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Quando despertei, sabia, pela luz que entrava por uma fresta na cortina, que era dia. Coloquei os pés no chão de madeira e peguei a pilha arrumada das roupas compradas com Lexi. Parecia ter se passado muito tempo.

Vesti uma camisa nova, penteei o cabelo e pus o resto das minhas roupas em um fardo improvisado feito com minha camisa esfarrapada de Mystic Falls - o único objeto que ainda tinha de minha antiga vida.

Olhei o quarto, meus olhos observando as camadas familiares de poeira nos cantos. Perguntei-me quantos vampiros tinha passado por esta casa e se Lexi encontraria outro jovem para colocar sob sua proteção. Torci, pelo bem dele e deal, para que sua experiência nesta cidade de pecados fosse melhor do que a minha.

Lexi estava sentada na sala. Em suas mãos, havia o retrato do irmão. Assim que cheguei , ela levantou a cabeça.

-Stefan - disse ela.

-Sinto muito -interrompi. e era sincero, por tudo. Por vir para Nova Orleans. Por pertubar sua vida. Por trazer pergio a este pontinho de segurança que os vampiros haviam conseguido arranjar.

-Eu não sinto. Foi um privilégio ter você aqui - seu olhar ficou sério - Lamento por Callie... E pelo seu irmão.

-Ele não é mais meu irmão - falei rapidamente.

Lexi baixou o retrato sobre a mesa de centro.

-Talvez não seja mais. Mas como você mesmo disse, ele representava tofa a vida humana paa você. Pode se lembrar disso e esquecer o resto?

Dei de ombros. Não queria me lembrar de Damon. Não agora. Nem nunca.

Lexi atravessou a sala e pôs a mão em meu braço.

-Stefan, é doloroso perder humanos e sua vida humana. Mas vai ficar mais fácil.

-Quando? - perguntei, minha voz falhando um pouco.

Ela olhou o retrato na mesa.

-Não tenho certeza. Acontece aos poucos - Eal parou, depois riu, o som tão inocente e jovial que quis me sentar e ficar naquela casa para sempre - Deixe-me adivinhar. Você quer que aconteça agora.

Eu sorri.

-Você me conhece bem.

Lexi franziu o cenho.

-Precisa aprender a ir mais devagar, Stefan. Tem uma eternidade pela frente.

Caiu um silêncio entre nós, a palavra eternidade ecoando em meus ouvidos.

Com um solavanco, puxei Lexi para um abraço, respirando o aroma reconfortante de nossa amizade, e então disparei para fora da casa sem olhar para trás.

Uma vez que estava do lado de fora, me repreendi por meu sentimentalismo. Eu tinha muito o que corregir, e ter pena de mim mesmo era autocomplacência. Parei no posto da rua onde Callie morreu. Não havia mancha de sangue, nada para marcar o fato de que ela um dia existiu. Ajoelhei-me, olhando para trás antes de beijar o chão.

Então me levantei e comecei a correr, cada vez mais rápido.

Amanhecia, e a cidade acordava. Mensagueiros disparavam em bicicletas de entrega e soldados da União marchava pela ruas, os rifles aninhados nos braços como bebês. Os vendedores já se pereparavam na calçada e o ar tinha cheiro de açúcar e fumaça.

E, é claro, o cheiro pungente de sangue e ferro.

Cheguei rapidamente á estação de trem, onde a plataforma já estava fervilhando. Homens de paletó sentavam-se em bancos gastos de madeira na área de espera, lendo jornais, enquanto mulheres agarravam-se, nervosas, ás bolsas. Toda a estação tinha um ar de transitoriedade festiva. Era o perfeito território de caça. E, antes que eu conseguisse me repremir, minhas pernas se projetaram das gengivas.

Enterrando o rosto nas mãos, contei até dez, combatendo a fome que me tornava e querendo que os dentes voltassem á sua forma humana.

Finalmente, uni-me a uma onda de gente que ia para a plataforma e me postei numa extremidade. Perto de mim, dois namorados estavam entrelaçados num abraço. Um soldado, passava a mão no cabelo louro-arruivado da mulher e esta, equilibrada na ponta dos pés, pendurava-se em seus ombros como se não quisesse soltá-lo jamais.

Observei-os por um bom tempo, perguntando-me se em uma vida diferente Callie e eu teríamos protagonizado a mesma cena.

Se ela teria me beijado enquanto eu partia para a batalha, depois esperando ansiosamente na plataforma por minha volta para casa.

Soou o apito, e o trem entrou na estação lançando uma nuvem de poeira e me arrancando de meus desvaneios.

Segui o soldado a bordo, perguntando-me se ele e a amante teriam um final feliz. Ao menos me consolava saber que, se não tivessem, não seria por minha causa.

Entrei no vagão.

-Passagem, senhor? - perguntou um bilheteiro, estendendo a mão.

Olhei-o fixamente, meu estomâgo se revirando de repulsa por ter de apelar ao Poder.

Deixe-me passar.

-Já mostrei ao senhor - falei - Deve ter se esquecido.

O bilheteiro assentiu, dando um passo para o lado para que eu embarcasse. O trem arrancou da estação, levando-me a uma nova vida. Uma vida na qual eu jamais usaria o coação, a não ser que precissasse, e na qual jamais voltaria a sentir o gosto do sangue humano.


sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now