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-Não se incomode com ele - disse Callie depois que o pai estava a uma distância segura

-Não incomodo - menti

Seus olhos verdes focaram rapidamente em mim, como se ela não acreditasse em minhas palavras. Mas ela não insistiu na questão.

-Vamos fazer um rápido tour - disse ela, levando-me a uma das tendas menores. Num canto, uma mulher estava recurvada sobre um espelho. Ela se voltou e eu recuei um passo. Seu rosto era coberto de tatuagem que, num exame mais atento, mostrava-se obra de tinta indiana de secagem rápida.

-A mulher tatuada - disse Callie - E as gêmeas siamesas.

A mulher e as gêmeas ao lado acenaram para nós. As gêmeas eram unidas pelos quadris. Eram bonitas, louras e de expressão triste. Um homem com barbatanas no lugar dos braços cochichava alguma coisa no ouvido de uma delas. Elas se olharam, depois deram uma gargalhada.

-Este é o espetáculo- Callie abriu os braços e pela primeira vez percebi uma estaca de madeira pendurada em uma corrente de prata em seu pulso. Também tinha um ramo de verbena enfiado atrás da orelha.

-Srta. Callie! - Uma montanha de homem, de mais de 2 metros de altura, abaixou-se pela porta da tenda e veio em nossa direção. Pegou Callie pela cintura fina e a girou.

-Arnold! - disse ela alegremente - O homem mais forte do mundo. Casado com a mulher barbada - explicou-me ela antes de olhar de novo para Arnold - Como vai Caroline?

O gigante deu de ombros.

-Vai bem. Está louca para voltar e mostrar os bebês a todos.

-Eles acabaram de ter gêmeos! - disse Callie com ternura

Cumprimentei com a cabeça, saudando o homem e olhei por sobre o ombro de Callie. Onde guardavam Damon?

-Você está bem? - perguntou Callie. Ela roçou em meu braço e eu me encolhi quando a verbena tocou minha pele.

-Só preciso de um pouco de ar - falei, irrompendo a tenda afora

Callie correu atrás de mim.

-Desculpa, Stefan - disse ela num tom frio - Algumas pessoas não gostam daqui. Não ficam a vontade. Mas de certo modo pensei que você fosse diferente.

-Não, não é isso - Mesmo cercado destas curiosidades humanas, eu era a maior aberração de todas: o vampiro que fugia ser humano - Só estou com a cabeça cheia. Eu lhe garanto, gosto daqui

-Muito bem - disse ela,sem parecer convencida, mas continuando a me levar pela área. Passamos por um gato de duas cabeças, um macaco de aparência triste tocando "Old Tom Dooley" numa gaita e o esqueleto do que uma placa declarava ser um monstro marinho. Algumas aberrações que andavam por ali eram obviamente atores, usando tubos de tecido recheados de palha para simular membros a mais, enquanto outros nasceram daquele jeito.

-Venha comigo - disse Callie, puxando meu braço. Eu, no entanto permaneci parado. Uma carroça de ferro preto foi empurrada para fora da lona, parecia com a que meu pai usou para recolher vampiros durante o cerco de Mystic Falls. Ela parou e o condutor saltou. De imediato cinco homens corpulentos correram com estacas. Depois que estavam a postos, o condutor destrancou a traseira da carroça. O cheiro de verbena pairou no ar, fazendo minhas articulações doerem.

Damon.

-E aqui está o seu vampiro - disse Callie com a boca numa linha firme enquanto cinco homens arrastavam Damon do fundo da carroça. Um brutamontes, com a camisa manchada de suor e mangas enroladas, mantinha uma estaca firmemente posicionada sobre o coração de Damon.

-Calma, calma, Jasper! Precisamos dele vivo antes da luta! - gritou Callie num tom incisivo. Damon se virou, mostrando-os dentes para nós. Vi em seus olhos uma surpresa que rapidamente se transformou em desdém.

-Meu maninho, o bom samaritano - sussurou ele, mal movendo o queixo. Por sorte, disse isso tão baixo que apenas eu pude ouvir.

A voz dele provocou tremor em meu corpo, Callie tombou a cabeça de lado e percebi o risco de Damom e eu ficarmos tão próximos. Será que o ressentimento o faria me chamar de parceiro domoniaco?

-Tem certeza de que não posso ajudar com o vampiro? - perguntei a ela.

-Você ouviu meu pai. Vamos começar pela bilheteria. E se alguém tentar entrar sem pagar, deixe que Buck cuide dele -disse ela, gesticulando para o brutamontes que estava a vários passos atrás dela, como uma sombra dilatada.

Havia uma comoção na frente da lona. Callie soltou um assovio ao nos aproximarmos. A aba da abertura da frente estava bem fechada e uma massa de gente cercava uma bilheteria de madeira. Alguns, vestidos de calças surradas e com as mãos sujas de terra, vinham claramente da favela que cercava o lago. Mas outros vestiam suas melhores roupas: homens de cartola e fraques de seda, mulheres com chapéus adornados com plumas e vestidos de seda, com estolas de pele caindo pelo colo.

Callie se virou para mim com um brilho nos olhos.

-Nunca tivemos tanto movimento. Papai vai ficar tão feliz! -disse ela batendo palmas - Agora vá ajudar Buck - ordenou ela antes de contornar a lona correndo.

Postei-me na cabine de madeira á entrada, procurando ouvir Damon. Mas meus ouvidos se encheram de trechos de conversas humanas.

"Apostei cem dólares no leão-da-montanha"

"Não, o vampiro. Os monstros sempre vencem os animais selvagens"

"Eu disse a esta moça bonita aqui que ela me deve um beijo se o animal vencer", soluçou um homem, evidentemente bêbado

Cerrei os dentes, querendo partir para o ataque, morder cada um deles, dar-lhes uma lição. Mas lembrei-me das palavras de Lexi sobre vingança. Matar esses homens não ajudará Damon.

A mão de alguém se fechou no meu ombro. Girei o corpo pronto para mostrar os dentes.

Era Gallagher, como o rosto corado de empolgação.

-Temos de pôr as mãos á obra, filho! A luta vai começar logo, e quando mais gente colocarmos para dentro, maior o lucro. - Ele saltou em uma caixa de maçãs virada para baixo na frente da entrada.

-Venham, meus amigos! Sejam bem-vindos a meu espetáculo de excentricidades! Vejam a mulher mais feia do mundo, maravilham-se com o homem mais forte do mundo! Mas isto é apenas aquecimento. Por que está noite teremos uma batalha majestosa, como jamais se viu. O monstro contra o animal selvagem. Quem vencerá? E quem quer apostar? Porque esta é uma morte que trará riqueza a alguns.

A multidão se espremeu mais em volta de mim, como um exame de insetos famintos.

Gallagher sorriu pra mim.

-Deixe-os entrar e recolha as apostas.

E assim estendi a mão, coletando moedas e cédulas laranja, o tempo todo resistindo ao impulso de quebrar o pescoço daquelas pessoas com a facilidade com que eu quebraria um galho de árvore e beber o fluido que continham.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now