachorro sem dono que ele saiu de lá. Empurrou a mão estendida e apontou para a porta da frente, saindo primeiro. Nicholas o seguiu sem pestanejar.

No batente da porta Romeo parou e Nicholas imediatamente estava ao seu lado.

— Romeo... — começou.

— Não. — retrucou e sentiu a voz rouca. Engoliu a seco, seus olhos ardiam.

Nicholas balançou a cabeça.

— E-eu sei que você não quer ouvir o que eu tenho a dizer...

— Então por que caralhos você continua falando? — respondeu agressivamente, os olhos na calçada ao longe. Sua garganta também doía.

— Porque você pode se abrir comigo também. — Romeo revirou os olhos com tanta força que pareceu que quase perdeu a visão. — Você sabe que eu estou do seu lado. — insistiu. — Você se abre com Lucas, mas comigo não? — o loiro não achou ter ouvido direito. — F-foi isso o que vocês foram fazer hoje de manhã, não é? Isso o que você não queria me contar.

Romeo virou-se para ele, os dentes rangendo.

— O que você disse?

Nick deu meio passo para trás.

— Você confia nele. — disse decisivo.

E?

— Mas não em mim.

Dessa vez Romeo realmente perdeu a paciência.

— E se eu tivesse te contado, hein? — afundou o indicador no peito dele com tanta força que o outro deu um passo inteiro para trás dessa vez. — O que você faria? Ficaria me olhando com essa porra de cara de pena como está fazendo agora?

— Eu...

— E eu tenho que agradecer porque você está se compadecendo com o pobre Romeo? "Pelo menos eu tenho você", é isso o que você quer ouvir? Eu faço o quê com essa piedade toda? Vai mudar alguma coisa? Caralho nenhum.

— E-eu não...

— Quer saber que diferença faz para mim você estar aqui ou não? Acha que é diferente de todos os outros que me olham com dó? — virou o rosto sentindo a mão coçar. Chega, não precisava lidar com isso agora. Não precisava lidar com Nicholas logo depois de ter reencontrado a mãe. Não quando estava tão difícil de respirar que era como se estivesse se afogando em lama. — Você precisa ir.

— O-o que? — os olhos infantis do outro se arregalaram mais ainda. — Eu quero ficar aqui. Com você.

Romeo apertou a maçaneta. Depois, depois eu lido com você.

— Dê o fora. — entrou na casa novamente. — Não quero olhar para sua cara. — e bateu a porta sem esperar pela resposta dele.


Eu sei que eu disse mês que vêm mas consegui um tempo pra escrever mais um capítulo e vocês não se importam se a gente adiantar um pouco né 

brutal, stupid, lxveWhere stories live. Discover now