→23

410 19 0
                                    

9 de outubro de 1864

Eu não devia ter coração. Uma bala o atravessou quase três semanas atrás e nenhum sangue meu jamais será bombeado por ele de novo. O único sangue que agora corre por minhas veias é o daqueles que venho a atacar. E, no entanto, algo em Callie leva meu coração morto a palpitar e o sangue roubado a se acelerar em meu corpo.

Será real? Ou mera lembrança do meu passado? Damon certa vez me disse que os rapazes que sofriam amputações no campo de batalha ainda despertavam com uma dor agonizante nas pernas ou gritavam pela mão que doía, embora esses membros não mais fizessem parte deles. Mas enquanto esses rapazes tinham membros fantasmas, parece que tenho um coração fantasma.

Em meu pouco em Nova Orleans, aprendi sobre meu Poder. É o que tem me guiado, o que me fortalece, o que me torna vampiro. Mas não é o único poder que possuo. O outro tipo não é estimulante, nem emocionante ou perigoso. É banal e tedioso - o exercício de controlar meu Poder. Aprendi a reprimir meus impulsos para me adaptar e continuar com Lexi.

Mas quando estava com Callie no espetáculo, foi como se meus dois poderes estivessem em conflito, um ameaçando destruir o outro numa batalhar particular dentro de meu cérebro.

Agora ela está constantemente em meus pensamentos. A constelação de sardas em sua pele. Os cílios longos. O sorriso vibrante. Não consigo deixar de admirar a habilidade que ela tem com o próprio poder. Como controla a atenção e o respeito dos empregados do pai, mas também como fica meiga perto de mim, aconchegando-se quando acha que ninguém está olhando.

Creio que minha mão se entrelaçou na dela.

E sempre que uma imagem de Callie flutua por minha consciência, amaldiçoo a mim mesmo. Eu devia ser mais forte do que isto. Não devia pensar nela. Devia tirá-la da cabeça, anulá-la, considerá-la uma garotinha tola que tem sorte por eu permitir que viva.

Mas no fundo, apesar de meu Poder, sei que Callie tem controle sobre mim - e sobre meu coração fantasma.

Na manhã seguinte voltei ao circo com uma única coisa em mente: Libertar Damon.

-Olá amigo! - cumprimentou-me Arnold, o homem forte, enquanto atravessei o portão em direção á área da feira.

-Olá murmurei.

A mulher tatuada apareceu por trás dele e me olhou interrogativamente. Sem os desenhos indianos pelo corpo, ela eera bem bonita, as maçãs do rosto salientes e os olhos grandes e curiosos.

-O que está fazendo aqui?

Grunhi em resposta.

-Terá de se desculpar com Callie - Ela apontou para a lateral da tenda.

Então Callie já contou aos amigos sobre nossa noite desastrosa. Justo que eu temia. Contornei a lona até ver Callie ajoelhada sobre uma tábua de bétula. A tinta sujava seu macação e o cabelo ruivo estava torcido no alto e preso por um único pincel fino de longo. A placa dizia:

UM PENNY, UMA ESPIADA: UM VAMPIRO REAL, VIVO E FAMINTO ENTRE SE TIVER CORAGEM!

Abaixo, o desenho rudimentar de um vampiro presas alongadas, olhos semicerrados, o sangue pingando pela boca. As feições eram de Damon, mas estava claro que Callie tivera uma significativa inspiração da paródia anterior.

Callie levantou a cabeça, encontrando meu olhar. A boca se abriu e ela deixou cair o pincel sobre a tela. Uma grande mancha preta apareceu no rosto de Damon.

-Veja o que fiz por sua culpa - disse ela, furiosa.

Enfiei as mãos nos bolsos, farejando o ar sutilmente, procurando rastros de Damon.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora