lxve by damage: ferro velho

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Parte 2, Capítulo Três: ferro velho

Lucas rodou o taco nas mãos enquanto Romeo posicionava as garrafas de vidro sobre um metal enferrujado de algum automóvel há muito esquecido no antigo ferro velho da cidade. Geralmente ele faria aquela atividade sozinho se quisesse parar para pensar, mas Romeo não queria ficar sozinho. Não naquele dia.

— Então você não contou para o Nick. — Lucas comentou casualmente com a aba do boné virada para trás. Romeo sabia que aquela conversa viria, mas talvez não fosse ser tão ruim se ele se concentrasse em quebrar algo ou ver algo sendo quebrado. Precisava de que pelo menos metade da sua concentração estivesse fora da sua cabeça.

— Não. — respondeu e virou-se para se sentar num banco de couro todo rasgado de procedência duvidosa.

Lucas quebrou a primeira garrafa e o som de vidro se espatifando contra o metal abraçou o ar como uma sinfonia desarmônica.

— Você sabe, cara, seu relacionamento, suas coisas, não vou me meter. — quando ele dizia isso era porque logo em seguida ele se meteria. — Só que Nicholas é todo emocionado, sabe, é melhor dizer o quanto antes.

Mas Romeo queria adiar o máximo possível, isso que Lucas não entendia. Ele não queria lidar com isso agora. Não que fosse escolha dele. Mas saber que o inevitável estava para acontecer só fazia com que ele quisesse aproveitar mais os momentos em paz.

— E o seu pai, onde está? — Lucas perguntou rodando o taco nas mãos novamente. Ele tinha um senso de equilíbrio horrível, quase tão ruim quanto o de Nicholas, que era péssimo. Romeo sempre se perguntava como Nick conseguira chegar a esse ponto da vida sem nenhum osso quebrado. — Ele nunca mais me chamou de má influência, sinto que estou perdendo meus poderes. — acrescentou.

O loiro deu um meio sorriso, mas foi curto demais para ser devidamente aproveitado.

— Ele teve que sair em uma viagem e volta hoje de noite. — retrucou enquanto desfiava mais ainda o couro da poltrona.

Lucas arqueou uma sobrancelha e quebrou mais uma garrafa.

— Tsc, logo hoje? — questionou.

Romeo sentiu um arrepio familiar subir pelos seus braços e levantou-se do banco como se tivesse uma descarga elétrica nele. Precisa bater em algo, acertar alguma coisa, sentir a energia e tensão sair do seu corpo e acertar qualquer outra coisa.

— E cadê a Nina? — Lucas passou o bastão para o loiro sem nem mesmo questionar que ainda havia algumas garrafas para quebrar na sua vez. Romeo cerrou os dentes. Não queria a pena dele.

— Com a babá. — respondeu com a voz mais irritada. Lucas arqueou a sobrancelha direita, mas nada disse. Ele conhecia Romeo bem demais para saber quando devia falar ou não.

— Achei que Nicholas fosse sua babá oficial. — o outro retrucou sentando-se onde Romeo estivera. O loiro acertou a primeira garrafa com tanta força que sentiu a vibração subir por seu braço. Seu coração acelerou, era disso que ele precisava.

— Tsc. — Romeo balançou a cabeça.

— Então você quer ser o primeiro a falar para ele. — Lucas deduziu num murmúrio. — Cara, quem diria que você seria tão meloso. — Romeo virou-se para dizer que dessa vez acertaria a cabeça de Lucas ao invés do vidro, mas o outro continuou. — Mas eu ainda sou sua alma gêmea, não é?

Lucas queria morrer. Ele seria enterrado naquele mesmo ferro velho. Junto com as lembranças de amizade entre eles.

Romeo rodou o taco nas mãos já andando em direção ao imbecil sem medo da morte, mas o que Lucas tinha de insensatez ele tinha de velocidade e logo estava pulando pelo espaço, fugindo como um covarde.

— Como você disse mesmo? — gritou de longe. — "Lucas, — ele exclamou imitando uma voz bêbada. — só você me entende. — desviou de uma bicicleta infantil velha que Romeo jogou nele. — Só você... hic — o patife imitou até mesmo o soluço. — Você é minha alma gêmea."

— Lucas Alonso, você é um homem morto. — sentenciou com uma voz fria. — Qual seu último pedido? — gritou de volta enquanto subia numa pilha de caminhonetes atrás do outro.

— Escreva na minha lápide: — respondeu enquanto fazia de tudo para desviar de Romeo que apenas encurtava a distância entre eles. Logo, logo Lucas estaria a sete palmos do chão, o loiro prometeu a si. Continuou: — "Amado filho e irmão, sentiremos sua falta... Principalmente Romeo, que agora ficará sem sua metade".

Ah, mas Romeo cometeria um assassinato. Que Nicholas jamais ouvisse aquela história. Contendo seu sorriso e agradecido por Lucas aliviar seus pensamentos momentaneamente, Romeo atravessou o ferro velho.


Obrigada a todo mundo que tá lendo, comentando, compartilhando, votando, me ameaçando de mor- 

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