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19 de Outubro de 1864

Estou fora de perigo, mas não me sinto seguro.

Pergunto-me se um dia me sentirei assim novamente, ou se terei eternamente um desejo não satisfeito. Será que um dia me acostumarei á dor? Daqui a vinte, duzentos, dois mil anos, serei capaz destas semanas? De Callie e seu cabelo ruivo, seu sorriso?

Sim. Terei de me lembrar. Callie me salvou e me deu outra chance na vida. De certo modo, é como se ela fosse a luz que se seguiu á escuridão, Katherine fez com que eu me tornasse um monstro, mas Callie me transformou novamente no Stefan Salvatore de quem me orgulhava.

Desejo-lhe amor. Só o que quero é o melhor para ela.

Quero que ela viva na luz e encontre um homem - um humano - que a valorize e a adore, que tire da casa de Gallagher para sempre, levando-a para um lar tranquilo á beira de um lago, onde poderá ensinar os filhos a fazer as pedras saltarem na água.

Talvez seja assim que viverei em sua memória: não como um monstro, mas simplesmente como alguém com quem partilhou uma cálida manhã de verão e que lhe ensinou que fazer saltar pedras era tão simples quanto um grio no pulso. Talvez um dia nós dois tenhamos esta lembrança ao mesmo tempo. Talvez ela até conte aos filhos, e aos filhos dos filhos, e todos me conhecerão como o homem que a ensinou a jogar pedras na água. É uma esperança mínima, mas é alguma coisa. Porque se Callie lembrar-se de mim, ela e eu estaremos ligados de alguma form.a E talvez, com o tempo, simplesmente estarligado por um único fio de memória seja suficiente.

Acordei no meio da noite com o que pensei ser uma chuva de granizo batendo no vidro da janela. Apesar das regras de Lexi, espiei por uma pequena fresta na cortina e semicerrei os olhos para a escuridão. As árvores estavam sem flhas e os galhos eram membros fantasmagóricos se estendendo para o céu. Embora fosse uma noite sem luar, vi um guaxinim correr pelo quintal. E, depois, uma figura parada timidamente atrás de uma das colunas da varanda.

Callie.

Vesti apressadamente uma camisa e desci a escada, com o cuidado de não fazer nenhum ruído, A última coisa que eu queria era que Buxton ou Lexi soubessem que uma humana me seguiu ate em casa.

A porta se fechou com um baque atrás de mim, e vi Callie dar um salto.

-Estou aqui- sussurrei, sentindo-me emocionado, confuso e excitado ao mesmo tempo.

-Olá- disse ela timidamente. Estava com um vestido azul e uma estola de pele. Um chapéu se equilibrava sobre os cachos e havia uma grande bolsa de lona no ombro. Ela assentiu, tremendo. Quis mais do que qualquer coisa poder levá-la para cima e colocá-la sobr meus cobertores para aquecê-la.

-Vai a algum lugar? - perguntei, apontando com o queixo para a bolsa.

-Espero que sim - Ela pegou minhas mãos - Stefan, não me importo o que você é. Nunca me importei. Quero ficar com você - ela me olhou nos olhos. - Eu... Eu amo você.

Baixei a cabeça com um nó na garganta. Quando eu era humano, pensava que amava Katherine até que a vi acorrentada, amordaçada e espumando pela boca. Não senti nada além de repulsa ao ver aquilo. No entanto, Callie me vira incosciente, sagrando devido á verbena, apunhalado por meus captores, esmurrando meu irmão no ringue, e ainda me amava. Como aquilo era possível?

-Não precisa responder - apressou-se Callie a falar - Só precisava lhe dizer. E vou embora, independentemente de qualquer coisa. Não posso ficar aqui com meu pai, não depois de tudo o que aconteceu. Vou pegar o trem, e você pode vir comigo. Mas não precisa. Apenas gostartia que fosse - Balbuciou.

-Callie! - interrompi,colocando um dedo sobre seus lábios. Os olhos dela se arregalaram, alterando entre o medo e a esperança.

-Eu iria com você a qualquer lugar - disse eu - Também a amo, e a amarei pelo resto de minha vida.

O rosto da Callie se abriu numa expressão relaxada e alegre.

-Quer dizer sua não vida - disse ela com uma expressão animada.

-Como sabia onde eu morava? - perguntei, tímido de repente.

Callie corou,

-Eu o segui até aqui uma vez. Quando você fugiu depois da primeira luta do vampiro. Queria saber tudo sobre você.

--Bem, agora sabe.

Incapaz de me reprimir, puxei-a nos braços e baixei os lábios até os dela, sem mais temer ouvir sangue correndo em suas veias ou ouvir seu coração acelerado na expectativa. Ela me abraçou com mais força e nossos lábios se tocaram. Beijei-a ansiosamente, sentindo a maciez de sua voca na minha. Minhas presas não se estenderam; meu desejo todo por ela, em sua forma humana, como realmente ela era.

Callie era macia, quente e tinha gosto de tangerina. Naqueles momentos, imaginei nosso futuro. Pegaríamos o trem para o mais longe possível de Nova Orleans, talvez á Califórnia, ou quem sabe navegaríamos para a Europa. Nos acomodariamos em um pequeno chalé e criaríamos gado, do qual eu me alimentaria, e Callie e eu viveriamos nossos dias juntos, longe dos olhos curiosos da sociedade.

Um pensamento incômodo insistia em aparecer no canto de minha mente: eu a transformaria? Odiava a ideia de fazer isso, de cravar os dentes em seus pescoço branco, de fazê-la ter uma vida em que desejaria sangue e temeria a luz do dia, mas também não suportava a ideia de vê-la envelhecer e morrer diante de mim. Balncei a cabeça, tentando me livrar desses pensamentos. Poderia lidar com eles depois. Nos dois poderiamos.

-Stefan - murmurou Callie, mas o murmúrio se transformou num arquejar e ela escorregou de meus braços , caindo no chão. Uma faca de açougueiro estava cravada em suas costas,e sangue jorrava dali.

-Callie! - exclamei caindo de joelhos - Callie!

Frenético, abri uma veia no pulso, tentando alimentar Callie com meu sangue para curá-la. Mas antes que conseguisse colocar o braço em sua boca ofegante, a mão de alguém me puxou pela gola da camisa.

Um riso baixo e familiar cortou o ar da noite.

-Não tão rápido, maninho.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now