lxve by damage: minicapítulo

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Parte 2, Capítulo doze: conversa

Romeo não estava realmente prestando atenção nas coisas ao seu redor, ele encarava o relógio da sua cozinha como se o tempo fosse passar mais rápido assim. Não sabia ao certo porquê desejava que o tempo se acelerasse. Era como se ele estivesse esperando por algo. Ou por alguém.

— Romeo? — seu pai chamou novamente, tirando o garoto dos devaneios. Ele vestia sua típica roupa de professor e trazia a chave do carro em mãos. — Eu perguntei se você vai sair.

O jovem balançou a cabeça, negando.

— Hoje não é a festa de despedida de Lucas Alonso?

— Tsc. — franziu o cenho. — É.

Seu pai ergueu a sobrancelha direita.

— E você não acha que sua presença é esperada?

Ele achava. Mas não era como se estivesse com cabeça para isso agora.

— Ele vai entender.

— Isso não significa que ele não vá ficar triste com sua ausência. — guardou as chaves no chaveiro da cozinha e colocou o avental, perfeitamente disposto no seu corpo. — Venha, me ajude aqui.

Romeo não se importava de ajudar. Mas havia algo na maneira do seu pai que não era comum, típica, e aquela falta de coerência das pessoas ao seu redor estava acabando com o garoto. Ele se colocou ao lado do homem em frente à pia e os dois começaram a lavar a louça restante da janta.

— Há algo que eu gostaria de dizer. Eu sei que... — o professor começou. — a nossa família é um pouco diferente das demais.

— Pai...

— Me deixe terminar, sim? — pediu, educadamente. Havia um ar pensativo ao seu redor, mais do que o comum. — É difícil para mim também. — assentiu. — Minha falta de tato fez com que você e Nina não soubessem lidar com seus sentimentos da forma que devem ser lidados, eu reconheço isso. Por isso, agora, eu vou falar. — franziu levemente o cenho. O segundo em silêncio se transformou em minuto quando ele voltou a falar. — Helena nem sempre foi assim.

Romeo não respondeu.

— Era o que eu costumava dizer a mim mesmo. — murmurou. — Por longos anos me convenci que sua mãe não tinha essa natureza. Porque eu a amava.

Você ainda a ama. Todos nós a amamos. Romeo quis dizer. É a nossa maldição.

— E por causa disso, eu fui permissivo. — passou as louças lavadas para que Romeo secasse. — Fechei meus olhos para o que ela fazia, o que ela dizia, até não poder mais. E, depois, — suspirou, sem olhar o filho nos olhos. — eu fiz de novo. Fingi que não vi você indo visitar ela, fingi não ver a coleção de fotos dela que Nina guarda nos ursos de pelúcia, fingi que eu não me vi comprando o perfume dela.

Mais silêncio. Romeo engoliu a seco. Seu pai nunca falava sobre Helena. Nunca, jamais. Era um assunto assombrado naquela casa, pelas testemunhas do que ela fizera.

— E hoje, mais um dia que eu estava disposto a continuar fingindo, eu recebi três ligações. — dessa vez virou-se diretamente para o loiro. — A primeira de Lucas, a segunda de uma garota chamada Jade e a terceira de Nicholas. — ponderou. — Ou talvez tenham sido as duas de Nicholas, a garota disse que estava me ligando porque sabia que ele queria ligar.

E mais uma vez a ausência de Nick foi sentida como estilhaços no coração de Romeo. Você o mandou embora, lembra? O prato quase escorregou das suas mãos.

— Todos eles me fizeram a mesma pergunta. Uma que eu nunca fiz a você.

A boca de Romeo estava seca.

— O que eles perguntaram?

Os olhos do seu pai pareceram escurecer.

— Se você está bem.

Dos porões de sua memória, vozes baixas ecoaram dentro do seu crânio. Meu filho, meu filho, meu menino, a voz chorosa do seu pai naquela noite, embalada pelos trovões e pela tempestade.

Romeo mordeu a língua.

— Eles me fizeram perceber que eu não posso mais continuar evitando a realidade. Nada vai importar se meus filhos não estiverem bem. — terminou e fechou a torneira. — Eu falhei antes, e pretendo não repetir meu erro.

Perdurou o avental.

— Romeo.

— Hmm.

— Você está bem?

Avaliou.

— Não. — admitiu e, olhando o relógio, percebeu que já era hora de Nicholas estar de volta. — Mas vou ficar. 


Um capítulo pequeno porque o próximo já é grande :p

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