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Damon e eu nos agachamos no bosque de pinheiros do cemitério, atrás dos mausoléu que abrigavam os ossos dos fundadores de Mystic Falls. Apesar de ser muito cedo, o povo da cidade já se postava de ombros baixos em volta de uma cova. Baforadas de ar formavam espirais no céu azul a cada expiração da multidão, como se toda congregação estivesse fumando charutos comemorativos em vez de tentar acalmar o bater de dentes.

Meus sentidos aprimorados apreenderam a cena diante de nós. O cheiro enjoativo de verbena - uma erva que anula poder dos vampiros - pairava denso no ar. A grama estava coberta de orvalho, cada gota ciando na terra com um tinido ressoante, e, ao longe. os sinos da igreja badalavam. Mesmo daquela distância, eu podia ver uma lágrima alojada no canto do olho de Honoria Fell.

No púlpito, o prefeito Lockwood se remexia de um pé para o outro, claramente ansioso para conseguir a atenção da multidão. Eu distinguia apenas a figura alada acima dele, a estátua de anjo que marcava o lugar de descanso final de minha mãe. Havia dois lotes vazios mais adiante, onde Damon e eu deveríamos ter sido enterrados.

A voz do prefeito cortou o ar frio; era tão alta para meus ouvidos sensíveis que ele parecia estar bem a meu lado.

-Estamos reunidos aqui para nos despedirmos de um dos maiores filhos de Mystic Falls, Giuseppe Salvatore, um homem para quem a cidade e a família vinham sempre antes de si mesmo.

Damon chutou o chão.

-A família que ele matou. O amor que ele destruiu, as vidas que ele despedaçou - murmurou ele.

-shhhh- sussurei ao colocar a mão em seu braço.

-Se eu tivesse que pintar um retrato da vida deste grande homem - continuava Lockwood por sobre as fungadas e suspiros presentes -, Giuseppe Salvatore seria flanqueado pelos dois falecidos filhos, Damon e Stefan, heróis da batalha de Willow Creek. Que possamos apreender com Giuseppe, imitá-lo e ser inspirados a livrar nossa cidade do mal, seja ele visível ou não.

Damon zombou em voz baixa, com désdem.

-O retrato que ele pinta - disse ele - deveria conter o clarão do rifle do papai - Ele esfregou o ponto onde a bala tinha atravessado seu peito apenas uma semana antes. Não havia ferimento físico, porque nossa transformação curou todas as feridas, mas a traição ficaria gravada em nossas mentes para sempre.

-Shhhh - repeti enquanto Jonathan Gilbert se colocava ao lado do prefeito Lockwood, segurando uma armação grande.

Jonathan parecia ter envelhecido dez anos em apenas sete dias: rugas marcavam sua testa bronzeada e mechas brancas eram visíveis no cabelo castanho. Perguntei-me se sua transformação tinha algo a ver com Pearl, a vampira que ele amava mas condenara á morte depois de descobrir quem ela realmente era.

Localizei os pais de Clementine na multidão, de braços dados, sem consciência de que a filha não estava entre as meninas de expressão sombria atrás do grupo.

Em breve eles descobririam.

Meus pensamentos foram interrompidos por um estalo insistente, como um relógio marcando as horas ou uma unha batendo em uma surperfície dura, Observei a multidão, tentando identificar o ponto de origem do tique-taque. O som era lento, estável e mecânico, mais constante do que um batimento cardíaco, mais lento do que um metrônomo. E parecia vir diretamente da mão de Jonathan. O sangue de Clementine correu para minha cabeça.

A bússola.

Quando meu pai começou a desconfiar de vampiros, criou um comitê de homens para livrar a cidade do flagelo demoníaco. Compareci ás reuniões, realizadas no sótão da casa do Jonathan Gilbert. Ele tinha planos para fabricar um dispositivo que identificaria vampiros e testemunhei seu uso por Jonathan na semana anterior. Foi como ele descobriu a verdadeira natureza de Pearl.

Dei uma cotovelada em Damon.

-Precisamos ir - falei, quase sem mover os lábios.

Nessa hora Jonathan levantou a cabeça e os olhos se fixaram diretamente nos meus.

Ele soltou um grito horrível e apontou para nosso mausoléu.

-Demônio!

A multidão se virou para nós como um só corpo, os olhares cortando a névoa como baionetas. Então algo passou disparado por mim e o muro ás minhas costas explodiu. Uma nuvem de pó subiu á nossa volta e lascas de mármore cortaram meu rosto.

Mostrei as presas e rugi. O som era alto, primitivo, aterrorizante. Metade da multidão derrubou cadeiras na pressa de fugir do cemitério, mas a outra metade permaneceu ali.

-Matem os demônios! - gritou Jonathan, brandindo uma balestra.

-Acho que ele se refere a nós, maninho - disse Damon com uma risada curta e sem humor.

Então peguei Damon e corri.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now