lxve by damage: o silêncio, o escuro e a solidão

789 83 14
                                    

estamos na semana santaa muito ovo de páscoa pra todesss

e eu não preciso falar pra vcs que isso aqui é ficção e nem todo religioso é como mostrado aqui né? todo mundo aqui se comportando visse


Parte 2, Capítulo Sete: o silêncio, o escuro e a solidão

Chovia tanto que relampejava lá fora e as luzes dos raios iluminavam periodicamente o quarto escuro de Romeo. Ele nem chegara a ligar as lâmpadas. Nina acordara algum tempo depois que todos chegaram em casa e foi dormir com o pai deles, já o Sr Fajardo disse que não obrigaria Romeo, mas que a porta estaria aberta se ele quisesse se juntar a eles.

Romeo não queria. Nem precisava. O silêncio, o escuro e a solidão eram a melhor companhia que ele poderia pedir, eles o ensinavam mais sobre si mesmo do que qualquer professor que já tenha tentado. Foi no escuro que ele percebeu que gostava de meninos e no mesmo instante que isso não seria fácil. Antigamente se Romeo tivesse algum problema ele correria para sua mãe, imediatamente e sem pestanejar, mas ele sabia que aquele não seria o caso.

Então por isso decidiu contar ao seu pai primeiro, ali havia um incontestável porto seguro, e os dois juntos, quem sabe, poderiam lidar com Helena.

Porém isso nunca aconteceu. Sua mãe o descobriu antes e desde então tudo o que Romeo fez ou pensou foi pela metade, a outra parte dele sempre no presídio da cidade.

É claro que ele sabia que o que a mãe tinha feito era errado, o jovem ainda se lembrava sobre sua estadia no hospital. Mas ninguém o avisou que sua mãe seria presa, que ela seria jogada num presídio, presa como um animal raivoso. Ninguém perguntou a Romeo se era isso o que ele queria.

E ele tentou reverter o julgamento, várias vezes, apelou para os advogados e para seu pai retirar as acusações. Romeo mesmo não poderia fazer isso por conta da idade ou ele já o teria feito. Aquela não podia ser a única solução, tinha que haver uma alternativa. Se só o deixassem conversar com ela... Foi só quando o pai dele disse que se Helena estivesse solta talvez ela fizesse o mesmo com Nina que Romeo parou abruptamente. O pensamento arrepiou sua espinha como nenhum pesadelo jamais o fez. Só a ideia de sua irmã passar por aquilo já doera mais do que o evento em si. Ele não podia permitir, jamais. Se Nina gostasse de meninas no futuro Romeo faria possível o impossível apenas para ver a irmã ser feliz.

Ele coçou a nuca.

Romeo já havia entendido e aceitado isso. Era um sacrifício e ele estava disposto a fazê-lo. Ou pelo menos foi o que ele pensou. Quando o advogado ligou avisando que sua mãe sairia, o jovem estagnou. Seu sangue tinha virado gelo nas suas veias e sua mente foi nublada por pensamentos confusos. Ele concordou com o advogado, rasgou a carta que fora enviada a seu pai e também deletara o e-mail.

Uma ideia começava a tomar forma na sua cabeça. Romeo podia ter contato com a mãe e deixá-la longe de Nina. A garotinha não precisava reviver aquele dia, mas Romeo era resiliente, ele aguentaria. Era verdade que sua mãe não aceitara suas visitas no presídio, porém talvez estar do lado de fora fizesse com que ela repensasse. Só talvez. Romeo só precisava de um talvez.

Uma ideia que poderia não ser nada, e então ser tudo. Romeo estava disposto a seguir por ela. Não contara essa parte sequer a Lucas.

Mas então sua mãe surge e a primeira coisa que ela tenta fazer é se reaproximar de Nina. Aquilo o paralisou, levando-o de volta às palavras do seu pai. Romeo percebeu que não poderia seguir seu plano, sua mãe poderia tentar usá-lo para chegar na sua irmãzinha e ele não permitiria aquilo. Ver sua tentativa de estar com Helena novamente escorrendo por seus dedos como água foi um baque surdo, atingiu o garoto quando seus muros estavam baixos e ele não teve forças para revidar. Não naquele momento.

Pousou a testa nos joelhos. Talvez fosse a hora de ele encarar o monstro debaixo da cama, o fantasma em seu armário:

Romeo não teria a mãe de volta.

Pelo menos não da forma que ele queria. Nunca mais colocaria a cabeça no seu colo enquanto os dedos dela escorregariam por seus fios, ouviria a voz firme dela contar algumas histórias bíblicas ou seu toque gentil ao colocar um curativo no jovem. A realidade era tão difícil de dizer em voz alta, o pensamento já era tenebroso por si só. Era bom que ele guardasse na memória os tempos bons que tivera com ela, Romeo só os teria em lembranças.

E agora, com isso atingindo-o como uma bola de demolição, o silêncio, o escuro e a solidão não pareciam tão amigáveis quanto antes. O silêncio soava ensurdecedor nos seus ouvidos, a chuva distante demais para ser considerada uma presença e nem mesmo seu coração era audível, tão fraco e dolorido que batia timidamente no seu peito. O escuro agora parecia engoli-lo, uma criatura desconhecida querendo agarrar seus pés, levá-lo para um mundo sem cores, sem presença e vazio. Porém esses dois não eram piores que a solidão, a constante sensação de estar sozinho, descolado da realidade e por si só, tão desimportante que se tornava insignificante na sua própria miudeza.

Romeo levantou-se de supetão, sufocando nos seus pensamentos.

Ele nunca tinha precisado tanto de mais alguém com ele. E agora Lucas estava viajando. E Romeo havia mandado Nick embora.

Nicholas. Romeo gemeu internamente. Ainda havia Nicholas.

Piscou com força algumas vezes e resolveu tomar um longo banho, longo o suficiente para que Nick chegasse em sua casa e mandasse uma mensagem para o loiro. Porém quando Romeo retornou, não havia nada. A frustração o tomou, egoísta, roendo as beiradas do seu coração. Resolveu desligar o aparelho, sua mente pregava peças nele agora e daqui a pouco o convenceria a ligar para Nick. Abriu o guarda-roupa marrom em busca do seu pijama e a primeira peça que achou foi uma camisa que Nicholas esquecera lá há uns dias.

As lembranças não pediram permissão para correr na frente das íris do jovem, as imagens tomando conta de Romeo da mesma forma que Nick tomava. Sem permissão. Brutalmente, estupidamente, amavelmente. Romeo não podia controlar.

Foi em uma noite que Romeo estava só em casa, seu pai e Nina haviam saído para o aniversário de alguma colega dela e Nicholas havia estado lá no dia anterior, quando esquecera a camisa. Ele havia dito a Romeo que voltaria para buscá-la, mas tivera um imprevisto e teve que entregar um trabalho da escola naquele mesmo dia. Eram raras as vezes que Nick desmarcava algum compromisso com loiro, talvez fosse por isso que Romeo se sentia tão irrequieto quando isso acontecia.

Naquele dia ele recebera a mensagem de Nicholas e a encarara até que a tela do celular desligasse. Um sentimento estranho, quase de abandono, retorceu seu estômago. Depois, lentamente, Romeo trocou sua camisa pela aquela de Nicholas. Não era uma estampa que ele particularmente usaria, os desenhos em xadrez faziam com que ele parecesse... comportado. O loiro desabotoou os três primeiros botões e dobrou as mangas. Melhor. Virou-se para o espelho e um sorriso maldoso surgiu nos seus lábios quando ele pegou seu celular. Enviou uma foto de si com a camisa para Nicholas com a legenda: "vem buscar agora". Naquele dia Nick quebrara o recorde de tempo para chegar na casa de Romeo. O loiro o havia compensado por isso, depois de provocá-lo por um tempo, é claro.

Agora Romeo olhava ao redor, pelo seu quarto, e tudo parecia gritar que faltava algo. Nicholas não estava lá, nem Lucas ou sua mãe. A falta deles ocupava mais espaço que os móveis.

O garoto passou a mão direita pelo rosto e surpreendeu-se com uma lágrima solitária. Rapidamente pegou seu pijama, seu travesseiro e seu lençol dirigindo-se para ir dormir com seu pai e Nina.


se eu disser que tô escrevendo o hot vcs acreditam?

brutal, stupid, lxveOnde as histórias ganham vida. Descobre agora